Veja
Rio…do descaso, da demagogia, do populismo e das vítimas de suas
águas
A tempestade que se abateu sobre o Rio de Janeiro na
madrugada da última terça-feira, com fúria e persistência recordes, escancarou a
gravidade de um problema há décadas negligenciado: o incentivo oficial para a
ocupação de encostas. Não fosse o risco de vida embutido, a “indústria da
favelização” poderia até ser vista como um programa social. Não é. Os falsos
beneméritos dão ajuda material a famílias inteiras para que se instalem em áreas
de alto risco em troca do voto delas nas eleições. Quando ocorrem tragédias como
a da semana passada, eles fingem que o problema não é com eles. O último
levantamento oficial mostra que em 119 favelas, de sete municípios do estado,
ocorreram 197 das 219 mortes registradas até agora. Ao testemunhar o desabamento
de dezenas de casebres e a morte de vizinhos no Morro dos Prazeres, na Zona Sul
da cidade e um dos mais atingidos pelas chuvas, José Ferreira, 60 anos, resumiu:
“Parecia um tobogã”. O padrão se repetiu em diversos pontos. Um após o outro, os
morros foram lavados pela força das águas da chuva, perdendo sua fina cobertura
de terra onde foram plantados os barracos irregulares não apenas com a
complacência das autoridades mas com sua ajuda. Diz o sociólogo Bolívar
Lamounier: “O fenômeno da favelização no Rio é consequência do relaxamento moral
e jurídico”.
A candidata petista falou “dilmais”
O pacote da
pré-campanha da ex-ministra Dilma Rousseff é de impressionar. O PT alugou casas,
um comitê, reservou carros, jatinhos, contratou especialistas americanos em
internet, jornalistas, institutos de pesquisa, consultores de imagem,
fonoaudiólogos e marqueteiros – um aparato de estrela que já está trabalhando,
mas que ainda convive com um grande enigma: o desempenho da ex-ministra sem a
presença do presidente Lula a seu lado. Na semana passada, surgiram os primeiros
indícios do que está por vir. Em sua incursão-solo inicial, Dilma escolheu Minas
Gerais como cenário para testar seu desempenho. Seguindo o roteiro convencional
dos políticos, a petista colocou crianças no colo, fez promessas a empresários,
tomou cafezinho com cidadãos comuns e distribuiu beijos e afagos. O resultado
foi considerado satisfatório. No palanque e nas entrevistas, territórios em que
talvez o eleitor tenha as melhores condições de enxergar seu candidato da
maneira como ele realmente é, a ex-ministra causou espanto. Ao contrário de tudo
o que já havia feito, Dilma adotou um discurso agressivo, classificando os
opositores como “lobos em pele de cordeiro”, para, logo depois, defender a
possibilidade de uma parceria entre ela e o candidato ao governo de Minas
Antonio Anastasia, do PSDB – supostamente um dos tais “lobos em pele de
cordeiro”.
Isto É
Michel Temer um vice bem
resolvido
As cartas da campanha à Presidência da República estão
lançadas. Com a desincompatibilização da ex-ministra Dilma Rousseff (PT) e do
ex-governador José Serra (PSDB), só falta aos pré-candidatos escolher seus
vices. Nessa tarefa, os aliados do governo estão numa posição mais avançada e
bem mais confortável do que os adversários. Já têm um nome de consenso para a
vice-presidência: o do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que
executou a façanha de unificar um partido historicamente dividido. Ainda que sua
candidatura não tenha sido anunciada oficialmente, as dúvidas sobre a presença
de Temer na chapa governista ao lado de Dilma se dissiparam com a permanência de
Henrique Meirelles no Banco Central. Ao receber ISTOÉ em seu gabinete na noite
da quarta-feira 7, Temer admitiu seus planos, mas com a cautela que lhe é
peculiar. “Aparentemente está definido, mas definido não está”, afirmou Temer,
ressalvando que qualquer posição ainda depende de conversas com o PT e a
ex-ministra. Por precaução, ele ainda prefere dizer que será candidato à
reeleição para a Câmara. “Quando viajo ao interior de São Paulo digo que sou
candidato a deputado federal para garantir meu espaço”, comenta. Apesar da
cautela, Temer sabe que a formalização da chapa é uma questão de semanas e dá a
indicação sobre a possível data do anúncio. “O PMDB vai realizar um grande
Congresso em Brasília em 15 de maio para apresentar sua contribuição ao programa
político do PT. Vamos fundir os programas e construir nossa coalizão eleitoral”,
antecipa. A escolha do nome de Temer põe fim a uma queda de braço com o PT e o
presidente Lula que já durava meses.
