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Edson Sardinha
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O jantar oferecido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao grupo de pefelistas liderado pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) ainda causa indisposição na bancada baiana do PT, mesmo passados dez dias. Considerado um dos líderes mais aguerridos que o partido já teve na Câmara, o deputado Walter Pinheiro (PT-BA) não digeriu a reunião que, segundo ele, deveria deixar toda a base governista em alerta. O encontro, na avaliação do deputado, revela a falta de empenho da cúpula governista em relação à candidatura do deputado Nelson Pellegrino (PT-BA) à prefeitura de Salvador. Imagens do presidente Lula com o senador César Borges (PFL-BA), principal adversário do petista na sucessão municipal, foram veiculadas no horário eleitoral. Leia também Pinheiro foi recebido pelo presidente Lula na última sexta-feira (17), junto com os demais integrantes das bancadas do PT e do PCdoB da Bahia. A audiência foi marcada às pressas para tentar reverter o mal-estar causado pela conversa com os pefelistas. As explicações pouco convenceram o ex-líder petista, para quem ACM personifica o político que se pauta pelo binômio adesão-traição. Segundo ele, o jantar alimentou a esperança do senador baiano de se reerguer politicamente e acrescentou um ingrediente na discussão sobre a reeleição da mesa-diretora da Câmara e do Senado. ACM estaria articulando com o Planalto a aprovação da emenda constitucional que favoreceria o senador José Sarney (PMDB-AP), de quem foi ministro nos anos 80. “Ou alguém tem dúvida de que Antonio Carlos Magalhães se movimentou na perspectiva não só de agradar ao governo, como de restabelecer novas fontes com o senador José Sarney?", pergunta. O deputado desqualifica a denúncia da revista Veja a respeito de um suposto acordo financeiro envolvendo a troca de apoio mútuo entre PT e PTB. “Se a denúncia fosse feita a partir da relação política, talvez tivesse mais credibilidade. Seria muita inocência achar que alguém no PT ia dar uma mancada desse tamanho, chamar o PTB para dar dinheiro. Não há isso na história do PT, nem tem no partido gente vacilando para fazer esse tipo de coisa”, afirma.
Walter Pinheiro – O jantar do presidente Lula com o PFL foi extremamente indigesto. A intenção do governo de extrair uma posição de alívio ou melhora nas relações com o Senado só poderá ser medida quando o processo parlamentar voltar à sua normalidade. Mas houve, sem dúvida, um ganhador nessa história, que foi o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL). Primeiro, porque ele extraiu vantagens eleitorais para o seu candidato em Salvador (o senador César Borges, também do PFL) e, segundo, porque o senador está tentando se soerguer de uma crise política vivida por ele no PFL e em função de sua própria situação político-eleitoral. Passados todos esses dias, podemos avaliar que o jantar foi um grande equívoco, com reflexos negativos, porque criou um ambiente de necessidade de respostas por parte do Partido dos Trabalhadores, o que atrapalha qualquer um num momento eleitoral. Se o senador Antônio Carlos foi o ganhador, quem foi o perdedor? Essa é uma lógica que não dá para classificar entre ganhadores e perdedores. Eu diria que nós tivemos prejuízo. Do ponto de vista da inversão, houve uma vantagem do senador Antônio Carlos Magalhães, que sempre foi um cara da adesão e da traição quando é para extrair seus interesses. “Houve uma vantagem do senador Antônio Carlos Magalhães, que sempre foi um cara da adesão e da O senhor diria que o deputado Nelson Pellegrino, candidato do PT à prefeitura de Salvador, foi o grande prejudicado nessa história? O encontro pode não ter tido reflexos muito imediatos, mas numa campanha em que se tem que explicar muito sobre determinado tema, perde-se tempo para buscar votos. No período eleitoral não cabe muita explicação, caso contrário você sai da ofensiva e vai para a defensiva. Isso atrapalha. Você tem de fazer uma campanha na ofensiva e não ficar se explicando. Nós tivemos, durante