Dois fatos da semana mexeram com os ânimos de políticos que estão com a cabeça em 2026. O primeiro, os detalhes do relatório da Polícia Federal que escancaram as provas contra Jair Bolsonaro no comando da trama golpista para impedir a posse de Lula. O segundo, a imagem do ministro Fernando Haddad, em rede nacional, anunciando medidas fiscais, com música de fundo, num misto de solenidade e tom de campanha eleitoral.
Bolsonaro está fora do jogo, inelegível até 2030, e irremediavelmente comprometido com a tentativa de golpe, afirmam políticos experientes. E o fato de Haddad, e não Lula, ter apresentado o pacote foi lido na capital como indício da possibilidade de o presidente ficar fora das urnas em 2026. Esse cenário estimula na centro-direita conversas sobre as alternativas para a disputa presidencial — mas não há aventura sem risco.
Se uma eventual decisão de Lula de não concorrer anima a oposição, a sombra de Bolsonaro é um fator desencorajador, porque o ex-presidente teria condições de atrapalhar uma candidatura. Seja como aliado, numa proximidade tóxica, ou seja como opositor.
Esse cenário pode levar o governador Tarcísio de Freitas a optar pela reeleição no estado, deixando a ideia de tentar chegar ao Planalto para 2030. Até lá, estima-se que Bolsonaro terá somado períodos de inelegibilidade. Restará a Tarcísio convencer o eleitor sobre a equidistância do seu padrinho político. Até aqui, não tem feito muito esforço.
Outros concorrem nessa mesma raia. O governador goiano Ronaldo Caiado parece resolvido a encarnar a oposição a Lula ou eventual representante. Há, também, o governador Ratinho, do Paraná, e a senadora Teresa Cristina, do Mato Grosso do Sul.
Dias atrás, Lula disse à jornalista Christiane Amanpour, da CNN americana, esperar que “não seja necessário” candidatar-se para enfrentar a extrema direita novamente. “Espero que a gente tenha outros candidatos e que possa fazer uma grande renovação política no país e no mundo”, afirmou. Pessoas próximas ao presidente contam que o acidente doméstico que teve semanas atrás o deixou emocionalmente abalado e reflexivo sobre uma nova candidatura. Ele mesmo classificou como grave o tombo que causou-lhe um corte na nuca e o levou a ter de adiar compromissos.
Haddad fez questão de dizer que fez o pronunciamento na noite de quarta-feira, em cadeia nacional, a pedido do presidente. Na TV, enumerou os feitos da gestão, ressaltou o crescimento da economia e enquadrou o pacote numa moldura de justiça social. Ensaiou um slogan, “Brasil equilibrado e justo”, numa alusão à tentativa de ajustar as contas públicas. Até 2026, o sucesso — ou fracasso — do esforço fiscal e a decisão de Lula sobre seu futuro vão guiar a política e as decisões econômicas.
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