Fábio Góis
Em um canto do plenário, pouco antes de a Câmara escolher seu novo presidente, Tiririca falou ao Congresso em Foco já como deputado empossado. Tranquilamente, sem a turba de repórteres, servidores e visitantes que, naquele dia, devem tê-lo feito resgatar as lembranças da infância pobre em Itapipoca, cidade onde nasceu há 45 anos, no interior do Ceará.
Alçado à condição de deputado mais votado do país em números absolutos, o palhaço demonstra humildade ao assumir o novo papel. Surpreso com a receptividade no Congresso, diz que precisará da ajuda dos colegas e de muito trabalho para fazer por merecer os 1,3 milhão de votos dirigidos a ele pelos eleitores paulistas.
Recém-operado para retirada da vesícula, o agora congressista pelo PR de São Paulo dava respostas curtas, em tom baixo. E por vezes esboçava um sorriso desanimado que, se não traduzia propriamente alegria ou satisfação, demonstrava o cansaço de quem ficou o dia inteiro sob a mira de flashes e microfones.
Já passava das 22h, e a eleição para a presidência da Câmara já se aproximava do fim, a passos lentos. Antes da abordagem do repórter, a assessoria de imprensa se apressou em dizer por que o deputado volta e meia ficava confinado na sala de lanches anexa ao plenário (o “cafezinho da Câmara”), como este site registrara: o ator Tiririca – é assim que a página oficial da Câmara na internet o registra (confira) – precisava, por recomendações médicas pós-operatórias, alimentar-se a cada três horas.
Esclarecimento feito – e Tiririca assistia atentamente à atuação de seus assessores, como criança sob sermão dos pais –, a entrevista com ares de bate-papo pode então ser feita. Mas sem que tenha sido evitada a interferência de um ou outro que, àquela hora da noite, ainda queria fotos com o intérprete de “Florentina”.
Confira as amenidades da entrevista com Tiririca:
Congresso em Foco – Então quer dizer que o senhor entrou várias vezes no cafezinho, durante todo o dia, porque precisava comer a cada três horas? Comeu bem, então?
Deputado Tiririca: É verdade.
Como foi o primeiro dia como deputado?
Achei bacana, achei legal.
Seus novos colegas o receberam adequadamente, o trataram bem?
Muito bem, foi muito bacana. A recepção foi acima do esperado, eu não esperava isso.
Encontrou com o deputado Romário?
Não encontrei, não conversei com ele.
Topa uma partida de futevôlei com ele aqui em Brasília?
Com certeza, um futebolzinho também.
Deputado, o senador Eduardo Suplicy aceitou uma luta de boxe com o deputado Acelino “Popó” de Freitas (saiba mais). A princípio, o combate está marcado para a quinta-feira (3), às 8h (a entrevista foi feita dois dias antes, na terça-feira, e a luta foi adiada). O senhor vai prestigiá-los?
(risos) Quinta-feira, oito da manhã? (mais risos) Ele chamou (Popó para o desafio), foi?
Chamou… E não só aceitou a luta como disse que ia lutar sério.
Sério?
Sério.
É doido…
O senhor vai ou não assistir à luta?
Vou não. Não quero ver um colega se despedindo, não… (risos)
Mas os dois são profissionais, deputado…
Eu sei, mas… o Popó?
Popó bate forte, não é?
É…
O senhor tem coragem de enfrentá-lo?
Tá doido…
Mudando de assunto, deputado. O que o senhor acha de integrar uma frente parlamentar do humor?
Você acha que funcionaria? Claro… (pausa para orientações da assessoria) Em defesa da cultura popular, aí sim.
O senhor vai propor algo nesse sentido?
Com certeza.
Já registrou seu voto para a presidência da Câmara, deputado?
Já votei.
Vai revelar o voto?
Tranquilo. Marco Maia (PT-RS, eleito presidente da Câmara). Estamos esperando o resultado.
Deputado, na primeira vez em que o senhor veio ao Congresso, em 15 de dezembro, foi um tumulto. Lembro que elogiei sua elegância e perguntei ao senhor onde havia comprado o terno. O senhor disse que havia comprado na semana anterior…
Foi você?
Foi. E uma coisa me intrigou na ocasião. No dia seguinte, um grande jornal mostrava o senhor devolvendo o sapato a alguém que estava entre as dezenas de pessoas ao redor. Mas houve uma versão de que o senhor é que havia deixado o sapato pelo caminho…
Não fui eu, não. Foi um jornalista que perdeu sapato. Acharam, colocaram na minha mão, mas não era meu sapato, não. (“O dele era de amarrar e o do jornalista era modelo esportivo”, esclarece a assessoria.)
O senhor continua elegante, deputado. Vai ser assim daqui em diante?
Com certeza. Aqui, sim. Aqui a conversa é outra.
Deputado, o Congresso em Foco agradece por mais esta entrevista, e deseja ao senhor toda a sorte no mandato, e que o senhor faça por merecer o recorde histórico de votos que recebeu em outubro.
Obrigado, obrigado mesmo. Vamos tentar fazer por merecer. É isso que, se Deus, quiser, e com a ajuda dos colegas – porque uma andorinha só não faz verão – eu quero retribuir os votos que eu tive com muito trabalho. Se Deus quiser.
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