Antonio Vital*
O ministro Mangabeira Unger assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos diante de muxoxos e críticas. Era mais lembrado por um famoso artigo em que desancava o governo Lula e por seu carregado sotaque americano que pela formação acadêmica de professor da Universidade de Harvard. Virou personagem folclórico de uma pasta apelidada pela imprensa de Sealopra, um trocadilho com os “aloprados” do dossiê contra Geraldo Alckmin nas eleições de 2006 – não confundir com o último.
Foi quase ridicularizado em recente périplo pela Amazônia, quando defendeu uma espécie de aqueduto até o Nordeste. Eis que surge um novo Mangabeira com a saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. E as desconfianças e sorrisos irônicos parecem começar a se dissipar.
Na noite de terça-feira (27), o programa Expressão Nacional, da TV Câmara, reuniu em torno de uma mesa de debates quatro representantes de diferentes maneiras de ver a Amazônia: os deputados Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP) e Giovanni Queiroz (PDT-PA), a deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) e o geógrafo Arnaldo Carneiro, da ONG Instituto Socioambiental. E todos perceberam uma mudança de foco no tratamento dado à Amazônia pelo governo. A saída de Marina Silva deu visibilidade a essa alteração.
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A principal mudança de enfoque foi acrescentar a população da Amazônia à discussão. Outras, não menos importantes: dar tratamento diferenciado às diversas micro-regiões; propor incentivos fiscais para empresas que promovam desenvolvimento sustentável na Amazônia e até criar uma espécie de bolsa para que os moradores abandonem práticas predatórias. “Dar valor à floresta em pé”, resumiu Mendes Thame.
A maioria dessas ações já estava prevista no Programa Amazônia Sustentável (PAS), elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente na gestão de Marina Silva. Quando a gestão do plano foi entregue por Lula a Mangabeira, Marina pediu para sair. E o limão que foi péssimo para o governo no primeiro momento, com a repercussão internacional que ressuscitou a velha cantilena de que a Amazônia é do mundo, e não do Brasil, pode acabar virando uma limonada. Mangabeira não tem um histórico de contenciosos com os chamados setores produtivos do agronegócio, como Marina, militante da causa ambiental que conseguiu reduzir quase à metade o nível de desmatamento da Amazônia nos últimos quatro anos.
Ou seja, o professor da fala empolada e ego nas alturas pode vir a ser a pessoa certa para fazer a conciliação que muita gente considera a única solução viável: dar oportunidade econômica com a floresta em pé. Se isso vai se traduzir em uma mudança efetiva das forças produtivas na região amazônica, é outra história. Mas existe otimismo.
“Cresceu no Brasil ultimamente a sensação de oportunidade, de o Brasil ganhar dinheiro com a proteção ambiental”, disse Arnaldo Carneiro, do ISA. Ele ponderou, porém, que isso tem que ser acompanhado de medidas como o aumento da produtividade nas áreas já degradadas, uma maneira de desestimular o avanço da fronteira agrícola sobre a Amazônia.
“Tem uma luz agora. Mangabeira sinaliza para um programa de desenvolvimento sustentável”, acrescentou Giovanni Queiroz. O deputado defendeu o tratamento diferenciado às micro-regiões da Amazônia Legal, inclusive o polêmico projeto que reduz a área da reserva legal de 80% para 50%, em discussão na Câmara. E Janete Capiberibe, presidente da Comissão de Amazônia da Câmara, apontou os bons resultados de programas de desenvolvimento sustentável no seu estado, o Amapá.
“Sabe por que a Mata Atlântica foi destruída? Porque era um bom negócio”, concluiu Mendes Thame, economista e agrônomo, ex-secretário de Recursos Hídricos de São Paulo e um dos maiores especialistas do Congresso em meio ambiente.
Ele compareceu às últimas conferências da ONU sobre mudanças climáticas (Bali e Nairobi) e integrou um grupo brasileiro que defendeu os biocombustíveis na última reunião da Comissão de Energia do Parlamento Europeu, em Bruxelas.
Thame apontou a ausência de leis que permitam e incentivem esse novo enfoque para a Amazônia. Uma que dê incentivos às empresas se instalarem na região amazônica e ganhar dinheiro com a floresta. E outra que permita o patenteamento dos produtos da região.
O programa sobre o meio ambiente e a soberania da Amazônia será reprisado sexta (30), às 4h e às 11h30; sábado (31), às 12h; domingo (1°), às 9h30; e segunda (02), às 6h e às 10h.
Na próxima terça-feira (03), às 22h, o Expressão Nacional vai debater ao vivo a nova legislação sobre a Internet que está sendo estudada pelo Congresso para punir crimes como golpes financeiros, pedofilia, racismo e outros. As regras vão atingir provedores e usuários. Sugestões e perguntas podem ser enviadas pelo email expressaonacional@camara.gov.br ou pelo telefone gratuito 0800-619619.
Artigo publicado em 29/05/2008. Última atualização em 12/08/2008.
*Antonio Vital é apresentador do programa Expressão Nacional.
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