alguns dias, de explicar fatos acontecidos. O deputado Pellegrino foi um líder disciplinado do PT no ano passado. O senhor considera que ele foi sacrificado pelo governo? Não diria que houve sacrifício, mas que faltou empenho. Essa é a questão central. Não quero considerar como um abandono, mas como um certo distanciamento da campanha de Nelson Pellegrino, o que é ruim. Lula disse que ele (Pellegrino) é o seu candidato do coração e da consciência, mas o jantar acabou impondo algumas coisas que não foram positivas para a candidatura dele. "Lula disse que ele (Pellegrino) é o seu candidato do coração e da consciência, mas o jantar acabou impondo algumas coisas que não foram positivas para a candidatura dele" Esse tipo de conflito revela alguma debilidade na relação do governo com o Congresso e, mais especificamente, com o PT? Governo e Congresso sempre têm uma relação de busca de novos aliados e de construção de novas figuras. É um processo extremamente dinâmico, e o período eleitoral impõe um dinamismo muito maior, que é reflexo dessa política do Executivo de buscar maioria no Legislativo. Erros nessa relação existem, mas continuo enxergando que quem mais ganhou nessa história é quem estava entrando num processo de descenso, que é o senador Antônio Carlos Magalhães, e não o governo. Antônio Carlos, que era líder de três, acabou virando líder de seis ou sete senadores, e, agora, tenta se arvorar como o costurador de uma aliança que seria capaz de resolver parte dos problemas enfrentados pelo governo no Senado, do ponto de vista de não ter maioria para aprovação de matérias. “Quem mais ganhou nessa história é quem estava Isso cria uma sensação de desconfiança entre a base governista e o próprio governo? A base governista termina fazendo um outro tipo de análise. Não é questão de desconfiança, mas da própria relação do governo com um segmento – que todo mundo sabe que é típico dele – que tem como prática se encostar para tirar vantagem. Como também é típico dele trair. A base, no mínimo, vai ficar alerta, porque sabe que pode ter participando dela alguém que não é de inteira confiança. Cria-se um desconforto. O resultado das eleições pode inibir ou agravar esse tipo de conflito? O resultado das eleições impacta nas relações políticas, na medida em que se altera a composição de forças a partir do momento que se sabe quem saiu das urnas ganhador e perdedor. Os partidos também se preparam para cobrar mais. Depois da eleição teremos um outro quadro. E que quadro o senhor antevê? O PT vai ganhar muitas prefeituras. Isso pode abrir um novo cenário favorável ao governo, o que interferirá diretamente na composição da base aliada. O senhor se refere à migração de parlamentares da oposição para a base governista? Mas isso também não pode criar mais conflitos? Mudanças de partido vão ocorrer, tanto de um lado quanto de outro. O processo eleitoral impõe isso. Não sei se o ganho vai ser mais pra cá ou pra lá, mas vai determinar naturalmente um conjunto de migrações. O senhor continua punido pelo PT por ter votado contra a MP do Salário Mínimo… Até hoje não recebi nada, não sei de nada sobre essa punição. "Até hoje não recebi nada, não sei de nada sobre essa punição (por ter votado contra o salário mínimo de R$ 260)" Os outros parlamentares punidos se queixaram da falta de diálogo com a cúpula do partido… Não teve nenhum diálogo. Qualquer um que é julgado é chamado pelo menos para se defender num julgamento. Por isso, quero crer que não houve nenhum tipo de punição. Para se aplicar uma pena, é preciso haver julgamento. Para que haja julgamento, é necessário haver defesa. Não houve nada disso. Na minha opinião, portanto, não houve punição. Que tipo de obstáculos o senhor acredita que o PT e a base governista vão enfrentar no Congresso após as eleições? O governo vai se prender a muitas coisas que ficaram pendentes, como o projeto das agências reguladoras e das PPPs (Parcerias Público-Privadas). O grosso se volta para as questões do final do ano, como o Orçamento e a pauta política, que até envolveu o senador Antônio Carlos Magalhães, que é a reeleição da mesa. O