Depois de uma manhã tensa na luta entre governo e oposição, o depoimento à CPI dos Correios do ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil (BB) Henrique Pizzolato foi morno, contraditório e não convenceu os integrantes da comissão. Pizzolato não soube explicar por que o contínuo do BB foi buscar no Banco Rural dois envelopes com R$ 327 mil em dinheiro a pedido do empresário Marcos Valério Fernandes, acusado de ser o principal operador do mensalão.
O ex-diretor do banco disse que fez apenas um favor ao empresário, pois a agência de Valério, a DNA Propaganda, prestava serviços ao BB. Para ele, os envelopes, repassados a um “dirigente do PT” cujo nome ele não revelou, não indicavam a existência de dinheiro. A senadora Heloísa Helena (Psol-AL) chamou-o de “moleque de recados” petista, ao que ele respondeu ser apenas uma “gentileza” à empresa de Valério, que trabalha com o banco há vários anos.
Pizzolato depôs por cinco horas. Suas declarações foram consideradas evasivas. Para o relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), a ida dele serviu apenas para mostrar que a desconfiança de deputados e senadores da oposição se confirmou: o chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência, Luiz Gushiken, tinha ingerência nas decisões do fundo de pensão do banco, a Previ. “Não sei até que limite, mas aceito a hipótese de que ele influenciava”, afirmou.
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Leia o que Pizzolato disse à CPI:
Gushiken e os fundos
Confirmou que Luiz Gushiken, de quem era conhecido desde os tempos de militância no movimento sindical dos bancários, reunia-se com os presidentes de fundos de pensão de órgãos públicos. Pizzolato, no entanto, disse que não participava desses encontros. Para os parlamentares da CPI, ficou evidente a ingerência de Gushiken nos milionários fundos de pensão. Gushiken deve depor em breve. Ele também citou a suposta participação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em decisões sobre os fundos de pensão.
Previ
Afirmou que, mesmo tendo presidido o Conselho Deliberativo do Fundo de Previdência dos do BB (Previ), desconhecia investimentos do fundo de pensão feitos no Banco Rural. Pizzolato pediu afastamento da Previ, após a denúncia do saque do contínuo do BB no Rural.
Ex-sindicalista ligado ao PT, ele explicou que, como presidente do conselho, só interferia em aplicações superiores a R$ 3,5 bilhões, limite que corresponde a 5% do total de recursos do fundo (R$ 70 bilhões). "Abaixo disso, não tomava conhecimento", afirmou.
Aditivo para DNA
Pizzolato afirmou que não precisou informar à Secretaria de Comunicação do governo, ligada à Presidência da República, sobre um aditivo de contrato de publicidade do BB com a DNA no valor de R$ 58 milhões, assinado em 2003. À época, a secretaria era comandada por Luiz Gushiken, hoje chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos do Governo Lula. À Polícia Federal, ele havia dito que os patrocínios acima de R$ 50 mil deveriam ser comunicados ao órgão.
Visanet
Respondeu que o BB tem conselheiros na Visanet (bandeira do crédito do BB), após ser questionado sobre o depósito de R$ 35 milhões em único dia, feito por ela na conta da empresa DNA, de Marcos Valério. Contudo, disse que nunca foi informado sobre o assunto. Da área de marketing, ele apenas passava o resumo das campanhas promocionais.
Compra de ingressos
Explicou que a compra de ingressos de um show da dupla Zezé de Camargo e Luciano pelo banco não foi feita pelo banco e sim pela Visa. Era para, segundo ele, aumentar a adesão aos cartões dela. Ao lembrar que o Tribunal de Contas da União (TCU) o isentou de culpa no episódio, disse que desconhecia o fato de a arrecadação do espetáculo seria usado para construir uma nova sede do PT, em São Paulo.
Intermediação de contratos
Negou que a empresa Multiaction, de Marcos Valério, tenha intermediado patrocínios do BB.
O depoente revelou ainda que participou do comitê financeiro da campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. No entanto, ele nunca teria arrecadado um centavo, pois somente agendava reuniões com empresários para a exposição do programa de governo.
PT e salários
O ex-petista e ex-sindicalista afirmou ainda que seu salário, de quase R$ 40 mil, era “motivo de chacota” porque ganhava infinitamente menos do que outros executivos da iniciativa privada.
O salário do ex-diretor no Banco do Brasil era de R$ 19 mil. O valor era complementado pela atuação como conselheiro da Embraer (R$ 12,5 mil), da Previ (R$ 4,8 mil) e da Associação dos Funcionários do Banco do Brasil (R$ 3 mil). Ele pediu aposentadoria compulsória à Previ.
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