Crise política, econômica e de representatividade. Proibição de doações empresariais, teto de gastos, tempo reduzido à metade para a campanha, redução no número de candidatos aptos a debates televisivos e novo formato de horário eleitoral no rádio e na TV. O clima de tensão e de desconfiança generalizada e as mudanças na legislação tornam a disputa eleitoral deste ano a mais difícil e a mais imprevisível entre as realizadas desde a redemocratização, em 1985, segundo alguns dos principais pesquisadores de opinião do Brasil. O assunto foi discutido em seminário promovido pelo Instituto Patrícia Galvão, acompanhado pela Revista Congresso em Foco em São Paulo.
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À primeira vista, a redução dos recursos financeiros e do tempo de exposição das candidaturas favorece a reeleição dos atuais prefeitos e vereadores e a vitória de nomes mais conhecidos do eleitorado. Mas a perda de credibilidade dos partidos e dos políticos tradicionais e a insatisfação com o cenário atual deixam uma fresta para o avanço de novos personagens. Um cenário desafiador para os candidatos e até para os pesquisadores mais experientes do país.
“Não dá para repetir o passado. Todo o histórico que temos de aprendizado será zerado este ano”, admite a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari. “Com tempo curto e menos dinheiro, um candidato novo terá menos condições para ser conhecido. A eficácia da comunicação é que vai fazer a diferença. As redes sociais terão um papel muito forte”, acrescenta.
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Pesquisas qualitativas feitas pelo Ibope indicam um eleitor absorvido pela raiva e pela frustração, diante do atual cenário político e econômico. As respostas dos entrevistados, segundo Márcia, mostram que a crise é mais abrangente do que as anteriores. Alcança questões sociais, políticas, econômicas e morais e abala até a confiança do cidadão em si mesmo. “As pessoas consideram que o governo deu corda para elas se enforcarem. O desemprego, a falta de perspectiva, a insegurança e o medo de tudo, fomentados pelas redes sociais, geram a intolerância e a maior agressividade entre as pessoas”, considera Márcia.
Diretor de Pesquisas do Datafolha, Alessandro Janoni acredita que o sentimento de traição e a falta de perspectiva alimentam o ceticismo do eleitor em relação à disputa municipal. “Isso explica porque temos no momento a maior taxa de brancos e nulos em período equivalente”, observa. Para conquistar o voto dessa fatia do eleitor em uma campanha de tiro e dinheiro curtos, o candidato terá de se reinventar e adequar seu discurso às demandas da sociedade. “Não haverá espaço para erros”, afirma Janoni.
Com a experiência de quem trabalhou em mais de 20 campanhas eleitorais de diversos partidos, a socióloga e pesquisadora Fátima Pacheco Jordão enxerga nas eleições de 2016 a possibilidade de uma mudança de qualidade na relação entre eleitor e candidato. “Nesta eleição não bastará prometer. Será preciso mostrar como fazer as coisas. As pessoas querem mais serviços”, afirma.As pesquisas qualitativas, explica Fátima, indicam que a avaliação dos políticos é baixíssima e que há um descompasso enorme entre eleitor e partido, independentemente de qual seja. Mas, ainda assim, pondera a socióloga, há uma vigilância maior por parte do eleitorado em relação aos candidatos em razão das investigações da Operação Lava Jato. “As pessoas estão muito mais atentas do que no passado ao histórico dos políticos”, entende.A tendência, avalia, é que o voto seja definido, mais do que nunca, na última hora, a exemplo do que costumam fazer as mulheres, responsáveis hoje por pouco mais da metade do eleitorado nacional. “Historicamente 60% das eleitoras decidem nas 48 horas anteriores à votação. Este ano esse percentual deverá chegar a 75% devido à maior desconfiança”, conta.
Especialista em pesquisas sobre o comportamento do consumidor emergente no Brasil, o publicitário Renato Meirelles ressalta que a rejeição do eleitor não é à política em si, mas à forma que ela tem sido feita. “Os partidos contribuíram para a criminalização da política e para que a sociedade pense que estão todos no mesmo saco. É um risco a política não se reinventar para se reconectar com a sociedade”, critica o fundador do Data Popular e do recém-criado Instituto Locomotiva. “A classe política ainda é analógica e não entende a nova dinâmica do eleitor”, emenda.
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