PT não vai entrar em conflito na votação da medida provisória que garante status de ministro ao presidente do Banco Central? Isso vai ferver, mas nem tanto. O período eleitoral diluiu a discussão. O debate vai ocorrer, mas é como a história do travesseiro de pena. Depois de jogá-lo para o alto, podemos catar as penas, mas o travesseiro nunca mais. Então vai ficar como está. Que relação teria o jantar do presidente Lula com senadores do PFL e a reeleição da mesa-diretora? Ela é parte. Ou alguém tem dúvida de que Antônio Carlos Magalhães se movimentou na perspectiva não só de agradar ao governo, como de restabelecer novas fontes com o senador José Sarney? A reeleição é um bom presente para ele achar que foi um dos arautos dessa retomada de discussões para entregar a Sarney a possibilidade de continuar presidindo o Congresso. Mais uma vez, o senador Antônio Carlos Magalhães tenta extrair vantagem, coisa que é muito peculiar a ele. “A reeleição é um bom presente para ele (ACM) achar O noticiário esta semana foi tomado pela denúncia de um suposto acordo financeiro entre o PT e o PTB. O senhor acredita nisso? Não existe isso de forma alguma. O que existe é uma negociação da política. O PTB deve ter se posicionado para ocupar mais espaço na política. As pessoas traduzem isso como se houvessem valores pecuniários envolvidos. Se a denúncia fosse feita a partir da relação política, talvez tivesse mais credibilidade. Seria muita inocência achar que alguém no PT ia dar uma mancada desse tamanho, chamar o PTB para dar dinheiro. Não há isso na história do PT, nem tem no partido gente vacilando para fazer esse tipo de coisa. O que há, repito, é uma negociação política de tentar abrir espaço para o PTB no governo e ampliar a capacidade de relacionamento nos estados. As pessoas exageraram na tinta e perderam a oportunidade de fazer críticas ao modelo político de aliança firmado entre PT e PTB. “Seria muita inocência achar que alguém no PT ia dar uma mancada desse tamanho, chamar o PTB para dar dinheiro” Isso quer dizer que não houve mudança na relação do governo petista com o Congresso? Apesar de achar que o João Paulo Cunha (PT-SP) dirige bem a Câmara, com alguns ingredientes de inovação, considero que o Congresso, neste um ano e oito meses de legislatura, foi muito prejudicado pelo governo. Nós aprovamos muito mais matérias do governo. Poucos foram os debates na Casa envolvendo a política de desenvolvimento. É possível mudar essa situação já no próximo ano? É possível. O João Paulo tem se empenhado nisso. O governo também precisa enxergar que a relação com o Congresso tem de ser cada vez mais qualificada, com maior participação e respeito às iniciativas dos parlamentares, o que qualifica a ação tanto do Planalto como do Congresso. E os parlamentares vão cobrar isso, até porque eles serão julgados em 2006. Nós não vamos querer entrar num julgamento sem ter o que mostrar de trabalho. O vice-líder do governo Sigmaringa Seixas (PT-DF) disse ao Congresso em Foco que, após as eleições, o governo vai pedir mais empenho dos aliados. O senhor acredita que essa exigência se faz necessária? Depois das eleições será necessário analisar o quadro e discutir com os aliados como será o funcionamento da base. Em vez de cobrar empenho, o governo terá de mostrar como teremos um maior nível de interação. Falta diálogo daqui pra lá e de lá pra cá. A base também vai cobrar por mudanças na política econômica? Se a política econômica obteve algum sucesso nesse período, como alguns levantam, e para que isso não seja apenas vôo de galinha, é necessário haver conseqüências na política de juros, na aplicação dos recursos, na maior liberação para investimentos. Mesmo que as parcerias público-privadas funcionem, o setor público é que tem a grande capacidade de investir e aplicar neste país. Para garantir estabilidade econômica e sucesso do ponto de vista do crescimento, será preciso um pouco mais de ousadia. Já para o ano que vem? Tem de ser para agora. No último ano de mandato, administra-se eleição e não mais o crescimento econômico. |
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