Treino de
militantes
Na sala de um prédio no Recife, abarrotada de
militantes e simpatizantes do PSDB, o palestrante André Regis, cientista
político e presidente do Instituto Teotônio Vilela em Pernambuco, conclama: “Se
tiver poucos segundos para convencer alguém a votar em José Serra, fale da
biografia dele. Compare com a de Dilma”, recomenda. Logo em seguida, um slide é
exibido com os seguintes dizeres: “As pessoas devem deixar de ser espectadoras e
se sentir participantes. Buscar engajamento.” O evento faz parte do programa
Comunicar 45, idealizado pelo presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra
(PE), com o objetivo de treinar militantes a defender o partido e a candidatura
de Serra ao Planalto. “Municiálos de argumentos para o debate político da
eleição”, disse Regis à ISTOÉ. Como o foco principal do PSDB, hoje, são os
eleitores indecisos, os participantes das palestras são aconselhados a utilizar
uma linguagem simples. “Não adianta dizer que o nosso partido foi o responsável
pela estruturação da economia do País. As pessoas não vão entender”, explica o
dirigente tucano. “Pergunte se ele tem celular. Fale da telefonia”, insiste
Regis, enquanto o Power Point associa a estrela do PT a uma ficha
telefônica.
A volta da parabólica
Mesmo de fora
do embate acalorado entre o PT e o PSDB, a senadora Marina Silva (PV-AC) trouxe
uma polêmica para o interior de sua própria campanha. Tudo começou há dois
meses, quando ela procurou o ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens
Ricupero, 73 anos, para entender melhor os riscos da aproximação do Brasil com o
presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Com a franqueza que já lhe custou o
cargo de ministro da Fazenda, Ricupero disse que o Irã possui um regime
altamente repressivo, que nega o holocausto e defende valores opostos aos
brasileiros, por isso o governo brasileiro deveria tomar mais cuidado com os
amigos que escolhe. Desde essa conversa, Marina liga para o apartamento do
embaixador no bairro do Pacaembu, em São Paulo, todas as vezes que precisa de
opiniões sobre assuntos externos. Foi assim no início de março, ocasião em que a
senadora deu entrevista para o “The Economist”. “Ela é minha amiga pessoal. É
sempre um prazer falar com a Marina. Mas eu sou amigo e colaborador do José
Serra. Sou eleitor do Serra”, disse Ricupero. A negativa de Ricupero soou como
um balde de água fria na intenção do PV de levar simpatizantes do PT e do PSDB
para uma terceira via personificada pelos verdes. Ao menos oficialmente,
Ricupero não participará da campanha de Marina. Continuará, no entanto, dando
conselhos sempre que for solicitado. Em 1994, quando era ministro da Fazenda do
governo Itamar, Ricupero disse ao jornalista Carlos Monforte que “o que é bom a
gente fatura, o que é ruim a gente esconde”, antes do lançamento do Plano Real,
sem saber que as antenas já estavam captando o sinal transmitido pela Rede
Globo.
O bilionário de Geddel
Geólogo de
formação, o empresário João Carlos Cavalcanti ficou bilionário ao encontrar
grandes jazidas de minério de ferro no interior da Bahia. Sua fortuna não parou
de crescer nos últimos 30 anos. E JC, como é conhecido no mundo dos negócios,
vive de acordo com o patrimônio que amealhou. Embora evite badalações, gosta de
pilotar carros de luxo, numa coleção que inclui Ferrari, Porsche e Maserati.
Também tem vida ativa na política de seu Estado, mas sempre foi homem de atuar
nos bastidores. Agora, porém, aos 60 anos, decidiu dar a cara para bater. Ele
oscila entre se lançar a vice-governador da Bahia na chapa do exministro Geddel
Vieira Lima (PMDB) ou a senador da República. “Tenho planos sérios de ser
candidato a presidente da República em 2018”, anuncia o ambicioso Cavalcanti.
