A internet é tão dinâmica que muitas vezes tenho dúvidas se devo ou não escrever sobre determinados temas para jornais. A dúvida é ainda maior quando escrevo para algum blog ou site. Nunca sei se aquilo que estou escrevendo já foi comentado pelo próprio jornal, ou blog, ou site, e se a maioria dos leitores e leitoras já não sabia do assunto antes de eu escrever. De qualquer maneira, ao escrever sobre qualquer tema, ao menos mostro o que penso a respeito, ou, veja a pretensão, coloco algumas pessoas para pensar.
Feita essa observação, comento o caso da paquistanesa Malala Yousafzai, que, após ser vítima de um atentado, conseguiu sobreviver e pode a partir de seu drama pessoal mudar o mundo. Se ela não mudá-lo, pelo menos vai contribuir para transformar uma parte importante dele e da concepção de mundo do gênero masculino: a visão masculina/machista de que a mulher não pode estudar e que deve continuar subserviente.
Malala Yousafzai é uma das jovens garotas que voltavam de uma escola no Paquistão quando o ônibus escolar que as conduziam foi bombardeado por terroristas. Catorze dessas garotas foram queimadas vivas. As sobreviventes foram levadas para um hospital, onde outra bomba explodiu. Malala sobreviveu a ambas as ações terroristas e teve a ousadia de iniciar uma campanha pelo direito das meninas, como ela, poderem, no Paquistão, estudar. Terem o direito de frequentar uma escola. Por essa ousadia, no ano passado (09/10/2012), levou um tiro na cabeça.
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Como resultado de uma campanha mundial para salvá-la, Malala foi levada à Inglaterra, onde recebeu tratamento médico hospitalar. Salva, continua com a campanha para que as garotas tenham direito a educação, agora não só no Paquistão, mas em todo o mundo.
Na última sexta-feira (12), no dia em que completou 16 anos, Malala falou na ONU e propôs uma nova meta educacional para o mundo: colocar todas as crianças na escola. De seu discurso, destaco duas frases. A primeira: “Vamos pegar nossos livros e canetas, elas são nossas armas mais poderosas”. Malala Yousafzai mostra que há algo mais poderoso que armas de fogo: a educação. Mostra isso não só ao Talibã, mas também aos Estados Unidos e a Israel (estados terroristas). Ambos preferem as armas aos livros e canetas.
A segunda frase vai no mesmo sentido: “Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo”. E é justamente isto que os donos (governos e empresas) do mundo e da verdade absoluta temem: que o mundo seja mudado.
O discurso de Malala na ONU mostra que os tiros que constroem o medo, o silêncio e a morte foram derrotados. O Talibã tentou silenciar uma criança e dessa tentativa nasceu um coral com milhares de vozes clamando pela educação e pela paz.
Malala Yousafzai vive hoje em Birmingham, Inglaterra onde recebeu o tratamento médico e voltou a estudar. Durante sua recuperação, foi constituído um fundo financeiro para ajudar meninas paquistanesas a estudar. Os primeiros recursos deste fundo, 45 mil dólares, foram usados para financiar os estudos de 40 meninas, entre os cinco e os 12 anos de idade, que vivem no Vale de Swat, a região no Paquistão onde nasceu e vivia Malala. Na ocasião em que anunciou a primeira doação, Malala disse: “Permitam-nos que passemos da educação de 40 para 40 milhões de meninas”.
Precisa-se de recursos para atender mais do que 40 milhões de crianças. Segundo a Plan International, em todo o mundo cerca de 57 milhões de crianças em idade escolar estão fora da escola, sendo mais da metade, 30 milhões, meninas. Não podem ir para a escola devido à pobreza, violência e discriminação. Segundo a ONU, mais de 120 milhões de jovens entre 15 e 24 anos não têm habilidades básicas de leitura e escrita.
O Paquistão está entre os países de maior índice de meninas analfabetas. Recentemente o governo do país afirmou que colocará todas as garotas na escola.
O pedido de Malala pode ser realizado, desde que governos e grandes empresários decidam a fazer. Aliás, não precisa nem dos grandes empresários. Basta os governos quererem, pois segundo estudiosos do setor, o custo para atingir essa meta é o mesmo necessário para construir duas usinas nucleares.
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