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A reportagem lembra que, em 2010, quando a presidenta Dilma Rousseff deixou o comando da Casa Civil para disputar a Presidência da República, Erenice a substituiu por apenas cinco meses, e teve de renunciar ao cargo devido a denúncias de corrupção – a revista faz menção às acusações de que ela atuou em benefício dos negócios do marido e do filho. Fora do governo, continua a revista, a também especialista em Direito Sanitário abriu em Brasília um escritório de advocacia – que teria se transformado em “ponto de peregrinação para empresários de diferentes setores com interesses no governo”.
“Os documentos apreendidos pela polícia põem Erenice no centro do escândalo da Receita e ajudam a compreender o segredo de Midas. Um deles é um contrato firmado entre ela e o braço brasileiro da Huawei, gigante chinês da área de telecomunicações. Erenice se compromete a prestar à companhia “serviços profissionais relativos à defesa fiscal da contratante no âmbito da Administração Tributária Federal”. Na prática, incumbiu-se de defender os interesses da Huawei no Carf, o tribunal da Receita no qual agia a quadrilha especializada em vender decisões. E o mais grave: para garantir o sucesso da empreitada, a ex-ministra se associou ao advogado José Ricardo da Silva, então membro do conselho e um dos mais destacados integrantes da quadrilha”, diz trecho da reportagem, intitulada “O segredo da Casa Civil”.
Veja informa que o contrato em Erenice e a Huawei foi acertado em 2013 com condições que renderiam muito dinheiro para a ex-ministra. “Em valores atualizados, a Huawei discute no Carf um débito de 705,5 milhões de reais, resultante de cobranças efetuadas pela Receita Federal. Nos documentos apreendidos, está estabelecido o prêmio a ser pago a Erenice em caso de êxito: 1,5% do valor que a empresa deixaria de recolher aos cofres públicos. Admitida a hipótese de a cobrança ser anulada integralmente, caberiam a ela nada menos que 10 milhões de reais. […] José Ricardo ocupou o conselho do Carf até fevereiro do ano passado. Resumindo, Erenice se associou a um conselheiro do Carf para atuar em favor de uma empresa multada pelo próprio Carf.”
A revista teve acesso também a mensagens eletrônicas revelando a “mãozinha” que Erenice deu ao advogado para que ele aumentasse sua influência sobre as decisões da Receita. “Numa delas, encaminhada ao e-mail funcional dela no Palácio do Planalto, José Ricardo escreve a um irmão da ministra, também advogado, e também sócio na empreitada junto à Receita. Ele pede a intervenção de Erenice na composição do Carf: ‘Segue apresentação da pessoa que lhe falei, apta a ocupar a presidência do Primeiro Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda’. Com a mensagem, seguiu um anexo com o nome do próprio José Ricardo e de quatro sócios dele – três dos quais também foram conselheiros do Carf e figuram no rol de investigados na Operação Zelotes. Erenice, logo após receber o texto do irmão, responde: ‘Estou enviando curriculum dos meninos. Bjs’”, diz o texto.
A revista lembra ainda que, atualmente, tramitam no Carf centenas de processos cujos valores se aproximam de meio trilhão de reais. “A investigação identificou um grupo que, atuando em parceria, oferecia veredictos favoráveis no conselho em troca de polpudas propinas ou, nos casos mais sofisticados, uma taxa de sucesso sobre o valor que eventualmente conseguissem abater dos débitos fiscais das empresas. Estima-se que eles possam ter causado aos cofres públicos um prejuízo superior a 19 bilhões de reais ”, registra a revista, acrescentando que Erenice integrará “em breve” a lista de investigados da Zelotes.
Dirceu e Palocci
A revista usa o caso de Erenice para demonstrar que vários dos ex-ministros da Casa Civil enriqueceram depois de ocupar o posto – sempre “à custa dos cofres públicos”, diz outro trecho da reportagem de Veja. A publicação recorda de maneira resumida situações envolvendo tanto José Dirceu, um dos condenados no processo do mensalão, e Antonio Palocci, que também deixou a pasta em meio a denúncias de corrupção. Dirceu foi intimado a prestar esclarecimentos sobre os ganhos de sua consultoria criada depois de deixar o Planalto.
“Qualquer negociação estratégica com o setor produtivo e o Congresso passa necessariamente pela Casa Civil, que, com mais ou menos delegação, dependendo da circunstância, representa a vontade do presidente na definição de obras de infraestrutura, liberação de linhas de crédito em bancos oficiais, vetos e indicações para os mais altos cargos da administração pública. […] De 2006 a 2013, o ex-ministro faturou 39 milhões de reais, pagamentos que continuaram a ser feitos mesmo após ele ter sido preso. Antonio Palocci, que multiplicou seu patrimônio declarado em vinte vezes, incluindo carros e imóveis de altíssimo luxo, também está às voltas com o Ministério Público”, arremata a revista.