Um dos alvos da Operação Lava Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), diz que a corrupção não está no Parlamento, mas no governo. Entre os políticos que serão investigados no Supremo Tribunal Federal, o peemedebista acusa o Executivo de tentar transferir sua crise para o Legislativo. “Esse é um esquema do Poder Executivo. A corrupção está no governo, não está no Parlamento. Eventualmente, alguém do Parlamento pode ter se beneficiado da corrupção do governo, o que é uma coisa que está sendo investigada. Há um esquema sistêmico de corrupção da Petrobras”, afirmou em entrevista ao jornal El País.
Embora 22 deputados, 12 senadores e 12 ex-parlamentares estejam na lista dos investigados no Supremo Tribunal Federal (STF), Cunha diz que a corrupção não é obra do Legislativo. “Alguns parlamentares até podem ter apoiado sem saber que era corrupção, pela natureza política. Outros podem ter compartilhado. Essa crise é do Poder Executivo, não é daqui”, acrescentou.
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O presidente da Câmara alega que há “uma nítida tentativa” por parte do governo de transferir a responsabilidade pelo escândalo para o Congresso. “Como se fosse aqui que se assinasse a contratação de plataforma, que construísse refinaria, que convidasse cartel de empreiteiras para participar de licitação. Onde se faz isso é lá”, declarou.
Na entrevista ao jornal espanhol, o presidente da Câmara também responsabilizou o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pela corrupção na Petrobras. De acordo com Eduardo Cunha, um decreto de FHC foi a “porteira da corrupção” na estatal.
“Desde que alteraram o regulamento de licitações da Petrobras. Ela deixou de obedecer a Lei 8666 [das licitações públicas] e passou a ter um regulamento próprio, por carta convite. A partir disso se formaram os carteis e foi a porteira da corrupção”, declarou.
Eduardo Cunha será ouvido pela CPI da Petrobras nesta quinta-feira. O presidente da Câmara se antecipou à votação dos pedidos de convocação e se dispôs a esclarecer as suspeitas que recaem contra ele.
Veja a íntegra da entrevista no jornal El País
Sob suspeita
A petição da PGR se baseia em depoimento do ex-policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, que contou ter levado, em depoimento prestado em 18 de novembro do ano passado, que levara “umas duas ou três vezes”, a mando do doleiro Alberto Youssef, dinheiro para uma casa na Barra da Tijuca, que, segundo o doleiro, “era a casa de Eduardo Cunha”.
“Nessa casa fui atendido e entreguei o dinheiro ao proprietário, mas não posso afirmar com certeza que seja Eduardo Cunha”, disse o policial ao MPF. No dia 5 de janeiro de 2015, ele mudou a versão. Retificou o endereço da entrega, alterando o nome do condomínio e disse não saber se a casa seria mesmo de Eduardo Cunha. O endereço citado é de um advogado aliado do presidente do PMDB no Rio de Janeiro, Jorge Picciani, pai do novo líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Os investigadores suspeitam que o ex-policial tenha sido pressionado a mudar seu depoimento.
De acordo com o jornal O Globo, a ex-deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), fez pressão pública sobre as empresas Samsung e Mitsui, representadas no Brasil pelo executivo Júlio Camargo. Em seu depoimento de delação premiada, o doleiro Alberto Youssef acusou o presidente da Câmara de receber propina no esquema de desvios da Petrobras por um contrato de aluguel de um navio-plataforma das duas empresas.
Segundo Youssef, a pressão ocorreu por causa de interrupção no repasse dos pagamentos ao PMDB, motivada pela suspensão da comissão paga pelas duas empresas a Camargo. Solange apresentou requerimentos em comissão da Câmara contra o executivo e as empresas. Logo em seguida, Júlio Camargo voltou a pagar propina ao PMDB, segundo Youssef.
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