O deputado Tiririca (PL-SP) chegou ao seu terceiro mandato com uma produção tão discreta quanto no primeiro: desde 2019, apresentou 27 projetos e relatou apenas dois. Em 2020, escreveu uma média de uma proposta por trimestre trabalhado e não discursou nenhuma vez nos plenários físicos ou virtuais da Casa.
Mas, entre os partidos mais fiéis ao governo Jair Bolsonaro, o parlamentar se destaca: é o único a fazer oposição do governo. Levantamento feito pelo Radar do Congresso, plataforma de dados do Congresso em Foco, mostra que Tiririca votou alinhado ao governo, desde o início de 2019, em 46% das vezes, muito abaixo da média do seu partido, que acompanhou Bolsonaro em 91% das vezes.
Entre partidos com mais de 90% de alinhamento ao governo Bolsonaro, apenas Tiririca votou mais contra do que a favor do Executivo. Nenhum dos deputados do Patriota (que tem 95% de governismo), PP e PSL (94%), PSC e Republicanos (93%), PSD e PTB (91%) é tão oposicionista quanto o humorista. Há deputados de oposição mais próximos a Bolsonaro que ele: Tabata Amaral (PDT-SP), por exemplo, votou com o governo em 54% das vezes, e nove deputados do PSB deram mais apoio ao governo que o deputado.
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Na regulamentação do Fundeb, no fim de dezembro, Tiririca se aliou aos opositores e deu voto sim à proposta. Quando o assunto foi o repasse de dinheiro do mesmo fundo a escolas religiosas proposta pelo próprio partido, nova contrariedade e um voto “não”. Quando a Câmara manteve veto aos reajustes de servidores, ele foi contra.
Sumido
O deputado está em seu terceiro mandato por São Paulo, onde sempre se elegeu com votações expressivas e calcadas em um voto de protesto. A Câmara registra que Tiririca teve cerca de R$ 10 milhões em emendas parlamentares liberadas no ano passado, a maioria para a área da saúde.
Durante todo o ano passado, apenas quatro projetos foram apresentados por Tiririca: um dispõe sobre ações do poder público de auxílio a vítimas de calamidades públicas. No início da pandemia, um projeto buscava auxiliar artistas de circo. Somente em dezembro o deputado voltou a apresentar uma proposta, desta vez para incluir noções de higiene básica na Lei de Diretrizes da Educação Nacional (LDB).
Apesar da baixa produção do deputado, 2020 não foi o ano menos movimentado em seu gabinete– em 2018, apenas duas propostas saíram de lá. Este é o quarto ano, em dez de mandato, que o deputado paulista apresenta menos de 10 propostas em um ano.
Tiririca não foi encontrado pelo Congresso em Foco para comentar sua linha de ação no plenário da Câmara. Segundo sua assessoria, o deputado não foi localizado por estar em uma viagem.
Pouco afeito aos holofotes da Câmara – antes da pandemia, não era incomum vê-lo sentado fora das cadeiras destinadas aos parlamentares, preferindo os assentos destinados aos assessores, fora do alcance das câmeras – o deputado (que também integra a equipe de um programa de rádio em São Paulo) não faz uso do púlpito da Casa há 21 meses e meio. Na sua última passagem por lá, na hora do almoço de 27 de março de 2018, desejou um feliz dia do Circo a seus pares em uma rápida mensagem.
“Hoje é o Dia do Circo. Que venham outros dias, outros dias, mais dias e outros dias!”, disse. Agradeceu o presidente da sessão, e nunca mais voltou. Nem mesmo os fotógrafos oficiais o flagraram por lá – sua foto mais recente é a que ilustra esta matéria, feita na votação do impeachment de Dilma Rousseff, em abril de 2016.
Tiririca também parece não sentir falta da capital federal: de acordo com os dados da Câmara, a última passagem emitida em seu nome foi há 11 meses, de Fortaleza para Brasília. No mês de novembro, o deputado declarou gastos de apenas R$ 562,70 com a cota parlamentar, em contas de telefone.
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