Roseann Kennedy*
O presidente Lula esqueceu realmente o papel de chefe de Estado e se colocou definitivamente como um militante petista que age como principal cabo eleitoral de sua candidata Dilma Rousseff em todos os horários do dia. Ele já não diferencia evento oficial de ato de campanha, casa sua agenda privada com a agenda de governo e faz declarações irresponsáveis que incitam a violência dos eleitores.
O presidente Lula retomou os palanques, tomou à frente às inserções da propaganda eleitoral gratuita e joga toda sua popularidade na busca de votos para Dilma.
Se agisse de fato como um estadista, Lula, no mínimo, pediria calma e seriedade à população, para acalmar os ânimos e deixar que a eleição corra democraticamente. Com grupos que defendem um ou outro lado, mas têm direito de se manifestar sem agredir ou serem agredidos.
Mas, em vez disso, o presidente Lula chama tucanos de sem caráter, diz que Deus vingou seus adversários políticos e, na mais recente polêmica de campanha, sobre a agressão sofrida pelo candidato do PSDB, diz ser mentira descarada e farsa, deixando os eleitores ainda mais exaltados.
Ignora que o candidato foi atingido na cabeça por dois objetos e que, na mesma manifestação, um repórter e um militante também ficaram feridos.
A candidata petista também foi hostilizada e se livrou de ser atingida por uma bexiga de água na quinta-feira em Curitiba. Mas também há diferença nessas ações. Desta vez, houve a ação de eleitores tucanos irresponsáveis que acompanhavam o ato político do alto de uma janela. No dia anterior, havia uma militância organizada, com a missão de impedir a ato político do adversário.
Violência chama violência. E a disseminação do ódio, clara nas declarações do presidente Lula, só tornam o ambiente eleitoral ainda mais hostil.
80% de popularidade não dão imunidade para um político agir como bem quer, sem medir conseqüências. Ao contrário disso, exigem ainda mais responsabilidade, tamanha a capacidade dessa pessoa de envolver as massas.
É a terceira campanha presidencial que eu cubro – 2002, 2006 e 2010. Nunca vi ambiente tão tenso e inseguro.
Sem a tranqüilidade da vitória no primeiro turno, como o presidente imaginava que ocorreria, ele colocou sua candidata nas costas e partiu para a briga. Agora, a expectativa é de que faça campanha diariamente, até o último momento permitido pela legislação.
Como não pediu licença do cargo para agir como o militante que tem sido, ainda tem a vantagem de casar a agenda e inaugurar obras durante o dia em locais onde haverá ato de campanha à noite, turbinando ainda mais sua candidata.
Lula criou a candidatura de Dilma. Fez com que ela se tornasse conhecida, ao se afastar um pouco. Justamente no período da onda de boatos na internet, ela estagnou nas pesquisas, e ao assumir o “front” novamente, Lula conseguiu fazer com que a petista voltasse a subir na intenção de voto do eleitorado.
Certo dia Lula chamou Dilma Roussef de “mãe do Pac”. Mas ele é que poderá ser chamado de pai de Dilma nesta campanha. Pois cria, sustenta e a protege.
*Roseann Kennedy é comentarista política CBN. De segunda a sexta-feira, escreve esta coluna exclusiva para o Congresso em Foco
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