A Câmara cassou o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), acusado de receber R$ 50 mil do valerioduto. Os deputados aprovaram esta noite, por XX votos a XX, o relatório de Cezar Schirmer (PMDB-RS), que sugeria a cassação do petista. Houve ainda XX votos em branco e XX abstenções.
O relatório de Schirmer foi considerado um dos mais consistentes já feitos no Conselho de Ética. Com base em provas e depoimentos, o documento conseguiu colocar em xeque as versões dadas por João Paulo para justificar o saque.
A autora do foi a esposa de João Paulo, Márcia Regina Milanesi. Quando o nome dela apareceu na lista dos que estiveram no Banco Rural entre 2003 e 2004, o petista argumentou que ela fora apenas corrigir erros na conta da TV a cabo.
Quando o saque foi, de fato, atribuído a Márcia, o petista admitiu ser o destinatário do recurso. Afirmou, porém, que usou o dinheiro para pagar pesquisas eleitorais entregues ao diretório do PT em Osasco (SP). "Eu disse que a minha mulher foi ao Banco Rural ver uma conta de TV a cabo e disse que ela foi fazer o saque. Eu não menti", declarou no plenário, durante sua defesa.
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Defesa frágil
Em seu relatório, Schirmer desconstrói as duas versões de João Paulo para justificar a transação. Primeiro, ressalta que a fatura da TV a cabo foi emitida no dia 2 de setembro de 2003 e remetida de São Paulo para Brasília pelos Correios no dia seguinte. "Na melhor das hipóteses, o documento só poderia ter chegado a Brasília no dia 4", afirmou. Márcia efetuou o saque no dia 3 de setembro daquele ano.
O relator atenta ainda para o fato de que a esposa de João Paulo chegou ao banco às 16h58, já depois do expediente. "Ninguém vai ao banco fora do expediente para reclamar da conta de TV à Cabo. O propósito único foi o de sacar R$ 50 mil."
No texto, Schirmer descreve que um dia antes do saque, em 2 de setembro de 2003, João Paulo recebeu Valério na residência oficial da Câmara para um café da manhã. Duas semanas depois, em 14 de setembro, a SMP&B assinou contrato de R$ 10,7 milhões com a Casa para prestar serviços de publicidade.
Quanto à versão das pesquisas eleitorais, o relator afirma que a Secretária de Fazenda de São Paulo informou que o imposto sobre as notas fiscais apresentadas pela Datavale, responsável pelas pesquisas, foi recolhido somente em julho do ano passado. A empresa informou não ter emitido outras notas fiscais do mesmo bloco do qual foram retiradas as das pesquisas de João Paulo.
"Apenas três notas do mesmo bloco em três anos e os impostos só foram recolhidos quando a crise política veio à tona. Isso evidencia uma montagem para que o acusado justificasse a versão (das pesquisas)", declarou Schirmer.
Homem da ética
João Paulo criticou o relator de seu processo e disse que o texto do Conselho foi muito duro. "(O relatório) foi demasiadamente forte para comigo. Passou uma imagem de figura pública que não corresponde com a minha vida", afirmou.
O petista lembrou dos tempos em que ocupou a presidência da Câmara, entre 2003 e 2005. "Graças a Deus, ao final do meu mandato, a imagem da Casa era boa", disse. Fez questão de ressaltar ainda que o contrato assinado com a SMP&B durante sua gestão trouxe vários benefícios aos deputados.
O parlamentar afirmou ser um "político da ética" e ressaltou que a ética é um conceito que não se conquista em um dia e se perde no outro. "Eu tomar medidas para prejudicar o povo? Não é verdade. Tenho opção de vida pelo oposto", declarou.
João Paulo reafirmou a versão de que os R$ 50 mil foram usados para pagar pesquisas eleitorais. Disse que foi procurado pelos correligionários do PT de Osasco e foi orientado pelo diretório nacional do partido a sacar o dinheiro das contas de Valério. "Devia ter colocado um diretório em contato com o outro. Mas se eu achasse que tinha erro, eu mandaria minha mulher?", defendeu-se.
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