Matéria assinada pelo colunista Nelson de Sá, da Folha de S. Paulo, mostra que os publicitários brasileiros ainda ignoram o impacto da internet no processo eleitoral. Mesmo sem regulamentação para a área, várias agências já formam suas comissões para estudar as ferramentas do meio, a começar da arrecadação.
O publicitário Fernando Barros, presidente da agência baiana Propeg e que fez campanhas para FHC, é um dos mais entusiasmados com o uso do meio eletrônico e avisa: “Os marqueteiros não caíram na real ainda. A internet vai ser fundamental. Eu estou assustado com a importância do veículo”.
Na mesma linha segue o sociólogo Antônio Lavareda, cotado para participar da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB). “A internet alcança uma Bélgica que constitui o motor de disseminação de opiniões na sociedade brasileira – e que se dá através da capacidade desse segmento de influenciar a agenda e os enfoques que a grande mídia, sobretudo a TV, imprimem na base. A batalha da Bélgica na internet vai definir a eleição deste ano”.
Para Lavareda, que critica “o farisaísmo ou a ignorância” dos marqueteiros que espalham preceitos como quem-ataca-perde, “o negativo também é importante para a democracia, e a internet tem um papel especialíssimo nisso”.
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Diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino afirma que a repercussão online pode realmente ser a novidade com potencial para afetar a campanha deste ano. Mas sempre “junto a um público restrito”, cuja capacidade de influência está em xeque. “O formador de opinião tem tido uma influência cada vez menor junto aos demais segmentos. A própria intenção de voto em Lula, hoje, é prova disso. Lula tem esse percentual que não tem variado muito e é baseado principalmente no segmento com nível de escolaridade e nível de renda mais baixos. Mesmo esse tem definido o seu voto baseado mais nas próprias convicções.”
Influência restrita
PublicidadeMas, observa Nelson de Sá, nem todos demonstram o mesmo entusiasmo com a internet. Responsável pela campanha eleitoral do presidente Lula em 2002, o publicitário Duda Mendonça acredita que não será desta vez que o meio será decisivo nos rumos da disputa nas urnas. “Como o uso do computador no Brasil ainda não chegou de forma significativa à população de baixa renda, e é ela quem decide eleição, acho que ainda nesta campanha a grande importância será da TV e do rádio”, considera Duda.
Apesar disso, ele não despreza o poder da rede mundial de computadores para definir o voto de segmentos importantes do eleitorado. “Já se fará sentir a influência da internet na camada jovem e, sobretudo, nas classes média-alta e alta, que é quem está usando.”
Descontrole preocupa
Futuro coordenador da campanha de Lula, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, ainda se mostra assustado com o novo veículo: “Seria importante que a Justiça Eleitoral estabelecesse limites para o marketing viral. A preocupação nem é só eleitoral. O anonimato na internet é preocupante para a sociedade como um todo”.
O publicitário Sergio Amado, presidente do grupo Ogilvy no Brasil, conhece bem a ferramenta e se alarma: “É cruel, cruel. É de uma violência e uma velocidade incontroláveis. Uma informação passada através de marketing viral contamina toda a rede em um dia. Nós fazemos várias ações virais para produtos aqui e sabemos qual é o resultado, do ponto de vista de imagem de marca”.
O marketing viral é uma “ação específica” que, em política, trabalha quase sempre informação negativa com “características de propaganda, mas sem cara de propaganda”. Dois exemplos são os vídeos em que Lula faz piada grosseira com Pelotas e José Serra diz que não vai deixar a Prefeitura de São Paulo, disseminados a partir de spams de e-mail, comunidades no Orkut, blogs e agora sites como You Tube.
Barros, da Propeg, comenta: “A internet pode ser letal para quem não souber responder aos ataques. Talvez a diferença de muitas vitórias e derrotas se dê aí. É terreno onde não há legislação. Um canhão na mão de um menino. Já está acontecendo incidentalmente”.
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