Escrevo no escuro. Essas linhas nascem antes que eu saiba o placar final da votação do impeachment. Na Comissão Processante foram 38 votos contra 27 a favor do impedimento da presidente Dilma. Pelo andar da carruagem durante a semana, e pelos levantamentos de bastidor, arrisco o palpite de que teremos mais de 360 votos a favor da abertura do processo. Mas em política tudo é possível. Como alertou a velha raposa, a política é como as nuvens, as formas variam em espaços curtos de tempo ao sabor dos ventos conjunturais. Mas acho improvável que o resultado de ontem tenha confirmado a permanência de Dilma Rousseff.
O processo de impeachment não é indolor, corriqueiro ou desejável. Mas Dilma e o PT estão sendo afastados pelo conjunto de uma obra desastrosa. E é preciso rebater de pronto a narrativa que vem sendo construída pelo PT e aliados em busca de uma vitimização sem sentido, da caracterização de um suposto golpe ilegal e da defesa da democracia falsamente ameaçada. A legalidade e a constitucionalidade do processo de impeachment já foram atestadas por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e por juristas renomados.
Em primeiro lugar, crimes houve em abundância. O impeachment é um instrumento constitucional de controle social sobre o poder da Presidência da República. Nenhuma maioria conquistada nas urnas autoriza o mandatário transgredir leis fiscais, obstruir a Justiça, acobertar a corrupção e varrer para baixo do tapete o maior escândalo da nossa história. Some-se a isso a maior recessão desde 1930 determinando o crescimento do desemprego e o pífio desempenho da economia. A popularidade no chão reflete a decepção da população com o verdadeiro estelionato eleitoral praticado. Tudo que foi dito na campanha foi desmentido pelos atos do Governo. Com o avanço da Lava Jato se evidenciam dia após dia crimes eleitorais cometidos num verdadeiro festival de abuso do poder e de financiamento ilegal.
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Se Dilma venceu ontem, o que não acredito, foi uma vitória de Pirro, será uma tragédia. A presidente não terá condições de liderar o país. A crise vai se agravar, começando por uma total falta de apoio no Congresso Nacional.
Se o impeachment passar, o Senado certamente afastará a presidente em cerca de dez dias e instalará o julgamento. Michel Temer terá que ter serenidade, sabedoria e ousadia para fazer um governo notável em sua composição e corajoso em suas atitudes. Não será fácil corrigir os rumos da economia, ganhar legitimidade pelo desempenho e conciliar a grande e a pequena política.
O PSDB não é o beneficiário do impeachment. Não era o caminho que gostaríamos de trilhar. Mas se tornou uma necessidade histórica. Não queremos cargos, queremos uma agenda de desenvolvimento para o país e um programa emergencial para superação da crise.
E que consigamos superar este grave momento marcado pela intolerância, pelo sectarismo e pela corrupção, e recuperar a esperança roubada de nosso povo.
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