Ele já faz discurso de campanha: “Não vou roubar, eu não preciso roubar, ganhei
meu primeiro milhão aos 26 anos de idade.” Este novato em campanha eleitoral
deixa muitos caciques baianos de orelha em pé, não apenas pelo patrimônio
pessoal de R$ 2 bilhões, mas também pela possibilidade de atrair contribuição de
grandes empresas para o caixa do PMDB. “Ele tem a capacidade de mobilizar
recursos pessoais e de grandes grupos, mas dinheiro não é tudo numa campanha”,
diz o deputado Nelson Pellegrino (PT-BA). Cavalcanti é sócio de empresas que
contam com a participação de Antônio Ermírio de Morais, do Grupo Votorantim,
Daniel Dantas, do Grupo Opportunity, e Eike Batista, da MMX. “Os grandes grupos
de consórcios dos quais faço parte, acredito, vão contribuir para nossa
campanha”, prevê JC. O bilionário quer ocupar o que considera uma brecha na
política local, aberta com a morte do ex-senador Antônio Carlos Magalhães.
“Depois de ACM, isso aqui virou um balaio de gato”.
Campanha
começa em clima quente
A primeira semana da pré-campanha à
Presidência mostrou que a eleição transcorrerá num clima beligerante entre PSDB
e PT. Nos últimos dias, a temperatura subiu mais do que o esperado. Acossado
pelos números das pesquisas Band/Vox Populi, CNI/Ibope e Datafolha, em que a
distância entre o exgovernador José Serra e a ex-ministra Dilma Rousseff oscilou
de três a nove pontos percentuais, o PSDB foi o primeiro a elevar o tom da
disputa com estocadas abaixo da linha da cintura. Na quartafeira 31, dia em que
deixou oficialmente o governo de São Paulo, Serra pôs em dúvida a ética dos
adversários do PT. “Os governos, como as pessoas, têm de ter caráter, índole e
honra. Aqui não se cultivam escândalos, malfeitos ou roubalheiras”, disse. No
dia seguinte, aconselhado por assessores, o tucano suavizou o discurso. Durante
cerimônia de assinatura de um programa de ajuste fiscal que permitirá ao Estado
de São Paulo obter mais R$ 3,3 bilhões em financiamentos, Serra tentou vestir o
figurino de candidato pós-Lula, ao elogiar publicamente o presidente da
República e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A postura ambivalente do
précandidato do PSDB foi a senha para o PT contra-atacar. Em reuniões do staff
da campanha, ficou decidido que Dilma Rousseff sairia a campo para marcar as
diferenças entre PSDB e o PT. E, com isso, neutralizar a estratégia tucana de se
mostrar ao eleitorado como uma continuidade ao governo petista e não como o
anti-Lula. “Não podemos cair nessa cantilena do Serra de dizer que não é
oposição ao governo”, disse o ministro da Secretaria de Comunicação, Franklin
Martins, no encontro.
O dono da bola
O novo
governador paulista, Alberto Goldman (PSDB), 72 anos, assume o Palácio dos
Bandeirantes com metas similares às que persegue nas quadras de basquete há seis
décadas. Quer marcar muitos pontos a favor da candidatura à Presidência de seu
antecessor, José Serra, mas evitar cometer faltas dentro e fora da quadra. “O
problema da multa não é o pagamento”, diz Goldman, referindo-se à punição por
irregularidades na campanha eleitoral. “A multa é uma questão moral.” Para o
antigo comunista, administrar bem São Paulo será a cesta mais valiosa, mesmo que
para isso precise fazer mudanças no secretariado. Engenheiro civil formado pela
USP, Goldman foi ministro dos Transportes, secretário estadual de São Paulo em
duas gestões e seis vezes deputado, quatro delas na Câmara
Federal.
O Rio submerso
O amanhecer no Rio
de Janeiro na terça-feira 6 foi estranho sob todos os aspectos. Não havia ruído
de carros, as ruas estavam vazias e as lojas fechadas. Em muitos bairros, o que
era calçada tinha virado um amontoado de lama, avenidas tinham se alinhado à
Lagoa, crateras se abriram no solo, a chuva que caíra forte durante a noite
ainda castigava a cidade e o vento varria o nada – porque era o nada que ocupava
o espaço público do mais belo cartão-postal do País. O Rio entrara em colapso.
Não era uma parte, uma região, um lugar. Desde a requintada zona sul, passando
pela zona norte e indo até os confins da zona oeste, tudo parou e todos, ricos e
pobres, foram afetados.
