Rudolfo Lago
O líder corre disparado na frente. Mas tem medo e hesita. A segunda colocada patina, mas o governo continua a apostar todas as fichas nela. Um pouco para trás, os demais assistem à corrida, torcendo por uma derrapada dos primeiros.
A análise das pesquisas eleitorais sobre a sucessão do presidente Lula feitas este ano mostram um quadro que em nada ajuda as estratégias nem do provável candidato da oposição, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), nem da candidata escolhida pelo governo, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Simplesmente porque o quadro, ao longo do ano, pouco mudou.
Os números não dão segurança absoluta a Serra porque eles não mostram uma evolução da sua intenção de voto. Na verdade, demonstram uma queda. Por outro lado, Dilma cresce, mas em ritmo bem mais lento do que o governo gostaria.
O instituto que mais fez pesquisas eleitorais este ano foi o Sensus, na série encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Por isso, o Congresso em Foco concentra nele a análise da corrida eleitoral.
É difícil, porém, fazer uma comparação do desempenho dos candidatos a partir das listas estimuladas do Sensus, porque apenas na última rodada, em novembro, o instituto incluiu Ciro Gomes na mesma lista em que concorria Dilma: até setembro, o Sensus considerava Ciro uma alternativa governista a Dilma; quando ele entrava, a candidata do PT saía. Assim, dos pré-candidatos principais à Presidência, a série histórica do Instituto Sensus só confronta Serra e Dilma.
A lista espontânea, porém, permite avaliar a evolução de todos os candidatos no imaginário do eleitor brasileiro. Sem uma lista estimulada, o nome que lidera a intenção de votos dos brasileiros foi sempre o do presidente Lula, que não pode disputar um terceiro mandato. Em maio, Lula atingiu 26,2% das intenções de voto na lista estimulada. Depois, começou a cair.
Talvez porque a população já começasse a estar melhor informada do fato de que ele não será candidato no ano que vem. Mas isso não chegou a significar exatamente um crescimento de Dilma. Na verdade, de maio para a rodada seguinte, setembro, ela chegou a cair: de 5,4% para 4,8%. Depois, subiu para 5,8%. E Serra teve seu pior desempenho em maio, quando ficou com apenas 5,7%. Em março, ele teve 8,8%. Depois da queda em maio, passou para 7,7% e na última rodada tinha 8,7%.
Se os votos espontâneos do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, forem igualmente de oposição, melhor para Serra. Como Aécio desistiu da disputa, é possível que seus votos migrem para Serra. Poderá ser um auxílio importante, porque, na lista espontânea, Aécio tem mais votos que Ciro, chegando a 4,2% em novembro. Marina é menos lembrada que Heloisa Helena, do PSol. Veja a evolução da lista mês a mês:
CNT/Sensus
Pesquisa espontânea
Candidato | Jan | Mar | Mai | Set | Nov |
Lula | 21,3 | 16,2 | 26,2 | 21,2 | 18,1 |
Serra | 8,7 | 8,8 | 5,7 | 7,7 | 8,7 |
Dilma | 2,5 | 3,6 | 5,4 | 4,8 | 5,8 |
Aécio | 3,9 | 2,9 | 3,0 | 3,1 | 4,2 |
Ciro | 1,8 | 1,5 | 1,1 | 1,0 | 2,6 |
Heloísa | 0,8 | 1,4 | 0 | 0,9 | 0,7 |
Marina | 0 | 0 | 0 | 0,9 | 0,7 |
Alckmin | 1,3 | 1,4 | 0 | 1,0 | 0 |
Confronto direto
No caso da disputa direta entre Serra e Dilma na lista estimulada, o governador de São Paulo manteve liderança folgada. Mas, à medida que aumentava a exposição de Dilma, a ministra da Casa Civil experimentava alguma aproximação dele. E Serra caía. Uma situação que faz com que Serra hesite até agora em confirmar de fato sua candidatura. Serra considerava que era uma tática melhor o PSDB manter as duas alternativas – ele e Aécio – porque, assim, evitaria que a artilharia governista se concentrasse nele.
A tática de não oficializar a candidatura vem desse raciocínio: se não é oficialmente candidato, Serra não pode ser atacado como tal. Serra considera que lançar uma candidatura muito antes do pleito acaba por desgastá-la.
Em janeiro de 2009, Serra tinha 42,87% na primeira das listas estimuladas da pesquisa do Sensus, contra 13,5% de Dilma. Em março, ele subia para 45,7%, mas Dilma subia também: para 16,3%. Em maio, Serra experimentou uma queda: foi a 40,4%, e Dilma bateu a marca dos 20%, foi a 23,5%. Em setembro, o governador de São Paulo caiu um pouco mais: 39,5%. Mas Dilma caiu também: 19%. Em novembro, o Sensus inclui Ciro pela primeira vez na lista principal. E demonstra que Ciro tira preciosos pontos de Serra, e não de Dilma. Serra cai para 31,8% e Dilma sobe para 21,7%. Ciro, o terceiro, fica com 17,5%.
“Chegamos a mostrar ao presidente Lula, numa reunião recente, essa situação. Ciro atrapalha Serra, não atrapalha Dilma. Nesse sentido, reforçamos a nossa posição de que pode ser melhor o governo ter dois candidatos, Ciro e Dilma”, revela ao Congresso em Foco o senador Renato Casagrande (PSB-ES).
Segundo Casagrande, Lula evitou fazer comentários sobre esse aspecto do desempenho eleitoral de Ciro. Reafirmou a sua tese de que prefere a disputa concentrada em Dilma contra Serra. Mas completou dizendo respeitar a posição do PSB: “Se vocês acharem que devem ter candidato próprio, vou entender”.
Marina
Quanto à senadora Marina Silva, lançada candidata pelo PV, os números ainda não parecem mostrá-la como um nome que possa ameaçar os principais competidores no páreo. Marina aparece pela primeira vez na lista principal do Sensus em setembro. Obtém, então, 4,8% das intenções de voto (na lista com Aécio no lugar de Serra, ela sobe para 8,1%). Em novembro, ela chega a 5,9% (e cai na lista com Aécio, para 7,9%).
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