Fábio Góis
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi ao plenário nesta segunda-feira (17) e, sem subir à Mesa Diretora, defendeu-se mais uma vez de denúncias publicadas pela imprensa. Dessa vez, Sarney rebate a notícia veiculada na edição de ontem do jornal O Estado de S. Paulo, segundo a qual a família Sarney teve imóveis pagos por empreiteira em São Paulo. Segundo o jornal, imóveis são usados há três anos por assessores e familiares de Sarney, mas estão registrados no nome da empreiteira Aracati Construções.
Sarney teve imóveis pagos por empreiteira
Sarney iniciou sua fala no ataque, ao contrário do que tem acontecido em seus principais discursos de defesa. “É como grande tristeza que vejo O Estado de S. Paulo hoje, depois de uma decadência financeira que o levou a terceirizar a sua administração, a sua redação, a sua consciência, a sua respeitabilidade”, atacou Sarney, para quem o jornal guarda uma “lembrança do que já foi” porque tem no nome do “Doutor Ruy Mesquita Filho”, filho do fundador do diário, Julio Mesquita, a continuidade do trabalho iniciado pelo pai. “Transformou-se num jornal que, na verdade, passou a ser um tablóide londrino daquele que busca escândalos para vender.”
Sarney voltou a acusar o Estadão de protagonizar uma “campanha midiática” para alçá-lo do poder. E recorreu a um termo peculiar. “Ele [o Estadão] vem se empenhando numa campanha sistemática contra mim, ou adotando uma prática nazista, que era aquela que eles adotavam de acabar com as pessoas, denegrir a sua honra”, disse o senador, agradecendo ao fato de não exisitir “câmara de gás” no Brasil.
Em relação ao objeto da reportagem, Sarney disse que se trata de um apartamento “modesto, de uma sala pequena e dois quartos”. “É um prédio de apartamento de 85 metros quadrados. Comprei o primeiro ali em 1967, ainda em construção, para ali morarem meus filhos que, na época, eram estudantes da Faculdade Politécnica e da Universidade Católica”, disse o peemedebista, acrescentando que seus filhos, mencionados na reportagem, “terão condições de se defender”. “A escritura não foi passada [para o empresário Fernando Sarney, um de seus filhos] porque ainda não foi concluído o pagamento, mas já está no imposto de renda.”
O ex-presidente da República se dirigiu a senadores que, diante da reportagem, exigiram investigações sobre mais esse caso a pesar sobre Sarney – a exemplo do líder do PSDB no Senado, Sérgio Guerra (PE), e do presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Demóstenes Torres (DEM-PE).
“Cabe na cabeça de alguém que uma notícia de jornal cabe investigação?”, indagou Sarney, para quem a Receita Federal, e não o Senado, é que seria o foro adequado para investigar eventuais irregularidades. “Este país rasga a Constituição porque nenhum de nós tem mais direito à privacidade. Não temos lei de imprensa, não temos direito de resposta.”
“Perdoe minha indignação, eu tenho ficado calado durante todo este processo, mas sabe Deus o que tenho sofrido. São essas minhas palavras, eu peço aos senhores senadores que meditem um pouco sobre elas”, concluiu Sarney.
Respostas
Um dos principais críticos da atuação de Sarney à frente do Senado, Alvaro Dias (PSDB-PR) pediu a palavra para defender Sérgio Guerra, que não estava em plenário. “Não é a sua vontade pessoal que o motiva. Ele age institucionalmente. Pedir investigação não é prejulgar”, argumentou Alvaro.
Mas, a despeito da defesa ao colega, o aparte do tucano mostrou um tom conciliador. “Com os esclarecimentos prestados pelo Presidente Sarney, nós não temos por que exigir investigação. A não ser que fatos novos relevantes ocorram a respeito desta questão”, encerrou Alvaro.
Já o tucano Papaleo Paes (AP) saiu em defesa do colega de estado e, como tem feito nos últimos discursos, criticou os supostos excessos da imprensa, dizendo que Sarney e sua família devem ser respeitados. “Nem tudo o que está escrito é realidade”, disse Papaleo, para quem os debates e as investigações de denúncias diversas contra Sarney devem se manter em nível aceitável. “Há a sistematização de uma verdadeira perseguição política ao presidente Sarney. Querem fazer a cassação política. Essa Casa, que já sofreu muitos golpes, não é de golpes.”
Para Pedro Simon (PMDB-RS), “o normal” é que as investigações fiquem mesmo a cargo do Conselho de Ética do Senado, que tem como presidente o aliado de Sarney, Paulo Duque (PMDB-RJ) – responsável pelo arquivamento de todos os pedidos de investigação contra o correligionário.
“A Polícia Federal do presidente Lula é que fez todo o levantamento, toda a investigação, tanto em relação ao fato da Fundação [José Sarney, no Maranhão], quanto ao fato da sobrinha, do neto etc”, disse Simon, para quem “O Estado de S. Paulo é um patrimônio do país”. “Matéria mentirosa? Tomara Deus que seja. Mas e as outras matérias, que vem se repetindo?”
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