Permanecem sob sigilo as partes dos depoimentos que envolvem autoridades protegidas por foro privilegiado. Pela Constituição Federal, deputados federais, senadores e ministros de Estado devem ser julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF); governadores, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ); e prefeitos, pelos tribunais de Justiça.
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Youssef disse que entregou dinheiro em dois escritórios do consultor Júlio Camargo, em São Paulo e no Rio de Janeiro, após trazer para o Brasil valores enviados por Camargo ao exterior. O doleiro relatou que, antes de repassar o dinheiro ao consultor, “retinha o percentual devido ao PP”, a Paulo Roberto Costa e a João Claudio Genu (ex-assessor do PP).
Segundo Youssef, o dinheiro entregue no escritório de Camargo em São Paulo “servia para pagamentos da Camargo Corrêa e Mitsui Toyo ao PT, sendo que as pessoas indicadas para efetivar os pagamentos à época eram [o tesoureiro do PT] João Vaccari e [o ex-ministro] José Dirceu.” Para justificar as acusações, o doleiro disse ter “convicção de que os valores eram destinados ao PT e à Diretoria de Serviços da Petrobras, na pessoa de Renato Duque.”
Em alguns depoimentos, o doleiro detalha a relação de Dirceu com Julio Camargo, nos quais afirma que são amigos. Youssef relatou que Dirceu utilizou o avião de Camargo diversas vezes, após a saída do petista da Casa Civil, em 2005. Ele não soube informar, contudo, o período exato e os motivos das viagens.
Sobre as negociações envolvendo os dois, ele disse que Dirceu era um dos elos de Camargo com o PP. Youssef também apontou o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci como outro elo de Camargo com o partido. O doleiro detalhou ainda que teve acesso a um pen drive em que constava a contabilidade ilícita das movimentações de Júlio Camargo. No arquivo, eram usados nomes falsos para os participantes do esquema. O nome dado a Dirceu era Bob.
Ele disse que a entrega de dinheiro nos escritórios de Camargo ocorreu entre meados de 2005 e meados de 2012. O valor operado foi R$ 27 milhões.
Sobre as entregas no escritório de Júlio Camargo no Rio, Youssef afirmou que eram “pagamentos devidos a Renato Duque e, provavelmente, a outros empregados da Diretoria de Engenharia e Serviços, referente a comissionamentos das obras feitas pela Camargo Corrêa e a Mitsui Yoyo”. Segundo o doleiro, um dos funcionários era Pedro Barusco, que também fez acordo de delação premiada.
Perguntado pelos investigadores sobre as remessas ao exterior, Alberto Youssef explicou que Júlio Camargo não sacava o dinheiro no Brasil, para ludibriar as autoridades públicas sobre a origem dos recursos, que, posteriormente, “seriam usados para o pagamento de propina e formação de caixa 2 dos partidos”.
No depoimento, Youssef afirmou que Camargo tinha o mesmo papel dele, como operador na Diretoria de Serviços da Petrobras, então comandada por Duque. No entanto, Camargo precisava de reais em espécie e procurou o doleiro para que o dinheiro pudesse ser movimentado no Brasil.
Segundo o delator, o esquema de pagamentos de propina aos partidos consistia na assinatura de contratos fraudados de consultoria das empresas de Camargo e as empresas Camargo Corrêa, Mitsui Toyo e Pirelli. Os valores eram enviados para contas no exterior. Depois disso, ficava disponível no Brasil e era repassado aos destinatários.
A defesa de Renato Duque nega que ele tenha recebido valores indevidos durante o período em que esteve na Diretoria de Serviços da Petrobras. Citados na delação premiada de Pedro Barusco, João Vaccari e o PT rechaçam as declarações sobre recebimento de valores indevidos. No entendimento do partido, as declarações sobre irregularidades são para envolver a legenda em acusações sem provas ou indícios, e não merecem crédito.
Em nota à imprensa, o ex-ministro José Dirceu repudiou as declarações de Yousseff de que teria envolvimento com Julio Camargo ou com empresas investigadas pela Operação Lava Jato. Ele negou ter representado o PT em negociações com Camargo ou construtoras e disse que depois que deixou a chefia da Casa Civil, em 2005, sempre viajou em aviões de carreira ou por empresas de táxi aéreo. A nota também destaca a ausência de provas das acusações.
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