Não há registro na história recente das grandes
metrópoles de uma pane urbana paralela. Um governador e um prefeito repetiam à
exaustão o pedido para que as pessoas não saíssem de casa. Pela televisão e pela
internet o carioca viu a destruição que o temporal tinha causado. Além das
enchentes e do caos urbano, o pior: pessoas tinham morrido. Noventa por cento
das quase 200 pessoas mortas até a sexta-feira 9 foram engolidas pela terra que
deslizou do alto dos morros em que moravam. Em Niterói, até o final da tarde da
sexta-feira, 111 corpos haviam sido resgatados e os bombeiros estimavam em cerca
de 200 o número de pessoas ainda soterradas. Em São Gonçalo, 16 pessoas
morreram; em Santa Tereza, na região central da capital, 21 corpos foram
localizados e o trabalho de resgate se reproduzia em todas as partes da cidade e
da região metropolitana. São pessoas que perderam a vida numa tragédia
anunciada. Moravam em áreas de risco, em encostas de favelas. E, desde que o
mundo é mundo, todos sabem que esses lugares são endereços de
catástrofes.
Época
Avalanche
criminosa
Acharam o Marquinhos! O Marquinhos tá vivo! Todos
sobem a rua correndo e gritando. Estão felizes, e alguns batem palmas. A chuva
cai fina e a água escorre em filetes pela rua íngreme que dá acesso ao Morro dos
Prazeres, em Santa Teresa, um bairro no centro do Rio de Janeiro com algumas das
vistas mais espetaculares da cidade, para a Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar,
o Cristo Redentor. Na véspera, o morro encharcado por dias seguidos de temporais
deslizara, levando dez casas. Na rua de paralelepípedos, fragmentos de vidas. Um
sapatinho azul de criança com o decalque de um urso panda. Uma boneca
desmembrada. Um álbum de fotos.
Marcus Vinicius França da Mata, de 8 anos, foi soterrado por uma infeliz
coincidência. Sua mãe, Rose da Mata, levou-o para a casa da tia, achando que sua
própria casa estava em risco. Meia hora depois, a casa da tia foi abaixo. Os
bombeiros ouviram o menino gritando seu próprio nome e pedindo “me tira daqui”
sob os escombros. O risco de novos desabamentos, com a chuva persistente,
suspendeu o resgate. Pela manhã, ninguém mais o ouviu. Muitos ainda acreditavam
num milagre.
É o fim do namoro?
O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva não pode reclamar do tratamento que tem recebido da mídia
internacional. Nunca antes neste país, para usar sua expressão mais repetida, um
presidente foi tão exaltado e mereceu uma cobertura tão favorável no exterior.
Talvez por isso ele não costume poupar elogios à imprensa estrangeira, enquanto,
em seus quase oito anos de governo, foi um crítico implacável da mídia local
(por considerá-la pessimista em relação às ações do governo). Agora, porém, às
vésperas de terminar seu segundo mandato, o longo namoro da mídia internacional
com Lula parece estar chegando ao fim.
Nas últimas semanas, dois dos mais influentes representantes da imprensa
estrangeira – a revista britânica The Economist e o diário americano The Wall
Street Journal – publicaram artigos com críticas pesadas ao governo.
Ironicamente, ambos retratam muitas das questões abordadas pela imprensa
brasileira, mostrando o impacto negativo que algumas das políticas atuais do
governo poderão ter no crescimento do país no longo prazo, apesar dos resultados
positivos colhidos hoje.
José Serra: “Estou mais
preparado”
José Serra começa sua nona campanha eleitoral – a
segunda em que disputa a Presidência da República – com a confiança em alta. O
embate contra a ex-ministra Dilma Rousseff, a candidata do PT, escolhida pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, promete ser dificílimo. Mas Serra exibia,
dois dias antes de ser aclamado como o candidato do PSDB, a segurança dos
políticos calejados. “Aprendi com a derrota. Aprendi com a reflexão. Aprendi com
a prefeitura. Aprendi com o governo de São Paulo. Eu me considerava preparado em
2002. Mas hoje estou mais preparado”, disse Serra, na entrevista que concedeu a
ÉPOCA, na última quinta-feira.
Essa confiança é alimentada pelas
pesquisas eleitorais. Elas apontam uma preferência sólida de 35% do eleitorado,
praticamente inalterada desde o ano passado.Alimenta-se também da longa
trajetória de quem começou como líder estudantil e chegou a governador de São
Paulo – último de seus cargos – e já enfrentou todo tipo de situação numa
carreira de quase 50 anos. “Eu me considero preparado para esse desafio. É algo
para o qual eu talvez tenha me preparado a vida inteira. Mas você se candidatar
e chegar à Presidência, além de uma decisão pessoal, envolve muito destino.” Na
entrevista, além de dizer o que espera da campanha – um debate sobre o futuro do
Brasil –, Serra revelou suas ideias sobre temas tão variados como o papel do
Estado, educação, saúde, autonomia do Banco Central, política econômica, aborto
e descriminalização da maconha.
