Emanuel Medeiros Vieira *
“É uma barbárie como eu nunca havia visto”, disse Maria Laura Canineu, diretora do Humans Right Watch Brasil, sobre o vídeo em que presos do complexo presidiário de Pedrinhas, no Maranhão, comemoram a decapitação de detentos rivais.
O Conselho Nacional de Justiça, várias entidades nacionais e órgãos internacionais como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos, têm solicitado providências urgentes.
Não é novidade.
Mas mesmo para os parâmetros “aceitos” no Brasil, o que ocorre no Maranhão é demasiado!
Horror! Estaremos tão anestesiados, tão entorpecidos, tão resignados?
Será a vitória completa do individualismo?
Mais de 62 presos foram mortos desde o ano passado, resultado de brigas entre grupos rivais, além do estupro de mulheres que visitavam os presídios.
A governadora Roseana Sarney ficou indignada – ao que parece – com a divulgação do vídeo sobre a barbárie e não com a selvageria em si.
A renda per capita do Maranhão, de R$360, é a pior do Brasil; 96% de seus domicílios não têm acesso adequado à rede de saneamento básico; mais de um quinto de sua população com 15 anos ou mais não saber ler ou escrever.
(Enquanto isso, a governadora iria comprar 80 quilos de lagosta fresca, uma tonelada e meia de camarão e oito sabores de sorvete para abastecer a sua residência oficial e a sua casa de praia Desistiu, porque o plano foi descoberto.)
Em qualquer país civilizado, haveria intervenção no presídio.
Mais que isso: intervenção federal no Estado.
O clã Sarney infelicita o Maranhão há meio século.
Repito a indagação: estaremos todos tão entorpecidos, anestesiados, resignados?
Não haverá intervenção: a governadora é da base aliada. A presidente precisa do seu apoio para a reeleição.
O problema das masmorras medievais não começou hoje, eu sei. Atravessa a nossa história.
Nos anos do reinado do príncipe FHC – o “Patriarca da Dependência”– também não foi feito nada, além da venda do Brasil na bacia das almas e a compra de votos para a sua reeleição.
Mas uma barbaridade não justifica outra.
Horror, horror, horror – repito.
Como resgataremos o mínimo de humano – algum valor civilizatório?
* Emanuel Medeiros Vieira, professor, jornalista e escritor, também já atuou como crítico de cinema e editor. Autor de 23 livros publicados, é detentor de vários prêmios literários nacionais.
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