Antes da internação na quarta-feira (14) para tratar de uma obstrução intestinal, o presidente Jair Bolsonaro amargava nas últimas pesquisas divulgadas seu pior momento de popularidade desde que tomou posse do comando do país. Na última pesquisa do Instituto Datafolha, por exemplo, 51% dos entrevistados consideravam seu governo ruim ou péssimo. Adjetivos depreciativos quanto à sua condução foram colados nele: 66% o consideram autoritário; 62% o acham despreparado; 58% incompetente; 57% indeciso; o mesmo percentual o considera pouco inteligente; para 55% é falso, e para 52% é desonesto.
O Painel do Poder, pesquisa periódica que o Congresso em Foco faz com 70 dos principais líderes e parlamentares influentes do Congresso Nacional, aponta agora que a percepção que o Parlamento tem no momento do presidente não é muito diferente daquela que tem a sociedade. Na rodada da pesquisa concluída na semana passada, cujos dados o Congresso em Foco começa a divulgar agora, na avaliação que os parlamentares fazem das autoridades brasileiras, apenas um nome teve avaliação pior que Bolsonaro, Ricardo Salles. Mas durante o período de coleta de respostas, ele deixou de ser o ministro do Meio Ambiente, não é mais uma autoridade da República.
Assim, a pior nota ficou mesmo para o presidente. Em uma escala de 1 a 5, em que o ponto médio seria 3, Jair Bolsonaro obteve dos parlamentares a nota 2,16. É uma situação que pode apontar para reflexos que geram dificuldades para o presidente na sua relação com o Congresso. Não por acaso, ultimamente o presidente tem reclamado muito dessa relação, fustigado principalmente pelas denúncias que saem da CPI da Covid.
O Painel do Poder mostra ainda que essa queda na avaliação que os parlamentares têm do presidente acaba puxando para baixo também a avaliação do governo como um todo. Houve uma queda generalizada no conceito que deputados e senadores têm dos ministros do governo. A única exceção foi a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, cuja avaliação subiu de 2,3 para 2,45 comparada à rodada anterior. Mesmo aqueles ministros que costumam ser bem avaliados conforme a pesquisa do Painel do Poder tiveram queda. Casos de Tereza Cristina, da Agricultura, e Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional.
Todos os parlamentares ouvidos de oposição assinalaram nota 1, a pior, a Bolsonaro. Nenhum dos parlamentares que se declararam como independentes deu nota máxima ao presidente. E mesmo entre deputados e senadores da base do governo, houve quem atribuísse nota 2 a Bolsonaro.
Embora seja sistematicamente mais bem avaliado que o presidente, o vice-presidente Hamilton Mourão também sofreu os revezes da queda de avaliação. Na verdade, as curvas de avaliação do presidente e do vice se assemelham. Quando Bolsonaro sobe, Mourão sobe também. Quando cai o presidente, o mesmo acontece com o vice. Mas sempre com uma vantagem na curva para o general. Como se pode ver no gráfico abaixo:
PublicidadeContudo, o general Hamilton Mourão não alcança patamares excelentes (sua melhor média foi 3,1, irrisoriamente acima do ponto médio). Nos bastidores, parlamentares avaliam que parte da explicação para o não andamento do processo de impeachment é a ausência de quaisquer movimentos do vice-presidente nessa direção. Para o establishment político, um governo Mourão seria uma incógnita, razão pela qual seria preferível continuar com o ruim, mas conhecido.
Alterações têm efeito?
Os resultados demonstram que existe um impacto na reforma ministerial, como nos casos do Ministério das Relações Exteriores e no do Ministério da Saúde. O novo ministro das Relações Exteriores, Carlos França, obteve uma avaliação inicial de 2,88, ante o 1,9 de Ernesto Araújo, em sua última avaliação, de dezembro de 2020. Marcelo Queiroga, na Saúde, recebeu 2,93, ante o último resultado de Eduardo Pazuello, que foi 2,6.
Porém, há casos em que isso não apareceu (até o momento, ao menos), como no Ministério da Justiça e Segurança Pública, em que Anderson Torres recebeu média exatamente igual à de seu antecessor, André Mendonça (2,5).
Também há uma situação na qual a troca ministerial parece ter prejudicado. É o caso da Casa Civil, com Luiz Eduardo Ramos obtendo média de 2,31, ante a média de 2,6 de seu antecessor, Walter Braga (que agora como ministro da Defesa foi avaliado em 2,45, inferior ao seu desempenho na Casa Civil).
Realizada trimestralmente pelo Congresso em Foco Análise, o Painel do Poder é um importante termômetro para medir os humores e tendências do Congresso Nacional. Os deputados e senadores que respondem ao levantamento estão entre as lideranças mais influentes do Parlamento. Portanto, suas avaliações refletem o sentimento do Congresso como um todo.
Diversas questões relacionadas à pauta em discussão são abordadas na pesquisa. E a avaliação das autoridades é somente uma delas. Mesmo com relação a esse ponto, há bem mais detalhes e aprofundamentos no levantamento. Portanto, para conhecer tudo o que a pesquisa revela, é importante conhecê-la completamente. O que é possível.
Saiba como adquirir a pesquisa ou para contratá-la
Com a saída de Salles, a fila andou. Quem será o próximo?
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