Pedron esteve no Fórum Social Mundial realizado no Quênia, em 2007, e fez uma série de fotos. A partir delas, foi publicado um livro, no qual tive a honra de escrever a apresentação.
Uma foto é muito mais do que uma pose e um clique, ela pode mostrar uma realidade indescritível à palavra, pode ser símbolo de alguma luta, conquista ou perda. Pode carregar a alegria ou a tristeza de momentos. Pode representar uma cultura. Pode ser muito mais.
A foto não é só resultado do ato mecânico de apertar um botão. Tampouco é só o resultado da pose de quem está diante da câmara. A foto tampouco é só resultado do ângulo que o fotógrafo toma ou da luminosidade do ambiente. A foto é tudo isto e muito mais. Feita a foto, ela é vista e interpretada, portanto, ganha outra condição, a de quem vai vê-la. E quem vai vê-la é portador de uma cultura e de uma intenção.
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A intenção do fotografado e do fotógrafo pode não ser a interpretada por quem vai ver. Dou um exemplo: durante o carnaval, uma foto circulou na internet. A foto mostrava uma criança (Mateus) feliz nos ombros do seu pai, igualmente feliz.
A foto me foi apresentada pela minha mulher e imediatamente pensei: “que legal, uma família feliz e se divertindo juntos”. Em seguida a apresentação, veio à pergunta: “você leu os comentários?”. Não, não tinha lido os comentários, simplesmente tinha gostado da foto.
Em seguida fui lê-los. Minha ignorância sobre lendas é tamanha que só mais tarde fui saber que a família estava fantasiada de Aladim, Jasmine e o filho de Abu, o macaquinho que acompanha o Aladim.
Não comentarei os comentários (feio, né? A minha frase e muitos dos comentários que li) gerados a partir da foto, até por que muitos já o fizeram com qualidade e capacidade de análise, como o texto “Próxima vítima? Por aqui, por favor!”, de Jari Rocha.
A segunda foto que comento é mais simbólica. Aliás, não é bem uma foto, é um desenho, a partir de fotos, mas não deixa de ter sua simbologia. É a ‘foto’ que está no site da campanha para coletar assinaturas para mudar a lei de combate à corrupção.
A ‘foto’ retrata três personagens da Operação Lava Jato: na frente, o juiz Sérgio Moro. Ao seu lado esquerdo, de perfil, o procurador Deltan Dallagnol. Do outro lado, também de perfil, o agente da Polícia Federal Newton Ishi.
Esta ‘foto’ é o símbolo do que acriticamente a mídia criou e os midiotas aceitaram. Posam como heróis de combate à corrupção. Todos desta foto merecem comentários sobre o comportamento e os exemplos (bons e maus) que estão dando.
Combater a corrupção é um bom exemplo, desrespeitar a lei é um mau exemplo e isto está presente no Lava Jato. Mau exemplo: obter provas de maneira ilegal como foram obtidas na Suíça e vazar informações sobre processos que correm em segredo de Justiça.
Mas um dos ‘heróis’ da ‘foto’, o agente da PF, Newton Ishii, tornou-se a cara da Polícia Federal. Ishii responde processo por corrupção, formação de quadrilha e facilitação de contrabando e descaminho. Ele já foi condenado por corrupção e expulso da PF. Expulsão que foi revertida judicialmente por uma questão técnica, e não por provar a inocência.
Há que se ter em conta que a foto é mais do que um clique, é mais do que a mídia mostra, é mais que a intenção do fotógrafo e do fotografado. É também a cultura de ambos os lados, dos que divulgam e de quem vê a foto.
E para quem vê, principalmente no caso, é importante a informação: quem são os fotografados.
Ao comentar a ‘foto’, temos a oportunidade de cobrar sobre a mesma: (1) O que tem a PF (corporação séria) a dizer sobre isto? (2) Por que o Judiciário é lento neste caso (Newton Ishii) específico? (3) Como o Ministério Público Federal e o juiz Sérgio Moro explicam o fato de que a imagem símbolo da coleta de assinaturas para um projeto de lei contra a corrupção ter a cara de um condenado por corrupção?
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