Istoé
No poder, o PT se mostrou igual aos demais
Presidente do TSE diz que não há diferença ideológica entre partidos, teme que comportamento mais brando do tribunal nas eleições estimule a ilegalidade e afirma que o Judiciário deve fazer o que o Legislativo não faz
No comando da Justiça Eleitoral pela terceira vez, o ministro do STF Marco Aurélio Mello sempre defendeu que o Judiciário ocupe as brechas deixadas pelo Legislativo. É o que costuma chamar de “protagonismo do Judiciário”. No próximo ano, o ministro promete lutar para que o TSE desempenhe esse papel nas eleições de outubro. Como terá de deixar o tribunal antes do pleito, iniciou uma campanha aberta pela atuação ativa do TSE nas ações eleitorais.
Em entrevista à ISTOÉ, Marco Aurélio mostrou-se preocupado com a possibilidade de os ministros do TSE aliviarem as punições a políticos. Segundo ele, a partir de maio, o tribunal será formado majoritariamente por juízes favoráveis ao mínimo de atuação judicial. “Há um risco real de que isso aconteça e não será nada bom no combate à impunidade.” Sobre o uso da urna eletrônica nas eleições, o ministro diz que foi um grande avanço e tem evitado dúvidas e impugnações, apesar dos temores em relação à segurança.
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“Ainda há um ranço sobre a segurança da urna, mas a máquina é algo objetivo e ficou claro que é a melhor opção.” Ele defende que o TSE tenha um quadro fixo de integrantes. Hoje, os ministros da corte servem a dois tribunais. Marco Aurélio também falou a respeito do financiamento de campanhas, tema que está na pauta do STF. Para ele, “as doações de empresas saem muito caro para a sociedade”. “A pessoa jurídica abre o leque de financiamentos para depois cobrar do eleito seus interesses.”
ISTOÉ – O Supremo caminha para decidir sobre o financiamento de campanhas. O sr. acha que é importante avançar nessa esfera?
MARCO AURÉLIO MELLO – Ainda não votei sobre a matéria no plenário do STF, mas sou a favor do financiamento público, com regras rígidas quanto à participação do setor privado. Entendo que não há nesse campo nenhum altruísmo. Não há concepções ideológicas nem das pessoas nem de empresas em relação a partidos, se é que no Brasil há alguma diferença entre os partidos.
ISTOÉ – Não há?
MARCO AURÉLIO MELLO – Acho que, no passado, até chegamos a acreditar que existisse pelo menos um diferente. Mas esse partido (o PT), ao assumir o poder, se mostrou igual aos demais. O que acho é que as doações de empresas saem muito caro para a sociedade. A pessoa jurídica abre o leque de financiamentos para depois cobrar do eleito seus interesses.
ISTOÉ – Aprovar o financiamento público não pode criar um sistema eleitoral paralelo e clandestino?
MARCO AURÉLIO MELLO – Não dá para pensar assim. Caixa 2 já é crime e cabe à Justiça Eleitoral atuar para coibi-lo. Problema é se a Justiça for flexível com a corrupção e os tribunais não forem ativos na sua atuação. Isso vai estimular as praticas à margem da legislação. Essa celeuma no futebol, que salvou o Fluminense na esfera judicial, tem um simbolismo importante que pode servir para a política.
Carta Capital
Corrupção é agenda falsa
Livre da disputa interna com José Serra, o senador Aécio Neves divulgou o documento que deverá nortear os rumos da candidatura dele à Presidência da República, pelo PSDB, em 2014. Entre o discurso e o texto atacou o PT, o adversário a ser superado. Sem perder o tom mineiro, garantiu que não vai partir para o vale-tudo. Foi cuidadoso, antes de tudo. Sabe que, em jogo sem regras, a disputa entre petistas e tucanos terminaria empatada. De forma muito árdua para ele principalmente.
PT e PSDB, não necessariamente nessa ordem, já dedicaram quase duas décadas de discursos acusatórios em torno do tema corrupção. Um problema sistêmico no Brasil que deve levar o cidadão a desconfiar de candidato empunhando o estandarte com a promessa de dar um fim a esse problema sem fim.
Ninguém é a favor da corrupção, todo mundo é contra, afirmaria o vetusto Conselheiro Acácio, essa velha encarnação ficcional da obviedade, criada por Eça de Queirós.