A segunda chance do novo
Serra
Durante o primeiro semestre de 2003, José Serra escreveu,
de Princeton, Estados Unidos, a um amigo e colaborador: “Estou aqui purgando os
meus erros”. Então com 61 anos, o economista, nascido no bairro da Mooca, Zona
Leste de São Paulo, referia-se à disputa eleitoral do ano anterior, que
desaguara num dos poucos fracassos de sua carreira política: a derrota para o
metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da disputa pela
Presidência da República. Serra, candidato do PSDB, em nenhum momento daquela
campanha foi o favorito. Ao contrário, a trajetória de sua candidatura foi
errática desde o início, e Serra chegou a ver ameaçada sua ida para o turno
decisivo. Para alguém acostumado a citar a obsessão perfeccionista como virtude,
a temporada nos EUA, onde Serra lecionou na Universidade Princeton, serviu para
que ele absorvesse, na prática, os ensinamentos de um velho jargão da política:
o verdadeiro homem público aprende mais com os reveses do que com as glórias.
Outra obsessão do tucano, segundo amigos, é tornar-se presidente do Brasil –
algo que ele prefere chamar de “vontade de servir ao povo do meu país”. É ela
que o faz, oito anos depois da derrota para Lula, voltar a se apresentar como
candidato ao Planalto. Está prevista para este sábado sua aclamação num encontro
de partidos em Brasília. Segundo o próprio Serra, ele está mais forte: “Aprendi
com a derrota”.
Querem frear a internet
Quem
acompanha o YouTube desde seu início sabe quanto o serviço evoluiu em apenas
cinco anos. Em 2005, ele era só um repositório de vídeos com baixa resolução.
Hoje, inclui imagens de alta qualidade de filmes, séries e outros programas, que
podem ser reproduzidas nos monitores de TV mais avançados. Essa evolução tem um
custo – a banda de internet, ou capacidade de tráfego da rede. Quanto mais os
serviços de conteúdo evoluem, mais banda é necessária para transmiti-los pelos
cabos e servidores. A grande questão é: quem paga pela expansão da
banda?
Na semana passada, uma corte de apelações dos Estados Unidos tomou
uma decisão que poderá prejudicar não só os usuários do YouTube, mas de qualquer
serviço de baixar arquivos pesados. Ao julgar uma briga da operadora de internet
Comcast com a Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês), órgão
que regula o setor, os três juízes da corte abriram um precedente perigoso. Eles
resolveram que a FCC não tem o direito de obrigar a Comcast a tratar todos os
usuários de sua rede de forma igual – um princípio conhecido como neutralidade
da rede. A briga se acirrou em 2008, quando associações de consumidores
reclamaram que a Comcast limitava a velocidade da internet para quem usava
serviços de compartilhamento de arquivos, como os baseados em Torrent, para
trocar músicas, jogos e filmes. A FCC agiu, abrindo um processo contra a
provedora.
Falta combinar com o consumidor
Fazia
todo o sentido. Quando a Unilever lançou a versão concentrada de seu principal
amaciante, em maio de 2008, parecia ter escutado a demanda dos consumidores, que
diziam querer comprar produtos mais ecológicos. Com meio litro, o novo produto
rende tanto quanto 2 litros da versão convencional. Como a embalagem é menor,
economiza 58% de plástico e, consequentemente, usa menos petróleo. Seu processo
de produção consome 79% a menos de água. As caixas que o transportam acomodam
mais unidades num mesmo espaço, reduzindo em 67% as viagens de caminhões para
chegar aos pontos de venda. Mais: o amaciante concentrado é 20% mais barato. Com
um belo esforço de comunicação – uma campanha de R$ 32 milhões em dois anos –,
era de esperar que a essa altura o novo amaciante já tivesse desbancado o velho.
Não foi o que aconteceu. A Unilever não divulga dados sobre vendas, mas um
levantamento feito na rede de varejo Walmart mostra que o amaciante tradicional
ainda vende 50% a mais que o concentrado. O amaciante da Unilever é apenas um
dos casos de produtos criados para explorar o consumo ambientalmente correto. Há
empresas que investiram em mudar sabão em pó, chá orgânico, papel higiênico. Sem
contar as mudanças de embalagem. Em todos os casos, porém, o resultado tem sido
dúbio. Por quê?
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