As recentes declarações do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sobre a necessidade de se travar uma “disputa ideológica” com os evangélicos resultou na obstrução da sessão desta quinta-feira (9) na Câmara. Deputados da bancada evangélica resolveram impedir as votações até que Carvalho se retrate. Hoje estava prevista a análise de acordos propostos pelo Brasil com outros países.
“O Gilberto Carvalho deve uma explicação – e esta é uma Casa política -, enquanto ele não explicar que rede é essa que quer montar. Ele quer uma rede, que rede é essa? Quer montar uma rede para fazer o enfrentamento ideológico através da mídia. Ele vai usar o quê? As televisões do governo? Vai comprar horário? Enquanto ele não fizer isso, todas as quintas-feiras nós vamos derrubar as sessões aqui”, disparou o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), um dos coordenadores da bancada evangélica.
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Durante debate no Fórum Social Mundial, ocorrido em Porto Alegre (RS), no final de janeiro, Carvalho disse que é preciso montar uma rede para enfrentar ideologicamente os evangélicos. Segundo ele, esse segmento religioso possui uma visão de mundo controlada por pastores de televisão. “É preciso fazer uma disputa ideológica com os líderes evangélicos pelos setores emergentes”, disse Gilberto Carvalho.
No debate, Carvalho foi questionado por participantes sobre o motivo de o governo ser conservador em temas como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O ministro respondeu que o entrave para avançar na discussão eram os evangélicos.
“Este governo que fala tanto em discriminação… Vem agora o ministro do governo tomar uma posição de discriminação em relação aos evangélicos, chamando-os de retrógrados, dizendo que a lei do aborto não é aprovada por causa dos evangélicos”, disse o líder do PR, Lincoln Portela (MG). Irritado com as declarações do ministro, o senador Magno Malta (PR-ES) – também evangélico – usou a tribuna do Senado ontem para chamar Gilberto Carvalho de “safado” e “mentiroso”.
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) fez um apelo aos evangélicos para que a sessão fosse mantida e os projetos em pauta pudessem ser analisados. Para ele, Gilberto Carvalho não deve explicar sua opinião. “Agora, acho que ele tem que dizer se o Estado está se confundindo com religião novamente. Isso é outra coisa”, disse o pedetista. “Não percebo que seja o caso aqui de uma obstrução, de levarmos a uma radicalização, porque daqui a pouco vira uma discussão religiosa realmente.”
Presidindo a sessão desta manhã, a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) também fez um apelo aos deputados. Ela lembrou que a produção nesta semana foi pequena – apenas uma medida provisória foi aprovada – e que os parlamentares têm a necessidade de “apresentar resultados”. “Não justifica que nós paremos a pauta da Câmara dos Deputados para aguardar a resposta do Gilberto Carvalho ao PR, mais diretamente ao PR”, afirmou.
As sessões matutinas de quinta-feira são reservadas para votação de projetos que não atraem polêmicas entre base e oposição. Normalmente, são analisadas propostas de acordos internacionais e liberação de créditos. Seu quorum é menor que nos outros dias, já que os parlamentares costumam voltar no início da tarde para seus estados. Enquanto ontem (8) mais de 430 deputados estavam presentes, hoje esse número ficou em 319.
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