Laís Garcia |
Quem analisa o registro de presenças de Jader Barbalho (PMDB-PA) na Câmara dos Deputados pode até achar que ele esqueceu que é deputado federal. Em dois anos e meio de mandato, Jader não proferiu nenhum discurso em plenário e apresentou apenas uma proposição legislativa: o requerimento de criação de uma subcomissão especial para acompanhar a execução orçamentária do Ministério da Ciência e Tecnologia. O modesto desempenho soa estranho para um político com o seu cacife: Jader foi duas vezes governador do estado, três vezes deputado federal e uma vez senador, quando inclusive chegou a presidir o Senado. Renunciou ao mandato de senador em outubro de 2001, depois do escândalo que quase lhe custou a cassação e perda de direitos políticos. Para disputar a presidência do Senado, Jader desafiou Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Levou a melhor, elegendo-se presidente. Mas, em seguida, viu seu nome ser fortemente golpeado por várias denúncias, muitas delas espalhadas aos quatro ventos pelo próprio ACM. As acusações iam de fraudes em operações com Títulos da Dívida Agrária (TDAs) a desvio de recursos da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e do Banco do Estado do Pará (Banpará). Publicidade
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Em fevereiro de 2002, chegou a ser preso devido ao envolvimento nas fraudes da Sudam, mas foi solto logo em seguida. Depois do episódio, tratou de tomar chá de sumiço, pelo menos do cenário nacional, já que não foi esquecido pela sua base eleitoral no Pará. Nas eleições de 2003, foi o deputado federal mais votado do estado e se elegeu com mais de 344 mil votos. Muito à frente do segundo deputado mais votado, Wladimir Costa, também do PMDB, eleito com 162.325 votos. Após voltar ao Congresso, agora como deputado, Jader passou a limitar sua atuação aos bastidores. “A estratégia dele é ficar no subterrâneo”, acredita o deputado Babá (Psol-PA), tradicional adversário de Jader na política paraense. “Só está em Brasília de vez em quando. Se há alguma votação de interesse do governo, ele vem, entra despercebido, faz a articulação e sai”, conta Babá. PublicidadeEntre os mais faltosos Os dados fornecidos pela Câmara provam que o sumiço de Jader não é intriga da oposição. Em sessões deliberativas, ele é um dos dez deputados mais ausentes da Casa: só compareceu a 51,9% das sessões. Nas comissões, a presença dele só aumentou quando assumiu, em março deste ano, a presidência da Comissão de Ciência e Tecnologia, uma das mais disputadas da Câmara. Antes, em 2003 e 2004, a média de presença de Jader nas comissões era de 11,45%. Seu desaparecimento é tal que até aliados políticos desconhecem o que Jader anda fazendo. “Não acompanho a vida dele”, afirma o deputado Wladimir Costa, radialista e ex-funcionário de uma das seis concessões de rádio da família Barbalho no Pará. Segundo Wladimir, a atuação da bancada do PMDB do estado – que conta com mais três deputados, além de Jader e Wladimir – costuma ser bastante independente. Há quem defenda a tese de que sua época de ouro já passou. Prova disso seria o fracasso de Jader como negociador na eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro. Jader, como aliado do governo, tinha como missão conquistar votos para o candidato do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT- SP). Naquela que foi uma das piores derrotas do governo Lula no Congresso, Greenhalgh terminou sendo derrotado, como se sabe, por Severino Cavalcanti (PP-PE). Mas até mesmo os adversários sustentam que Jader ainda é um político extremamente forte nos bastidores. Não por acaso, ele ficou entre os 100 parlamentares mais influentes do Congresso na mais recente lista divulgada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Jader mantém ainda prestígio entre os paraenses. Empresta o nome a um dos bairros do município de Ananindeua, um dos mais populosos da área metropolitana de Belém, com 370 mil habitantes. Jaderlândia, como é chamado, foi batizado assim em homenagem ao deputado e parece que deu sorte para a carreira política da família. No ano passado, Hélder Barbalho, o filho mais velho de Jader, foi eleito prefeito de Ananindeua. A presença da família na política não pára por aí. A ex-mulher, Elcione Barbalho, é vereadora em Belém e provavelmente concorrerá ao Senado nas próximas eleições. Também há quem acredite que o outro filho do casal, Jader Filho – que hoje se ocupa da diretoria do jornal Diário de Belém, também de propriedade da família Barbalho – vai concorrer a deputado estadual. Outro representante do clã no poder é o deputado federal José Priante (PMDB-PA), primo de Jader. |
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