O corpo do ex-senador e jornalista Artur da Távola foi enterrado pouco depois das 16h no cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros, nome de batismo do ex-senador e ex-ministro da Cultura, morreu na tarde de ontem (9), aos 72 anos, vítima de complicações cardíacas, em sua casa, no bairro do Leblon, zona sul da cidade.
O velório estava previsto para começar às 9h, mas a chuva atrasou a cerimônia. Coroas de flores foram enviadas por amigos e autoridades, entre elas, o presidente Lula e o governador do Estado, Sérgio Cabral.
Até às 10h, segundo a Agência Estado, pelo menos 50 pessoas passaram pelo velório. Entre os primeiros a chegar estavam os atores Marcos Palmeira e Milton Gonçalves, assim como o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. "O Artur foi um amigo de muitos anos. Ele foi um trabalhista. Era um homem muito inteligente e integro", destacou Lupi.
O ex-governador Geraldo Alckmin ressaltou que o jornalista vai deixar saudades. "Artur da Távola era um homem ético, de boa conduta. Foi um expoente da cultura brasileira e líder no Senado. Assim como Mário Covas, ele transmitia um espírito único", disse Alckmin, acrescentando que costumava assistir ao seu programa na TV Senado sobre música.
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A atriz Mariana Ximenes também acompanhou o velório. "Ele foi um grande poeta e um homem muito especial, com enorme habilidade com palavras", disse. Para o deputado federal Fernando Gabeira, o jornalista teve papel estratégico. "Ele era extremamente aberto para a diversidade. Foi um político que o Brasil necessita hoje", afirmou.
Um dos mais emocionados durante o velório era o jornalista Sérgio Cabral, pai do governador Sérgio Cabral Filho. "Ele era um amigo de meio século. Não apenas o Rio, mas o Brasil perdeu uma pessoa brilhante, inteligente, correta e honesta. Nós tínhamos algo em comum. Nós detestávamos campanha eleitoral", disse.
O filho de Artur da Távola, André Barros, afirmou que o pai deixou uma imagem de ética para o País. "Ele tinha um temperamento quase poético. Isso fez dele uma pessoa especial e diferente. As pessoas viam nele todas as qualidades de todos os trabalhos que ele fez."
Biografia
Carioca, Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros adotou o pseudônimo Artur da Távola, uma homenagem ao Rei Artur da Távola Redonda, em 1968, quando a convite de Samuel Wainer, começou a escrever uma coluna sobre televisão no jornal Última Hora.
Na época, ele havia voltado do exílio no Chile. O jornalista teve seu mandato de deputado estadual, para o qual havia sido eleito em 1962, cassado pela ditadura militar. A coluna sobre TV passou a ser publicada no jornal O Globo. Artur da Távola também publicou 23 livros, a maioria crônicas e estudos sobre televisão e música.
Ele era formado em Direito, mas começou a trabalhar cedo como jornalista. Foi colunista de vários jornais e dirigiu publicações da editora Bloch. Uma de suas maiores paixões eram os programas de música clássica e popular brasileira nas rádios MEC e Senado. Antes de ficar doente e se recolher em casa estava na direção da Rádio Roquette Pinto, emissora do governo do Rio De Janeiro.
Artur da Távola voltou à política nos anos 80. Foi eleito deputado do PMDB fluminense, em 1986. E foi o mais votado para a Assembléia Nacional Constituinte, da qual foi o relator do capítulo sobre Comunicações.
Durante a Constituinte, defendeu alterações na legislação reguladora das concessões de canais de TV. Queria facilitar a criação de emissoras vinculadas à sociedade civil. Deixou o PMDB para fundar o PSDB. Foi eleito senador em 1994 já no ninho tucano, pelo qual cumpriu um mandato de oito anos. Foi secretário de Cultura do município do Rio de Janeiro, em 2003.
O governador Sergio Cabral decretou luto de três dias pela morte do ex-senador. Em nota, Cabral afirma que “Artur da Távola prestou grandes serviços ao jornalismo e à vida pública brasileira. O Rio de Janeiro e o Brasil sentirão saudades de Artur da Távola”. No Congresso, o lider do PSDB no Senado, senador Arthur Virgílio (AM), também distribuiu nota de pesar. (Lúcio Lambranho).
Leia a íntegra da nota da liderança do PSDB no Senado:
"Em nome pessoal e em nome dos senadores do PSDB, manifesto profundo pesar pelo falecimento, hoje, no Rio de Janeiro, do querido amigo, talentoso jornalista, notável escritor e bravo companheiro Paulo Alberto Monteiro de Barros, o Artur da Távola.
Deputado estadual por dois mandatos, o advogado, formado pela PUC do seu Rio de Janeiro, foi também, por duas vezes, deputado federal, Constituinte de 1988 e líder da bancada de um PSDB que ousadamente nascia para renovar a política brasileira. Por último, elegeu-se senador e exerceu a Liderança do Governo Fernando Henrique.
Não mais disputou eleições e passou a se dedicar à sua mais forte vocação: crônica, poesia, romance, música. Treze livros publicados, e não sei quantos mais, porventura, inéditos.
Deixarão saudades os programas que empreendia na TV Senado e na Rádio Senado. Ali estava a sua alma generosa. Ali brilhava o seu cérebro privilegiado. Ali reluzia a sua sensibilidade singela.
A sua esposa, Miriam, e a todos familiares, amigos, entes queridos, o sentido abraço de solidariedade da bancada tucana no Senado".
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