A troca de farpas entre os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP) – que ganhou força após o Congresso derrubar o veto presidencial que impedia o endurecimento da pena contra o crime de fake news – revela um desgaste mais antigo entre o partido do presidente Jair Bolsonaro e o movimento que articulou o impeachment de Dilma Rousseff. Lideranças do MBL confirmam que, apesar de terem pavimentado o caminho para a eleição de Bolsonaro, têm sido frequentes os desentendimentos com o “bolsonarismo”. O PSL reitera e até ironiza o movimento que é representado por Kim na Câmara dos Deputados.
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“Quem é o MBL? Não é nem uma personalidade jurídica estabelecida. Não existe”, declarou o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar (PE), quando questionado sobre a relação da legenda com o Movimento Brasil Livre (MBL). Ele ainda disse que seu partido não precisa do apoio dos parlamentares ligados ao movimento para aprovar o que deseja no Congresso e, por isso, não está preocupado com a crise instalada entre Kim e Eduardo Bolsonaro. “O MBL é um movimento ativista, que hoje está com A, mas amanhã está com B”, alegou Bivar, que, no entanto, minimizou a troca de acusações entre os deputados: “O parlamento é um lugar para discutir convicções. Não significa crise. É dissonância de pensamentos”.
Coordenador nacional do MBL, Renan Santos rebateu as declarações de Bivar. “Quem é o MBL? O MBL é o grupo do Kim que tirou os R$ 500 milhões do fundão da boca dele”, alfinetou Santos, dizendo que o desgaste na relação entre MBL e PSL é antigo. Segundo Renan, essa crise começou desde que o MBL percebeu e contestou o “jogo sujo do bolsonarismo”, mas agora foi publicizada porque o PSL está incomodado com a articulação que o MBL vem fazendo para impedir o aumento do fundo eleitoral em 2020.
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“O PSL teria o maior fundão de todos. Queria construir uma máquina com isso”, alegou Santos, dizendo que os próprios deputados queriam essa verba para não ficarem dependentes de Bolsonaro. “Ninguém quer ficar dependente do bolsonarismo, porque este é um fenômeno em que você precisa se humilhar e se sujeitar para permanecer dentro dele”, denunciou o coordenador do MBL, dizendo que o próprio Movimento Brasil Livre se afastou do PSL depois de perceber esse modus operandi.
“É impossível ter uma relação civilizada com esses caras. Basta ver a situação do Moro. Essa galera faz questão de jogar sujo e atacar as pessoas que não se submetem a eles. Ou você se submete ou é exposto. Por isso, criaram uma máquina de destruição de reputações. E quem está com eles está por medo disso ou por oportunismo, para surfar na popularidade de Bolsonaro”, declarou Renan Santos.
Ele ainda disse que o próprio MBL é atacado há tempos pelo PSL. Afinal, antes do episódio das fake news, integrantes do movimento já haviam contestado medidas do governo como a liberação de emendas durante a votação da reforma da Previdência e a transferência do Coaf para o Banco Central. Kim também chegou até a apresentar um projeto que impediria a nomeação de Eduardo Bolsonaro como embaixador. “Tem bots e youtubers que fazem esse ataque baixo”, contou Santos.
O coordenador do MBL garantiu, contudo, que, mesmo com os ataques, o movimento vai continuar defendendo o que pensa, seja a favor ou contra o governo. “A gente sempre esteve orientado pelo Brasil. Basta lembrar que a gente discordava profundamente do Temer, mas apoiamos a PEC do Teto porque era boa para o Brasil. Se o Joaquim Levy levasse a reforma da Previdência nós íamos apoiar. Então, se eles acertarem, nós vamos apoiar. Se errarem, nós vamos bater”, prometeu Santos, destacando que discorda “de boa parte deles na forma e no conteúdo”.
“Eles são iguais ao PT. Querem submissão total, mas não vão ter. E essa lógica de Bolsonaro de atirar em todo mundo está cortando pontes, deixando-o isolado como um deputado de baixo clero. É preocupante”, concluiu o coordenador do MBL.
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Eduardo x Kim
O embate entre Eduardo Bolsonaro e Kim Kataguiri começou depois que o deputado do PSL e o pai, o presidente Jair Bolsonaro, culparam Kim pela decisão do Congresso de derrubar o veto presidencial ao projeto das fake news, como defendia o deputado do DEM.
“A pena para quem divulgar fake news é o dobro da pena para quem comete um homicídio culposo. Além disso, o que é fake news? Sabemos que nossos inimigos não têm caráter e mesmo falando a verdade eles nos processarão dizendo que estamos divulgando fake news. […] Mais uma vez ‘agradecemos’ aos esforços do dep. Kim Kataguiri (DEM-SP) por ter destacado o veto do PR Bolsonaro e propiciado essa vitória que a esquerda ora celebra”, reclamou Eduardo Bolsonaro no Twitter.
Kim, então, respondeu: “Você reclama porque não leu o projeto, aliás, nem estava no plenário durante a discussão, como nunca está. Se era contra, por que não participou do debate? Por que não foi virar votos a favor do veto? Férias pré-embaixada?”. O deputado ainda chamou Eduardo para o debate, mas no dia seguinte não encontrou o colega na Câmara e o chamou de covarde no plenário.
“Ele é leãozinho de Twitter, como parece ser todo o Governo e o Presidente da República. Na hora de votar, registra a digital ali e vai embora. Ele vota projeto sem ler, vota medida provisória sem ler, vota veto sem ler. Eu sei que vota sem ler, porque marca presença, vai embora e depois fala besteira sobre o projeto. No Colégio de Líderes, durante a reforma previdenciária, não ajudou em um voto, não trouxe um voto a mais para a reforma previdenciária e depois disse: ‘Não, quem é falso direitista, quem é falso liberal, quem é falso conservador é quem é do MBL’. Ele não moveu uma palha, só move palha agora para ser indicado embaixador. E aí o Governo oferece emenda para Senador, oferece cargo para Senador, faz acordão para abafar a Operação Lava-Jato. Isso não escandaliza o Deputado Eduardo Bolsonaro, que, ressalto, está na Casa e não tem a coragem de vir aqui, olhar no meu olho e dizer na minha cara que o mérito do projeto é sobre fake news, quando não é, é sobre denunciação caluniosa”, discursou Kim Kataguiri na última quinta-feira (29), pedindo que Eduardo tomasse “coragem e vergonha na cara”. “O pior de tudo é ser rato, é ser covarde, é não ter coragem de vir aqui e falar na minha cara o que fala na Internet. Isso é coisa de moleque! E olha que eu sou 10 anos mais novo que você. Tenha vergonha, Deputado”, disse Kim.
Algum tempo depois, Eduardo Bolsonaro foi então ao plenário da Câmara e discursou defendendo o veto presidencial ao projeto das fake news. Já nas redes sociais, postou uma foto do plenário esvaziado e disse “Nestes termos você me chama para outra coisa, não para o debate. Poderia ser raso como você e perguntar onde estava hoje à tarde quando discursei. Quando for menos arrogante podemos conversar, até lá no máximo faremos como em 2014 quando você pedia vídeos comigo na Paulista e depois de eleito os deletou”, despertando uma guerra de tweets com Kim que até este domingo (1º) repercute entre os aliados do PSL e do MBL.
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A análise do Renan Santos se encaixa ao desabado relatado pela deputada do PSL, Alê Silva, numa comissão recentemente dado a sua suspensão.