O procurador da República em Mato Grosso Mário Lúcio Avelar criticou a demora da Polícia Federal em identificar a origem do dinheiro usado na negociação do dossiê que envolveria candidatos tucanos com a máfia das ambulâncias. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Avelar evita atacar o delegado encarregado do inquérito, mas não esconde sua insatisfação com o ritmo da Polícia Federal para elucidar de onde saiu o R$ 1,7 milhão, apreendido com os petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos.
Segundo ele, a PF agiu mais rápido para obter informações semelhantes em casos semelhantes. "Você tem que perguntar à Polícia Federal. A PF tem 12 mil homens. Eu trabalho com três, quatro pessoas", afirmou o procurador à Folha, quando questionado por que os dados sobre a origem do dinheiro ainda não vieram a público.
O Ministério Público e a PF trabalham juntos na investigação. Em tese, tanto um quanto o outro podem solicitar ao Banco Central e ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) informações que desvendem a procedência do dinheiro. No entanto, caberia à PF, que preside o inquérito, fazer o pedido. A polícia o fez neste final de semana, diz a reportagem de Fábio Victor.
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O pedido de informações sobre as agências e os titulares das contas deve ser entregue somente hoje ao juiz Marcos Alves Tavares, substituto da 2ª Vara Federal. Só que, segundo Avelar, partiu dele a iniciativa, após constatar que quase nada havia sido feito nesse sentido.
"Eu estava aguardando que a PF fizesse um levantamento sobre as agências bancárias pelas quais o dinheiro teria passado, para que isso fosse direcionado de maneira mais objetiva à Justiça Federal. Até agora não temos nem as agências identificadas, pelo menos se existia não foi me dado a conhecer. Então, enquanto os depoimentos eram colhidos [na última sexta], eu redigi um pedido para que fosse protocolizado na segunda-feira [hoje] na Justiça", contou o procurador à Folha.
As declarações do procurador se somam a críticas crescentes de adversários do PT sobre a atitude da polícia no caso. A alegação dos aliados da candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) é que, em outras investigações de interesse do governo, como na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, a PF agiu imediatamente.
Indagado sobre a comparação, Avelar afirmou: "[Quando interessa ao governo] aí ele é muito rápido". E logo em seguida acrescentou: "Mas veja bem, querido, não vou ficar fazendo especulação, vão dizer que eu estou fazendo política".
O delegado da PF Diógenes Curado Filho, responsável pela condução do inquérito do dossiê, classificou como "malícia" as críticas de que o órgão tem sido lento na apuração sobre a origem do dinheiro usado na compra do dossiê contra os tucanos. Ele negou que a investigação sofra influência da eleição.
"Colocar o departamento em suspeita é malícia, é falta de isenção de quem fala isso. Eles [os críticos] querem uma solução imediata, antes das eleições, mas não posso me regular por isso. Este é um caso complexo, com delitos relacionados a casos anteriores, da máfia dos sanguessugas. Há uma gama de informações enormes, que precisamos filtrar, para fazer o pedido certo, no tempo certo", afirmou.
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