Edson Sardinha |
A paralisia da semana passada começou a dar lugar a ânimos mais acirrados na Câmara. Os líderes do governo e do PFL trocaram acusações a respeito da responsabilidade pelo fracasso na votação das sete medidas provisórias que há duas semanas obstruem a pauta da Casa. Só os deputados deixaram de realizar onze atividades regulares. Depois que o Congresso em Foco mostrou que cerca de 80% dos deputados que faltaram às duas sessões deliberativas anteriores ao feriado de 21 de abril pertencem à base aliada, o líder do PFL, deputado José Carlos Aleluia (BA), partiu para o ataque. Segundo ele, o índice revela a desarticulação do bloco governista e a falta de compromisso dos partidos com as votações. Ao atacar o Planalto, Aleluia não poupou antigos aliados, como o PP, o PTB e o PMDB, que, há pouco mais de um ano, estavam ao lado do PFL na base de sustentação do governo Fernando Henrique Cardoso. “O clima hoje é muito ruim para o governo, que conta com uma base fisiológica e esfacelada no Congresso”, disse. Publicidade
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A resposta dos governistas veio curta e direta. “Não consigo discutir esse assunto com o Aleluia, porque ele é pós-graduado em fisiologismo”, reagiu o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), por meio de sua assessoria. A animosidade atingiu até o dividido PDT, que, na Câmara, ainda não se desligou do bloco governista. “A oposição foi a responsável pela não votação das medidas provisórias. Ela é que está chantageando o governo”, afirmou o líder do partido na Casa, deputado Dr. Hélio (SP). PublicidadeProcurados pela reportagem, os demais líderes partidários não retornaram os recados deixados com suas assessorias. A sessão não-deliberativa manteve a Câmara ontem. Às 17h50, por exemplo, o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) discursava apenas para o presidente da sessão, Luiz Couto (PT-PB). Hoje, o líder do governo na Câmara discute no Palácio do Planalto a estratégia para os próximos dias. O principal assunto da reunião será o valor do novo salário mínimo. A indefinição quanto ao reajuste tem causado dor de cabeça à base governista, que enfrenta resistências internas. PMDB, PTB e PV, por exemplo, querem uma proposta mais ousada da parte do governo e ameaçam obstruir as votações. O líder pefelista já avisou que o partido vai se manter em obstrução durante toda a semana, até que o governo reveja o reajuste do salário mínimo. “O governo não conseguiu votar nada semana passada por causa de sua base. Se não rever o mínimo, esta semana será a mesma coisa, nós continuaremos em obstrução”, disse Aleluia. Em meio a toda a polêmica, os líderes do PFL e do governo só concordam em um ponto: o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), está certo ao descontar o salário dos faltosos. “Não se pode transferir para ele a responsabilidade no fracasso da votação”, disse o pefelista. Só devem ser perdoados aqueles que estavam em missão oficial e os que apresentarem atestado médico. |
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