Thomaz Pires
A esquerda do Distrito Federal ameaça entrar rachada na corrida eleitoral pela falta de acordo entre o PT e a chamada “terceira via”, o conjunto de partidos que não se aliava ao governador preso José Roberto Arruda (sem partido). Sete partidos (PSB, PC do B, PDT, PV, PRB, PMDB e PPS) começam a desenhar uma coalizão independente, que pode ofuscar o projeto de retorno dos petistas ao Palácio do Buriti. A rodada de negociações entre as legendas deverá ser aberta a partir do final do dia de hoje (21), quando o diretório regional do PT bate o martelo e define o pré-candidato ao governo.
Cerca de oito mil militantes, inscritos no Cadastro Nacional do PT, devem participar da prévia. A votação vai contar com a colaboração do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e será feito por meio de urnas eletrônicas. Os militantes terão como missão decidir entre o deputado federal Geraldo Magela e o ex-ministro dos esportes Agnelo Queiroz. Somente no dia 30 de abril será homologada a decisão, quando o partido realiza a convenção regional e oficializa o candidato.
Na última consulta interna, Agnelo era apontado com 60% das intenções entre a militância do PT, além de contar com o respaldo do presidente Lula. Mas há quem diga que as recentes denúncias de irregularidades na declaração de bens, divulgados pela revista Época, e o acesso prévio aos vídeos do ex-secretário do relações institucionais, Durval Barbosa, que abriu a mais grave crise no DF, podem ter causados prejuízos ao pré-candidato junto às bases do PT.
Passado o período de fogo cruzado e troca de acusações entre os dois postulantes, o diretório do PT, que anuncia às 17h o resultado final da prévia, deverá ficar concentrado daqui em diante em selar as alianças políticas. Como resposta imediata, a agenda do diretório regional deve começar a semana com uma série de encontros com as lideranças partidárias. A ideia é recuperar o tempo perdido e partir para a formação de uma ampla coligação.
Líder do PSB na Câmara, o deputado Rodrigo Rollemberg desperta atenção especial dos petistas. Ele assumiu o papel de liderança na chamada “terceira via”. Também candidato ao Palácio do Buriti, o parlamentar não esconde as dificuldades de negociações com o PT. “Não iremos aceitar uma composição caso falte poder de decisão para nós. As decisões deverão ser tomadas conjuntamente”, antecipa. “O PT precisa muito mais de nós que a gente deles. Eles já se deram conta da nossa força e estão preocupados com isso”, afirma.
Outra dificuldade que pode travar a coligação entre PT e os demais partidos de esquerda é o destino do senador Cristovam Buarque (PDF-DF). Até então, ele se mantém candidato à reeleição ao Senado, embora continue sendo assediado para se lançar candidato ao governo. O problema é que o PT possui nomes como o do distrital Chico Leite para a vaga no Senado. Além disso, o partido já foi categórico e manifestou que não abre mão da vaga ao governo caso Cristovam resolva disputar o Buriti.
Aliança de risco
Deixando de lado a disputa de cargos, o maior entrave para a aliança entre a “terceira via” e o PT pode ser as alianças já traçadas. Dos sete partidos que avançam nos diálogos, um deles é o PMDB, grupo político que já foi ligado ao ex-governador Roriz e que colaborou para a eleição de José Roberto Arruda. Sobre a aliança com o seguimento, a diretoria do PT já colocou as cartas na mesa.
“Nós ainda não deliberamos sobre o assunto. A princípio, vamos tentar seguir as alianças no campo nacional. Se o PT estiver ligado ao PMDB, tentaremos fazer o mesmo aqui no DF. Mas para isso, todos os envolvidos com denúncias ou irregularidades precisarão estar afastados do partido”, afirma o presidente do diretório regional do PT, Roberto Policarpo.
O ex-presidente regional da legenda, Chico Vigilante, é mais radical. Para ele, não há razões do partido sair aliado ao grupo “responsável pela maior parte das denúncias de corrupção nos governos anteriores”. Segundo Vigilante, é importante para o PT tentar se diferenciar dos demais grupos políticos do Distrito Federal . “Nosso partido não faz aliança com esse grupo que agiu juntamente com o Arruda. Isso está fora de cogitação”, afirma.
Mesmo com a polarização na esquerda do DF, há quem diga que é possível conciliar as propostas que abarquem as legendas numa mesma coligação. Mas a avaliação é que a junção de forças ainda dependerá do diálogo e cargos oferecidos para os partidos, pois as campanhas ainda terão cerca de três meses para serem efetivamente decididas.
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