Quando 25 mil pessoas saíram às ruas no último dia 7 de setembro em protesto contra a corrupção em Brasília, alguns setores ligados ao PT torceram o nariz para o movimento, afirmando que ele era patrocinado pela oposição e tinha o propósito de desestabilizar o governo. Na semana passada, porém, de forma discreta, o governo deu uma demonstração de que, ao contrário, no mínimo respeita e dará liberdade para que o movimento evolua. Na última quinta-feira (22), a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, recebeu os senadores que formam o grupo parlamentar de combate à corrupção.
Participaram da reunião com Gleisi, além de Cristovam, os senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Paulo Paim (PT-RS), Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe Rodrigues (Psol-AP). Os senadores comunicaram à ministra que criaram um grupo de trabalho para debater e formular um pacote legal com regras para coibir de forma mais dura a corrupção pública. “Abrimos um importantíssimo canal de diálogo com o governo nesse sentido”, comemorou o senador Pedro Simon, em entrevista ao Congresso em Foco. Em contrapartida, os senadores disseram a Gleisi que a presidenta Dilma Rousseff pode contar com o apoio do grupo no seu esforço em punir e diminuir a corrupção no governo.
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Desde que Dilma assumiu o governo, no início do ano, cinco ministros já deixaram seus cargos por denúncias de corrupção, desvio de dinheiro e influência política. Mobilizados em todo canto do país, setores da sociedade começaram a se organizar com o intuito de protestar contra os abusos de poder, além de apoiar as iniciativas da presidenta.
O grupo que discutirá medidas anti-corrupção está abrigado na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). A proposta de criação do grupo foi de Pedro Simon. “Nossa luta é pela moral e pela ética. Queremos encontrar ideias comuns para que cada segmento encontre bandeiras pelas quais lutar. Não queremos definir as bandeiras para os outros, mas queremos ajudar a organizá-las. Temos vários movimentos acontecendo, mas não temos organicidade”, explicou o senador.
O encontro com Gleisi partiu de uma conversa com Cristovam Buarque. “Foi uma iniciativa mútua”, explicou o senador. “Eu sugeri inicialmente o encontro, e a ministra nos chamou”. O intuito da reunião foi prestar solidariedade ao trabalho de combate à corrupção que vem sendo feito pela presidenta Dilma Rousseff. “A reunião foi muito boa. Até ressaltamos que essas ações devem ser tomadas mais depressa, mas a ministra pediu calma, pois o governo precisa manter a governabilidade. Defendemos ainda mudanças mais profundas como mudar o tipo de crescimento que temos no país”, disse Cristovam.
Via alternativa
A iniciativa de criar o grupo partiu de Simon, que inicialmente havia requerido a criação de uma subcomissão temporária. No entanto, a CDH já tem quatro subcomissões em funcionamento, número máximo permitido pelo Regimento Interno do Senado, por isso os senadores optaram por uma via alternativa. “Inicialmente, o requerimento do senador Simon estaria prejudicado. Mas trata-se de um símbolo da sociedade brasileira no combate à corrupção. Além disso, o assunto é da mais extrema relevância e merece atenção especial”, destacou o senador Paulo Paim, presidente da CDH.
Simon lamentou a situação atual do Brasil, conhecido no mundo inteiro como país da impunidade, como assinalou. “Corrupção existe no mundo inteiro. Só que, em outros países, há punição rigorosa. Aqui, não. O máximo que acontece é a exoneração de ministro. No Brasil, basta pagar um bom advogado, e o criminoso não pega um dia sequer de cadeia”, afirmou.
Na próxima terça-feira (27), o grupo deve se reunir para definir as pautas de ação do grupo. “Nos encontraremos, provavelmente, na reunião da CDH. Vamos ainda marcar encontros com entidades como a CNBB e a OAB e outras de quem já recebemos convites”, informou Simon. Perguntado se os senadores pretendem se unir aos grupos que recentemente organizaram protestos por várias cidades brasileiras, como os do dia 7 de setembro, o senador se mostrou cauteloso. “Esses grupos não querem ter ligação com partidos ou políticos. E nós achamos que eles estão certos. Só precisamos definir as bandeiras de luta”, disse.
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