Até a tarde desta sexta-feira (25), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registra mais de 100 candidaturas com o chamado nome social, ou seja, o nome pelo qual pessoas transexuais, travestis ou outros preferem ser chamadas, ao invés daquele registrado em cartório, que não reflete a sua identidade de gênero. É a primeira vez que a possibilidade poderá ser adotada por candidatos municipais, a medida foi aprovada em 2018. O número de inscritos deverá ser maior, pois o registro está aberto até este sábado (26).
Os partidos desses candidatos variam, vão da esquerda, onde tradicionalmente encontram guarida, à direita. Sharlene Rosa, mulher trans, é pré-candidata a vereadora em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, pelo Solidariedade. Esta é a terceira vez que Sharlene concorre ao cargo. As vezes anteriores, porém, foram pelo Partido dos Trabalhadores (PT). De acordo com a candidata, a mudança de lado se deu por achar que o atual grupo político do Rio de Janeiro tem mais a agregar em sua campanha. “O PT perdeu o governo, isso é tudo troca. Não pensei em mim, mas no grupo”, diz.
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Sharlene afirma que faz parte de uma direita “sem agressividade”. Ela afirma que não ter “nada contra” Jair Bolsonaro. “Eu sou uma mulher trans e não acho que ele seja homofóbico, ele só precisa afinar o discurso”. Para ela, o atual governo ainda não traz benefícios para a comunidade LGBTI+, mas “se existe ONG que recebe verba do governo federal, a comunidade não pode acusar Bolsonaro de homofóbico”.
“Está fazendo igual aos governos passados? Não, mas está fazendo mesmo com a fala errada”, defende. Sharlene ainda afirma que gostaria de conversar pessoalmente com o presidente. “Eu falaria pra ele que entendo o comportamento dele, mas ele precisa entender o nosso também”, pondera.
Baby Brasil é candidata a vereadora pelo PSDB em Goiás. É a primeira vez que ela entra na disputa, mas a caminhada na política já é longa. Há 17 anos é militante pelas causas LGBTI+ e foi nessa caminhada que se inspirou em uma figura política tucana. “Eu entrei para o partido por conta da Maria Rita, que é uma mulher lésbica assumida e foi gestora no governo do Caiado”.
Em relação ao posicionamento homofóbico de Jair Bolsonaro denunciado pela comunidade LGBTI+, Baby diz que “repreende” declarações dele, mas ressalva que o fato de alguns políticos do partido apoiarem o atual presidente não atrapalha na sua luta política. “O PSDB tem espaços que discutem políticas como a diversidade tucana e o tucanafro para que isso mude”, defende.
Levantamento feito pela Aliança Nacional LGBTI+ projeta que as eleições de novembro terão 584 candidatos a vereador e 15 a prefeito ligados ao movimento LGBTI+. Mas os números podem aumentar, já que o prazo final para registro de candidatura vai até este sábado (26).
Dos candidatos que fazem parte do levantamento da Aliança, 69 se identificam como mulheres trans, 17 como travestis e 11 como homens trans, as candidaturas podem ser registradas com nome social no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para Toni Reis, presidente nacional da Aliança Nacional LGBTI+, o nome social no registro da candidatura significa “inclusão, respeito e cidadania respeitando a dignidade humana”.
As candidaturas para o pleito de 2020 estão sendo registradas em sua maioria pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pelo Psol, mas PSDB, PSL, DEM que são partidos com traços conservadores também têm candidaturas LGBTI+, segundo o levantamento da Aliança. Na visão de Toni Reis, isso demonstra que a comunidade tem “diversidade ideológica”, e que “as pessoas têm o direito de apoiar todos os partidos.”
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