Paulo Henrique Zarat
Da mesma forma que os brasileiros andam frustrados com os sucessivos escândalos protagonizados por mensaleiros e sanguessugas sobre os tapetes verdes da Câmara, os deputados também estão decepcionados com a atuação dos nossos jogadores nos gramados da Alemanha. A maioria deles avalia que, apesar da classificação antecipada, o rendimento do Brasil na Copa do Mundo está bem abaixo do que se poderia esperar de um time que tem craques do porte de Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Kaká, Adriano, Robinho e companhia.
Acostumados a serem vidraça na vida política, os parlamentares passam sem constrangimento à condição de estilingue quando o campo é o do futebol. Os principais alvos do time ouvido pelo Congresso em Foco são o técnico Carlos Alberto Parreira e o atacante Ronaldo. Com um olho na TV e outro no plenário, alguns deles são tachativos: o Brasil não ganhará a Copa desta vez. Pelo menos se não mudar a forma de jogar.
"Não gostei da atuação do time brasileiro nos primeiros jogos da Copa. Foi muito abaixo daquilo que se esperava. Eu fico triste quando vejo o Parreira dizer que o bonito é ganhar. Tenho certeza que dá pra ganhar e fazer bonito", diz, com autoridade, o deputado Deley (PSC-RJ), ex-volante do Fluminense que encantou o país nos anos 1980.
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Ex-treinador do tricolor carioca, Deley critica o esquema tático levado a ferro e fogo por Parreira e a insistência do treinador em manter certos jogadores em campo, mesmo quando o time está apresentado um desempenho ruim na partida. O deputado conhece bem o técnico da seleção. Sob o comando de Carlos Alberto Parreira, foi campeão brasileiro em 1984 pelo clube das Laranjeiras.
Quadrado trágico
"Eu colocaria o Juninho Pernambucano no lugar do Adriano para deixar mais soltos o Ronaldinho Gaúcho e o Kaká. Também tiraria o Cafu e botaria o Cicinho na lateral direita", comenta Deley. "Agora, se o jogo está ruim, bota o Robinho no lugar do Zé Roberto. Robinho é uma opção fantástica para se ter no banco", completa o deputado, que também atuou por Palmeiras e Botafogo.
PublicidadeO deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), ex-sub-relator da CPI dos Correios, também não gosta da combinação Ronaldo Fenômeno, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Kaká. Para Cardozo, o "quadrado mágico" se revelou um "quadrado trágico". Para ele, Ronaldo não tem lugar mais no time. Juninho Pernambucano deveria estar no lugar dele, segundo o petista. E, na frente, apenas Ronaldinho Gaúcho e Adriano. Kaká e Juninho seriam os responsáveis pela ligação do meio de campo com o ataque. "Do jeito que está, o Brasil pode até passar das oitavas-de-final, mas não passa das quartas", prevê Cardozo.
O ataque da seleção também está na mira do deputado palmeirense Marcos Abramo (PP-SP). Na opinião dele, o quadrado mágico não tem como dar resultado e tem de dar lugar a um "triângulo mágico", formado por Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Fred. Abramo gostaria que Parreira experimentasse mais os jogadores que estão no banco de reservas. "Com um banco rico desses, daria mais chances aos reservas para eles mostrarem seus talentos", diz o deputado.
Pelas laterais
Mas será que o problema da seleção está mesmo no ataque? Para alguns dos nossos deputados, os gols não têm saído com a naturalidade que se esperava por culpa dos laterais. Roberto Carlos, 33 anos, e Cafu, 36, já não têm pernas e pulmão para correr todo o campo, defender, apoiar e armar as principais jogadas da equipe. Na avaliação de Júlio Delgado (PSB-MG), lateral-esquerda nas horas vagas, Cafu e Roberto Carlos não têm mais condições de serem titulares da seleção.
"Os dois não estão desempenhando o papel que deveriam desempenhar, estão aparecendo pouco", diz. O deputado tem esperança de que Parreira escale Cicinho no lugar de Cafu para o jogo de hoje contra o Japão. E, se mesmo assim, as jogadas laterais não acontecerem, o técnico deveria deslocar Zé Roberto para a lateral esquerda, puxando Juninho Pernambucano do banco para o meio. Sempre que pode, às terças-feiras à noite, Júlio Delgado e outros deputados jogam uma pelada num clube da capital federal.
A mesma estratégia defende o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que também critica a falta de jogada pelas laterais. Gabeira considera que Parreira está errado ao insistir em escalar Ronaldo e Adriano no mesmo time. "Você não pode colocar dois centroavantes pesados jogando juntos", reclama Gabeira, torcedor apaixonado do Flamengo.
Um olho no plenário, outro na Copa
Vários televisores estão espalhados pelas dependências da Câmara dos Deputados. Na hora dos jogos, os funcionários se posicionam em frente à TV para assistir às partidas e comentar as jogadas. No cafezinho contíguo ao plenário, os deputados não desgrudam os olhos das TVs. Quando o Brasil entra em campo, o Congresso fica vazio. Apenas os seguranças e os funcionários do setor de informática permanecem no prédio e, mesmo assim, arrumam um jeitinho para não perder nenhum lance.
Apesar da frustração com o desempenho da seleção nos dois primeiros jogos, a maioria dos entrevistados acredita que o time irá melhorar no decorrer na competição e chegar à final. A maioria tem até preferência pelo adversário na decisão: a Argentina. Outros antevêem um confronto decisivo de boas recordações – Brasil e Alemanha. É o caso de Júlio Delgado. O problema, prevê ele, é que o resultado desta vez será diferente do da Copa de 2002. "A Alemanha é a favorita desta Copa. Jogando em casa, com a torcida apoiando do jeito que está, é muito difícil ganhar dela", alerta.
O mais otimista dos deputados entrevistados pela reportagem é o líder da oposição, José Carlos Aleluia (PFL-BA) Acostumado a adotar um discurso apocalíptico toda vez que ocupa a tribuna para disparar contra o governo Lula, o pefelista baiano pinta mais uma estrela na constelação das conquistas do futebol brasileiro. "Nós temos um time excelente, mas os dois primeiros adversários do Brasil jogaram na retranca. A marcação em cima dos nossos atacantes foi intensa e isso atrapalhou o desempenho do nosso time", explica Aleluia. Para o ilustre torcedor do Ipiranga, time da segunda divisão do campeonato baiano, a explicação para o baixo número de gols das primeiras partidas do Brasil na Copa está na maneira como jogaram os nossos adversários – fechados atrás, sempre.
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