Com menos de 20 dias de empossado na presidência da Câmara dos Deputados, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) deu início ao cumprimento de uma de suas promessas feitas durante a campanha, deixando irritados servidores concursados da área de comunicação da Casa. O deputado confirmou com aliados que vai indicar o deputado Cleber Verde (PRB-MA) para gerir o sistema de comunicação social da Câmara, que compreende as emissoras de rádio e TV, o portal e a estrutura de relações públicas. A notícia, denunciada pelo deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), deixou acesa a luz de alerta contra possível interferência da bancada evangélica – à qual Cunha pertence – na programação destes veículos.
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Tradicionalmente, esse tipo de missão é entregue a um jornalista, com aptidões técnicas específicas, a cada início de legislatura da Câmara dos Deputados – e não a um político. Acontece que Cunha, numa decisão inédita, negociou o cargo durante a campanha para a presidência da Casa. Em suas articulações, coube ao PRB a cadeira de gestor da área. Jean Wyllys, que também é jornalista, lembrou que Eduardo Cunha chegou a falar no nome do deputado Celso Russomanno (PRB-SP) para assumir tal cargo, mas Russomanno recusou.
Além do deputado, também estaria sendo especulada a ida para a Câmara dos Deputados de um diretor da Rede Record para coordenar, especificamente, a programação da TV Câmara, em vaga destinada a cargo comissionado – Cargo de Natureza Especial, CNE 7, cujo salário é da ordem de R$ 16 mil.
‘Sem diversidade’
“Isso é escandaloso. Nenhum outro presidente da Câmara dos Deputados colocou o sistema de comunicação da Casa sob a batuta de uma corrente político-ideológica nem contratou profissionais de emissoras comerciais para tocar a programação da TV Câmara, que sempre se definiu pela diversidade, pluralidade, laicidade e independência, justamente para que todas orientações políticas e partidos representados na casa fossem contempladas”, reclamou Jean Wyllys.
O deputado acentuou, também, em texto assinado por ele e divulgado em vários sites e redes sociais, que os ex-presidentes da Casa Marco Maia (PT-RS) e mesmo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), assim como seus antecessores, deixaram o sistema de comunicação sob a gestão dos servidores de carreira concursados, “não submetidos a nenhuma corrente política nem partido”.
“Arrogante e amparado em apoio mal disfarçado da ‘grande’ mídia pelo fato de se apresentar como uma ameaça à estabilidade do governo Dilma, Eduardo Cunha mudará as regras e colocará a comunicação sob a gestão de políticos fundamentalistas religiosos”, criticou o parlamentar do Psol.
Clima de apreensão
Servidores da rádio e da TV que pediram para não ser identificados informaram à RBA que o clima, nos últimos dias, tem sido de apreensão e que diferenças de conteúdo já começaram a ser observadas. “Nestas duas primeiras semanas o site ficou lento e muitas matérias foram publicadas com atraso porque tiveram de passar, antes, pelo crivo de assessores numa atitude que não tinha sido vista anteriormente”, contou um jornalista.
A colocação de Jean Wyllys sobre o assunto foi feita, segundo ele, porque os comentários de bastidores na Câmara nos últimos dias dão conta de que, logo após o carnaval, o presidente vai aproveitar para regulamentar sua decisão.
Eduardo Cunha já tinha afirmado que pretende ampliar os serviços da Rádio e da TV Câmara para os estados, como forma de intensificar a divulgação do trabalho dos deputados nos locais onde se encontram seus eleitorados. A RBA procurou o gabinete do deputado, mas não obteve retorno.
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