Símbolo de Brasília e referência cultural, o Teatro Nacional Cláudio Santoro, um dos maiores espaços culturais da cidade, está se deteriorando aos poucos. Desde dezembro de 2013, não há espetáculos no espaço projetado por Oscar Niemeyer. Assim, há três anos, as entradas que dão acesso ao edifício servem de abrigo para mendigos e ponto de drogas. Um paradoxo entre a arte e as mazelas da capital do país.
Por determinação do Corpo de Bombeiros, o teatro foi fechado em fevereiro de 2014 para obras. À época, o valor estimado para as despesas estava em torno de R$ 200 milhões. Mas, desde a paralisação das atividades e a não realização das melhorias necessárias, as cifras não param de subir. De acordo com Secretaria de Cultura do Distrito Federal, o gasto hoje está em cerca de R$ 250 milhões. A empresa gaúcha Ismael Solé Associados é responsável pela obra.
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Para o dramaturgo, jornalista e escritor Alexandre Ribondi, que mora em Brasília desde 1968 e começou a atuar no Teatro Nacional por volta de 1970, o fechamento do local revela o descaso do governo com a cultura. “É vergonhoso que a administração pública não ache gravíssimo que o Teatro Nacional, que além de tudo é uma obra de arte, esteja fechado na capital da República. Para eles (governo) isso não faz falta, não é grave”, frisou.
Ribondi criticou a falta de manutenção que deveria ter funcionado como preventivo e evitado o fechamento total do local. “É triste passar em frente e ver ele fechado, com tapumes nas portas e totalmente abandonado. O estrago já está feito. Não deveria ter fechado. A política tinha que ter sido de manutenção”, afirmou.
Erros
Para o arquiteto Frederico Flósculo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB, se o governo local investisse em profissionais especializados para manutenção dos prédios da cidade, o custo com grandes reformas seria reduzido, além de evitar que grandes obras chegassem a esse nível de degradação.
“O GDF é de um amadorismo que não se vê em outras capitais na manutenção dos prédios públicos. Tinha que ter um programa de manutenção que não deixasse o prédio deteriorar, com uma equipe técnica trabalhando diariamente e fazendo o que nós, arquitetos, gostamos de fazer, que é corrigir, aprimorar e adaptar”, ressaltou.
Flósculo afirmou ainda que houve erros na concepção da obra. “Até onde sei, as perícias verificaram alguns problemas na concepção estrutural e na execução da obra. Foi uma obra longa. O prédio foi construído ao longo de 10 anos. Também há erros na manutenção que agravaram alguns problemas do projeto”, afirmou Flósculo, que garantiu: “Na verdade, o Teatro Nacional não vai cair”, ponderou.
Tecnicamente, pela complexidade do projeto de Niemeyer, uma das regras de construção não realizadas diz respeito a dilatação do prédio. “Ao longo do dia qualquer estrutura, ao receber o calor do sol, dilata. O volume cresce, as dimensões aumentam um pouco e depois que anoitece diminui, retrai. Isso é natural de toda construção. O construtor faz o que chamamos de junta de dilatação, que é uma espécie de rachadura projetada”.
Viabilização da obra
Diante de um cenário de crise que atinge o país e o Distrito Federal, a alternativa encontrada pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal (Secult-DF), para que o teatro volte à ativa, foi buscar parcerias e fazer um reestudo da reforma para que o pagamento das despesas possa ser realizado de forma fracionada.
“Estamos adiando determinados investimentos que tem relação com tecnologia e inovação para que a gente consiga focar na obra, na reforma civil, tentando devolver pelo menos a sala Martins Pena pronta ainda neste governo”, disse o secretário de Cultura do DF, Guilherme Reis.
De acordo com o secretário, a pasta está buscando captação de recursos por meio da Lei Rouanet, financiamentos de bancos como o BNDES e o Banco do Brasil, além de apoio do Ministério da Cultura. Reis ressaltou ainda que a segunda etapa é criar uma parceria para a operacionalização do teatro, uma vez que a pasta não tem servidores suficientes para cuidar do espaço.
“O pessoal já se aposentou, há uma diminuição do quadro de servidores da Secretaria de Cultura por aposentadoria e, independentemente disso, é necessário modernizar essa gestão com participação e parceria da iniciativa privada”, destacou o secretário que calcula que a reforma deve iniciar no segundo semestre de 2017.
As obras envolvem 45 mil m², distribuídas pelas salas Alberto Nepomuceno, Martins Pena e Villa Lobos. O teatro possui espaços como a Galeria Athos Bulcão, dedicado a grandes exposições, os Foyers da Sala Villa-Lobos e da Sala Martins Pena e o espaço Cultural Dercy Gonçalves – originalmente projetado para ser um restaurante panorâmico.
Sobre o fatiamento da reforma do Teatro Nacional, o arquiteto Flósculo elogiou a iniciativa. “Melhor fazer aos poucos do que deixar a obra estagnada e se acabando cada dia um pouco mais”, disse ele.
Outros espaços
Em situação precária e semelhante, o Espaço Renato Russo, na 508 Sul, que abriga um teatro e é palco para shows, está interditado desde 2013. No entanto, deverá voltar a funcionar neste próximo ano, conforme informações da Secretaria de Cultura. As obras do espaço já foram iniciadas e a previsão de entrega é para o primeiro semestre de 2017.
Estão sendo realizadas reparações na estrutura predial, nas salas de teatro, revisão de instalações hidráulicas e elétricas, além da instalação de um elevador. Está previsto ainda a construção de um memorial em homenagem ao ex-vocalista da banda Legião Urbana, Renato Russo. O espaço existe desde 1970.
O Centro de Dança do Distrito Federal, no Setor Cultural Norte, fundado em 1993 e desativado também em 2013, também está em reforma e deve ser entregue no início de 2017.
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