Combate à corrupção é agenda falsa. Dispensa comprometimento por ser dever de ofício de qualquer administrador por mais que a sociedade, como parece ser a brasileira, seja permissiva com ela. Também por isso, a teatralização política do julgamento no STF da Ação 470, popularizada como “mensalão”, em 2013, terá influência mínima, ou nenhuma, nas eleições de 2014.
Época
Pesquisa revela como o papa Francisco conquistou brasileiros de todas as religiões
Não é preciso distanciamento para afirmar que 2013 ficará gravado com destaque na história da Igreja Católica. Uma história de 2 mil anos, iniciada por Jesus Cristo. Em fevereiro, o papa Bento XVI renunciou – um gesto inédito em mais de cinco séculos. Em março, Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, foi eleito papa – o primeiro de fora da Europa, em mais de 1.000 anos, e o primeiro do Hemisfério Sul. “Aceito a eleição, mesmo sendo um pecador”, foram as primeiras palavras de Bergoglio, ao conhecer o resultado do conclave. Assumir-se pecador seria uma ousadia mesmo para um jovem coroinha. Vindas do papa Francisco, as palavras sugerem um novo rumo para o catolicismo. Em dez meses, Francisco mudou o discurso e a percepção sobre a Igreja. As notícias sobre escândalos de corrupção e pedofilia deram lugar a exemplos de humildade, mensagens de tolerância e discussões sobre como a Igreja pode se adaptar às mudanças da sociedade.
Uma pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT)/Ibope, encomendada por ÉPOCA, avaliou os dez meses do papa Francisco e a receptividade do brasileiro às mudanças em discussão nas religiões. O Ibope entrevistou 2.002 pessoas, em 141 municípios. Chama a atenção o acolhimento ao novo papa. “Para 37% das pessoas, a confiança na Igreja Católica aumentou. Para uma instituição que se move gradualmente, é um número expressivo”, diz Altemeyer.
“O mais impressionante é ver que apenas 4% não gostaram de Francisco. É quase ninguém.” O professor de teologia Edward Neves Guimarães, da PUC de Minas Gerais, diz que esperava mais críticas dos brasileiros à corrupção e ao distanciamento da Igreja Católica em relação aos fiéis. “Nos últimos anos, irregularidades no Banco do Vaticano foram fartamente noticiadas, assim como exemplos de ostentação na cúpula da Igreja”, diz. “O público está simpático.”
Entrevista: O papa Francisco fala sobre as reformas do Vaticano
O que o Natal significa para o senhor?
Papa Francisco – É o encontro com Jesus. Deus sempre procurou seu povo, tomou conta e prometeu estar sempre perto. O livro do Deuteronômio diz que Deus anda conosco. Ele nos pega pela mão como um pai faz com seu filho. É uma coisa bonita. Natal é o encontro de Deus com seu povo. É também uma consolação. O mistério da consolação. Muitas vezes, depois da missa da meia-noite, passei uma hora ou mais sozinho na capela, antes de celebrar a missa da aurora. Experimentei um sentimento profundo de consolação e paz. Me lembro de uma noite de oração após uma missa em Roma. Acho que foi no Natal de 1974. Para mim, o Natal sempre teve a ver com isso: contemplar a visita de Deus a seu povo.
O que o Natal significa para as pessoas?
Papa Francisco – Significa ternura e esperança. Quando Deus nos encontra, nos diz duas coisas. A primeira: tenha esperança. Deus sempre abre portas, Ele nunca as fecha. Ele é o pai que abre portas para nós. A segunda: não tenha medo da ternura. Quando cristãos se esquecem da esperança e da ternura, a Igreja se torna fria, perde seu senso de direção e fica presa a ideologias e atitudes mundanas, enquanto a simplicidade de Deus lhes diz: “Sigam em frente, sou o pai que dá carinho a vocês”. Receio quando os cristãos perdem a esperança e a habilidade de estender um carinho amoroso aos outros. Talvez por isso, ao olhar para o futuro, eu fale tanto sobre as crianças e os idosos, sobre os mais indefesos. Durante minha vida como sacerdote, indo às paróquias, sempre tentei transmitir essa ternura, particularmente às crianças e aos idosos. Isso me faz bem e me faz pensar na ternura que Deus tem conosco.
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