Em audiência pública realizada hoje (27) pela CPI do Sistema Carcerário, agentes penitenciários afirmaram que a falta de investimentos é maior causa da constante crise do setor. Os agentes também confirmaram as graves e frequentes denúncias sobre a realidade dos presídios brasileiros – como as crianças que se prostituem para ter algum tipo de proteção dentro ou fora do presídio.
Para o presidente da Federação Brasileira dos Servidores do Sistema Penitenciário, Luiz Fernando Correa da Rocha, se não houver investimento, os outros problemas não serão resolvidos. "O mais grave é a falta de investimento, tanto em estrutura como em pessoal", afirmou.
Sobre a presença de crianças e adolescentes nas visitas às cadeias, o presidente da instituição enfatizou que "vai contra o Estatuto da Criança e do Adolescente" a permissão para que essas crianças "convivam com uma realidade que sequer deveriam saber que existe", disse. Segundo Luiz Fernando, que também é agente penitenciário, o preso é muitas vezes obrigado a entregar seu filho ou filha para a prostituição à base de ameaças contra si e contra a sua família.
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Outra situação quase que corriqueira, não fosse a gravidade, são as crianças que nascem nos presídios brasileiros. "Nos presídios femininos é comum as crianças que nascem na cadeia crescerem lá mesmo. Algumas nem sabem o que é rua", afirmou Luiz Fernando.
Para o relator da CPI, deputado Domingos Dutra (PT-MA), denúncias graves foram feitas, e serão apuradas. "A questão das crianças que nascem e vivem nos presídios, além das que se prostituem, tem de ser investigada", afirmou.
Os agentes também reclamaram do descaso do Estado e da falta de preparo para exercer a profissão. Segundo Renato Neves Pereira Filho, diretor do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal, "o penitenciarismo é uma ciência. Estamos lidando com o cerceamento da vida de seres humanos", disse, enfatizando a importância de se valorizar a sua profissão.
Segundo o diretor, não há nenhum tipo de apoio aos profissionais do sistema penitenciário, seja treinamento anterior ao início da carreira ou mesmo acompanhamento médico e psicológico no transcorrer da profissão. Segundo Renato e outros profissionais presentes à audiência na CPI, a maioria dos agentes sofre de estresse, angústia e diversas doenças que adquirem dentro das penitenciárias. "A vida útil dos agentes penitenciários é muito curta", concluiu. (Ana Paula Siqueira)
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