Mesmo dentro do PT, conforme relatos, houve certo constrangimento e contrariedade com a decisão do presidente Lula de deslocar Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) para transformá-lo na tal “autoridade federal” para a reconstrução do Rio Grande do Sul. Se tudo na vida é política, Lula resolveu jogar fora, como diria o ex-senador e ex-ministro Jarbas Passarinho, “todos os escrúpulos de consciência” e tornar explícito que o jogo em torno da tragédia gaúcha é político mesmo.
O que algumas alas do PT comentaram desde a decisão esta semana é que a escolha de Pimenta como a tal “autoridade” poderá ser um “tiro no pé” pela absoluta falta de sutileza. Primeiro, porque sutileza nunca foi o forte da ação política de Pimenta. Na verdade, teria sido justamente seu estilo mais “bateu-levou” como deputado que teria feito Lula ter com ela uma dívida de gratidão.
Pimenta é integrante de algo que foi batizado como “Turma de Curitiba”, os petistas que mais se aproximaram de Lula e atuaram em sua defesa durante o período em que o hoje presidente ficou preso na Polícia Federal na capital do Paraná. Nesse período, Pimenta defendeu Lula e bateu de frente com seus adversários, gerando a tal gratidão.
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O problema é que tal característica pode ser agora um complicador numa tarefa que exigirá, na via oposta, a capacidade de diálogo com oposicionistas. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, é do PSDB. O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, do MDB.
Pimenta tem claras pretensões políticas no Rio Grande do Sul. Aliás, uma das críticas que já se fazia a Pimenta é que ele tinha transformado a Secom num Centro de Tradições Gaúchas (CTG), aqueles espaços que há nas cidades onde os gaúchos vão se encontrar para tomar chimarrão. Impressionava o número de prefeitos e políticos gaúchos todos os dias no gabinete e nas antessalas da secretaria no Palácio do Planalto.
Assim, há uma grande possibilidade de o esforço de recuperação do Rio Grande do Sul vire uma espécie de competição entre Pimenta e Eduardo Leite. Um anuncia R$ 5 mil para as famílias. Outro vem em seguida e anuncia R$ 2,5 mil.
Por um lado, isso até pode ser bom para a população desassistida. Desde que, nessa disputa, um não venha a boicotar o outro. Esse é o risco à medida que se aproxima a eleição municipal, que costuma sempre ser uma prévia da próxima disputa nacional.
Pimenta é candidato ao governo do Rio Grande do Sul na sucessão de Eduardo Leite. Já Eduardo Leite é um dos poucos nomes que sobraram no minguado PSDB como possível opção de candidatura à Presidência.
No meio dessa briga, pessoas desamparadas, desabrigadas, desassistidas. Elas até podem ficar gratas com os auxílios que vierem a receber. E até podem retribuir essa gratidão com votos. Desde que, porém, não se ultrapasse nessa busca pragmática pelo reconhecimento eleitoral o bom senso. É o limite que separa a cantada do estupro.
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