Luiz Aparecido *
Basta ver os noticiários na TV, ouvir as emissoras de rádio ou ler os jornais ou sites da internet, para sentir como a violência na sociedade brasileira aumenta e está impregnada em todas as camadas da população. Já não é mais sequer uma doença, mas uma septicemia aguda. E parece não haver política pública de segurança ou mobilização social que dê jeito.
Os últimos acontecimentos do Rio de Janeiro mostram a chaga de forma assustadora. Em guerra aberta de traficantes e policiais, a população civil das áreas conflagradas é quem mais sofre. Mais de 40 mortes numa semana de conflitos, muitos deles vítimas de balas perdidas. O povo trabalhador, que é a maioria da população dessas áreas, sofre em meio aos tiroteios e ainda é tratado como suspeito pelas forças de segurança. A guerra atinge a todos nos morros e favelas, e afeta também a classe média e até mesmo, os antes intocáveis ricaços que habitam não só o Rio de Janeiro, mas São Paulo, Belo Horizonte e outros grandes e médios centros urbanos.
Nessa guerra fratricida, é a droga o principal combustível dos conflitos. Mas a miséria e o abandono social das populações pobres é outro detonador possante. A história do Brasil mostra, desde o fim da escravidão, como os negros e pobres foram sendo afastados dos centros urbanos e abandonados sem nenhuma política pública de inclusão social. Por décadas a situação só vem piorando, com o aumento da população e a concentração de renda e poder nas mãos de uns poucos, que nunca se preocupam com a distribuição de renda e a justiça social.
Num ambiente desses, a violência e o desprezo pela vida humana se disseminam e atingem setores médios e altos da população. Os parâmetros se diluem, e o discernimento entre o certo e o errado e a disseminação do uso das drogas e do álcool incendeiam a atual onda de violência. Crimes hediondos, dentro de famílias aparentemente estabilizadas, assustam ainda mais o vetor social. Filhos atacam pais em busca de meios para adquirir drogas, famílias se dilaceram em busca de heranças e vinganças pessoais, enfim, um pandemônio infernal assusta todo o tecido social da nação.
Isso, sem contar o mau exemplo dos políticos e das classes dominantes, que como aves de rapina dilapidam o patrimônio publico e desmoralizam os símbolos do Estado e do que seria público. A própria Justiça parece contaminada por esse mal, além de secularmente estar sempre ao lado dos ricos e poderosos. Esses exemplos vão solapando as bases de uma sociedade que deveria ser justa e solidária. Não basta mais a ação governamental. É fundamental o despertar de toda a população para a luta contra a pobreza, as drogas, o tráfico de armas, a corrupção, a violência policial contra trabalhadores, sobretudo pobres e negros, o desperdício acintoso dos ricaços, que aviltam e despertam a ira da sociedade, criando o caldo de cultura da violência generalizada.
Não é hora apenas de tomar consciência da gravidade da situação. Os cidadãos de bem devem ir além. É preciso mobilizar a sociedade civil e exigir do poder público ações concretas contra a violência, a corrupção, e a inação dos poderosos e seus acólitos.
* Jornalista, com passagem por várias redações do país, também atuou como assessor da Câmara dos Deputados e do Ministério da Articulação Política.
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