Em entrevista ao repórter Alexandre Oltromari, da revista Veja, o usineiro e ex-deputado federal João Lyra (PTB-AL) confirma que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi seu sócio em um jornal e em uma rádio. De acordo com a revista a sociedade durou cinco anos – de 1999 a 2005 – e permitiu, inclusive, que Renan viajasse de graça em jatinhos e helicópteros do usineiro.
Lyra afirmou que Renan pagou R$ 1,3 milhão, correspondente à metade do valor para a compra dos veículos de comunicação, mas que preferiu usar laranjas para que seu nome não aparecesse. “Ele me disse que não tinha como aparecer publicamente à frente do negócio, mas não explicou as razões. Por isso, pediu para colocarmos tudo em nome de laranjas. Eu topei”, disse Lyra à revista.
Embora agora sejam adversários políticos declarados, na época em que a suposta sociedade foi firmada, Renan Calheiros e João Lyra eram aliados. De acordo com o ex-deputado, nos cinco anos em que Renan foi seu sócio, ele fez 23 viagens nos jatinhos do usineiro sem pagar nada por isso. As despesas das viagens foram estimadas em R$ 200 mil, de acordo com a contabilidade da LUG Taxi Aéreo, de João Lyra.
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Esta semana o presidente do Congresso negou que a sociedade tenha existido e acusou a Veja de ser irresponsável e de apresentar denúncias sem provas, além de dizer que vai processar a revista. “Nunca fui proprietário das empresas mencionadas pela revista Veja. Quanta irresponsabilidade! Quanta vilania! Atribui-me um fato de 1999 sem nenhum documento, sem nada, tudo baseado em um relato inverídico e rancoroso do meu desafeto de Alagoas, João Lyra, que me atribui enorme parcela de responsabilidade na sua derrota eleitoral e na sua debacle econômica”, disse Renan em seu discurso (leia a íntegra) no plenário na terça-feira (7).
A nova denúncia sobre o uso de laranjas para a compra das empresas de comunicação foi alvo de uma representação feita pelo DEM. Essa é a terceira representação apresentada este ano contra o presidente do Senado. As outras duas, protocoladas pelo Psol e já encaminhadas pela Mesa Diretora ao Conselho de Ética, referem-se ao uso do lobista Cláudio Gontijo para intermediar as negociações da pensão de uma filha do senador, e à venda de uma fábrica feita pelo irmão de Renan deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL) à Schincariol.
Ao Jornal Nacional, Renan negou novamente as denúncias e disse que "na hora certa apresentará toda a documentação necessária para provar sua inocência". O presidente do Senado também sugeriu que o Conselho de Ética chamasse João Lyra para dar explicações.
Também procurado pela equipe do JN, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP) disse que as novas denúncias devem ser investigadas imediatamente, a começar pelos processos de concessão das rádios ligadas à JR COmunicação e que foram aprovados no Senado.
Novas denúncias
Hoje (11), o jornal Folha de S. Paulo também trouxe novidades sobre o caso Renan. De acordo com reportagem de Leonardo Souza, dois assessores parlamentares do presidente do Congresso negociaram, nos últimos dois anos, mais de 20 veículos, em um valor total de R$ 1 milhão. Os dois teriam sido usados como laranjas nas negociações da JR Comunicações, empresa resultante da sociedade com João Lyra.
Um deles, Carlos Ricardo Santa Ritta, que teria repassado a JR Comunicação para Renan Calheiros Filho em 2005, tem hoje, de acordo com a Folha, oito carros em seu nome. Seis estão quitados e somam R$ 426, 5 mil pelas estimativas do jornal.
O outro assessor, Everaldo Ferro, está sob investigação do Ministério Público por suspeita de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. Ele teria gasto cerca de 70% de seu salário com financiamento de veículos. Um deles foi, inclusive, vendido ao senador Renan Calheiros em 2006.
De acordo com a Veja da semana passada, Ferro foi o portador, em nome de Renan, de R$ 700 mil em dinheiro entregues a João Lyra, como pagamento na sociedade da JR Radiodifusão. (Soraia Costa)
Atualizada às 20h57.
Leia a entrevista de João Lyra à Veja desta semana:
Veja – Como era sua sociedade com o senador Renan Calheiros?
Lyra – Renan foi um bom sócio. Todos os compromissos que assumiu comigo ele honrou. Foi bom enquanto durou.
Veja – O senhor se refere a compromissos financeiros?
Lyra – Sim. Inclusive financeiros. Na compra das rádios e do jornal ele pagou tudo direitinho. Não tenho do que me queixar do senador.
Veja – O senhor nunca teve curiosidade de saber de onde vinha o dinheiro do Renan? Pagamentos em dólar costumam chamar atenção…
Lyra – Sinceramente, no decorrer da minha vida, nunca me preocupei muito com as coisas dos outros. Cada um deve responder pelo que faz.
Veja – Além das empresas de comunicação, que outros tipos de negócio havia entre o senhor e o senador Renan?
Lyra – Eram negócios privados. Não gostaria de me estender sobre eles.
Veja – Por que Renan não quis aparecer como sócio na compra do jornal e da rádio?
Lyra – Ele me disse que não tinha como aparecer publicamente à frente do negócio, mas não explicou as razões. Por isso, pediu para colocarmos tudo em nome de laranjas. Eu topei.
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