O advogado Rogério Tolentino, sócio do empresário Marcos Valério Fernandes, comprometeu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) e contestou a versão do deputado José Mentor (PT-SP) sobre a origem do dinheiro que recebeu do valerioduto. Em depoimento à CPI dos Correios, Tolentino afirmou que comprou um apartamento em São Paulo de Maria Ângela Saragoça somente porque ela era ex-mulher de Dirceu.
Integrantes da CPI alertaram Tolentino de que o episódio caracterizaria tráfico de influência – algo que o advogado não contestou. “Tolentino não conhecia o apartamento, não tinha imóvel em São Paulo e comprou aquele em razão da proximidade com o então chefe da Casa Civil", disse o sub-relator de Movimentação Financeira, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), ao caracterizar a irregularidade.
Tolentino contou que fez a compra do imóvel em 2003, por R$ 115 mil, a pedido do ex-presidente do Banco Popular do Brasil, Ivan Guimarães, que alegava não ter a quantia necessária para a operação. A conversa teria ocorrido em um café na sobreloja do PT em São Paulo, na presença do então secretário-geral do partido Silvio Pereira. Depois de comprado, o imóvel foi alugado para o próprio Ivan Guimarães.
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O depoimento de Tolentino contraria a versão apresentada por Guimarães à CPI em agosto. Naquela oportunidade, o ex-presidente do Banco Popular disse que não conhecia o proprietário do imóvel que alugava. Diante das contradições, o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) sugeriu à CPI que promova uma acareação entre os dois. "A minha história é a verdadeira”, sustentou o advogado.
Mentor sob suspeita
Ele também desmontou a versão de Mentor de que teria recebido R$ 120 mil de Marcos Valério pelos serviços prestados por seu escritório de advocacia. Tolentino disse que o petista não prestou serviços para a sua empresa, e sim para a 2S Participações, que seria de responsabilidade somente do empresário mineiro. Ele contou que o deputado esteve em Belo Horizonte nos dias 12 e 17 deste mês para conversar sobre dois cheques de R$ 60 mil depositados na conta do escritório de sua propriedade.
Mentor chegou a emitir duas notas fiscais declarando ter prestado serviços jurídicos para a Tolentino e Mello, que teriam sido devolvidas, segundo o advogado. "Quando foi divulgado que um cheque de uma empresa do Marcos Valério caiu na conta dele o deputado se assustou e disse que foi de outra empresa", afirmou.
O petista pediu ontem à Corregedoria da Câmara que corrigisse um de seus comprovantes de pagamento. O papel se refere a um cheque de R$ 60 mil, dos R$ 120 mil relativos aos serviços advocatícios que ele alega ter prestado para o escritório de Toletino.
"Ele (Tolentino) quer que a 2S (empresa de Valério) seja responsável por esse pagamento", afirmou o petista. "Mas tenho a cópia do cheque provando que o dinheiro saiu da conta dele (Tolentino)", disse Mentor. O deputado, porém, reconhece que recebeu outros R$ 60 mil da 2S empreendimentos.
Tolentino assumiu ter feito contato com Mentor para que o seu escritório prestasse o trabalho. Talvez por isso, emendou, o deputado tenha se confundido ao dizer que o pagamento teria sido feito pela Tolentino e Mello Associação Empresarial. O advogado também admitiu que assinou o primeiro cheque pago a Mentor mas ressalvou que foi ressarcido, logo em seguida, pela 2S. “Mentor recebeu R$ 120 mil por conta e ordem de Marcos Valério. O que ele falar além disso é mentira”, disse Tolentino.
Bônus-Banval
O advogado também informou aos integrantes da subcomissão de Movimentação Financeira da CPI dos Correios ter tomado um empréstimo de R$ 10 milhões no Banco BMG, em 2004, a pedido do sócio Marcos Valério. O total do empréstimo, de acordo com o advogado, foi repassado pelo empresário à corretora Bônus-Banval, de onde o dinheiro teria ido parar nas mãos de pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Como, segundo o advogado, nem todo o valor teria sido repassado aos indicados por Delúbio, Valério teria pedido à corretora a devolução do que sobrou.
Segundo o deputado Gustavo Fruet, o dinheiro voltou ao empresário por meio de cheques de empresas que não tinham histórico de negócio nem com as empresas dele, nem com a corretora. Fruet observou que é preciso investigar se essas empresas não queriam, na verdade, transferir de maneira disfarçada recursos para o PT.
"Se fosse só uma operação comum de empréstimo, por que a Bônus-Banval estaria no meio do caminho e por que o dinheiro não voltou através de recursos da própria corretora? Não foi o que aconteceu. Os recursos foram devolvidos através de cheques de uma série de empresas que não têm relação nenhuma com Marcos Valério. Essa estória é estranha e merece ser investigada", observou o deputado.
Portugal Telecom
Rogério Tolentino também contestou versão apresentada pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que Marcos Valério seria emissário do PT ou do governo federal em Portugal. Tolentino contou aos parlamentares ter acompanhado o sócio em três viagens a Lisboa: em novembro e dezembro de 2004 e em janeiro deste ano. Segundo o advogado, Valério "conversou sobre contas da Vivo em publicidade".
A senadora Ideli Salvati (PT-SC) contestou a versão de Tolentino. Ela disse ser pouco provável que a viagem tivesse como motivo a compra da Telemig Celular pela Portugal Telecom, uma vez que as duas empresas teriam "incompatibilidades técnicas". Ideli também questionou o suposto empréstimo feito pela SMP&B a Tolentino quando ele era juiz do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Minas Gerais, cargo que ocupou entre 1998 e 2000. O advogado explicou que presta serviços à empresa desde 1988 e que provavelmente tratava-se de pagamento por algum serviço.
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