George Hilton *
Em audiência pública realizada recentemente na Comissão de Educação, da Câmara dos Deputados, um dos palestrantes, o professor-doutor Bráulio Porto, da Faculdade de Educação da UnB, mostrou que as faculdades de Educação desperdiçam o precioso tempo dos estudantes, doutrinando ideologicamente os futuros professores.
O mesmo assunto também foi tratado em matéria publicada recentemente em revista de grande circulação nacional. A entrevista foi feita com Cláudio Haddad, doutor em Economia pela Universidade de Chicago e Presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Após a leitura, fiquei com a impressão de que a concepção de educação, no Brasil, tem um fundamento errado: o sistema educacional daria muita ênfase às ideologias, deixando de lado conhecimentos objetivos que abririam os caminhos das crianças no futuro.
Cláudio Haddad declara que as provas do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) não medem o conhecimento dos estudantes, mas o grau de doutrinação a que eles foram submetidos nas instituições de ensino. Doutrinar significa moldar coletivamente um comportamento, segundo as bases de um sistema. Ao amarrar coletivamente os alunos ao sistema de pensamentos, a doutrinação nas escolas atua exatamente ao contrário da meta propalada pela educação brasileira. Escutamos que o objetivo educacional é formar cidadãos. Mas como pode formar cidadãos, se, ao mesmo tempo, procura se fabricar a uniformidade de pensamento?
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Haddad relata que resolveu fazer a prova do Enade para saber por que a média dos seus alunos não fora tão bem como ele esperava. Resolveu então avaliar o exame. Ele fez a prova duas vezes. Na primeira vez, respondeu as questões à luz dos fatos e dos conhecimentos objetivos que adquiriu ao longo da vida de estudos. Acertou a metade. Na outra, respondeu segundo a ideologia que acreditava que a banca professava. Errou apenas uma.
A conclusão a que ele chegou sobre as causas dos problemas coincidiu, mais uma vez, com a apresentação do professor Bráulio Porto na nossa audiência pública, no final do ano passado. Cláudio Haddad deixa claro que a origem das distorções no Enade se origina pelo modo torto que a maioria dos nossos educadores vê o mundo. Eles são impregnados com uma ideologia antiempresa, antilucro já nas faculdades de Pedagogia.
Na nossa audiência pública, o professor Bráulio demonstrou como a ideologia está presente na maior parte das provas do Enade, dos cursos de Pedagogia. Disse que 73% das questões estão relacionadas com fundamentos gerais e temas transversais e que apenas 12% das questões medem o quanto os formandos sabem de metodologia de ensino e dos conteúdos a serem ensinados às crianças e aos jovens nos ensinos fundamental e médio.
Embora a metodologia do Enade não seja confiável, ele disse que a prova está bem de acordo com o que é ensinado na graduação. A grade curricular de um curso de Pedagogia tem grande quantidade de disciplinas sobre fundamentos gerais e temas transversais. E é nos temas transversais que se encontra o forte viés ideológico.
A consequência desse ensino ideologizado e doutrinador é a formação de uma cultura de radicalização. Há tantas décadas se fala em educação. Temos o vício histórico de mudar tudo para tudo continuar do mesmo jeito. Falam em melhorar a merenda; em formar para a cidadania, como está claro agora no Plano Nacional de Educação (PNE), mas não se discute em como melhorar o conhecimento objetivo.
Nunca discutimos o que temos que fazer para os jovens não separarem o sujeito do predicado com vírgula quando escreverem uma frase; nunca procuramos saber qual é a melhor metodologia para que os alunos pobres não tenham dúvidas de como se resolve uma raiz quadrada.
Enquanto o Parlamento apenas debater se introduz mais ou menos ideologia na grade escolar, os nossos competidores continuarão nos superando em inovação e em produtividade; e o Brasil continuará deitado em berço esplêndido, esperando o futuro.
*É deputado federal por Minas Gerais e líder do PRB na Câmara.
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