Rodrigo Coelho*
Os dados não mentem. O turismo foi um dos setores mais afetados pelas restrições econômicas adotadas na esteira da pandemia de covid-19. Em compensação, é um dos segmentos que mais rapidamente tem reagido à gradual retomada da normalidade da vida cotidiana, a partir de meados do ano passado.
É um comportamento mais que esperado. De fato, despesas com viagens e lazer são das primeiras a serem cortadas em momentos de dificuldades econômicas. A demanda pelo turismo, no entanto, não desaparece. Tão logo pessoas e empresas recuperam um mínimo de previsibilidade financeira, ressurge o anseio humano – e a necessidade profissional – por novos ares, novas ideias, novos rumos.
Em nosso país, os sinais da recuperação do turismo estão por toda parte. De acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (ABRACORP), o faturamento do setor chegou a R$ 869 milhões em março, apenas 2% inferior ao de três anos antes. Já em 2021, o segmento acumulara receita da ordem de R$ 4,3 bilhões, significativos 18% superior à do ano anterior. Por sua vez, da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV) chega a notícia de que o faturamento do setor no ano passado superou em 37% o de 2020. E o IBGE aponta uma elevação de 17,8% no faturamento global da indústria turística brasileira em abril – nada menos de R$ 13,2 bilhões –, em relação ao mesmo mês de 2021. Os destaques couberam aos subsetores de hospedagem e alimentação, com crescimento de 53,3% e de 13,4%, respectivamente, em suas receitas nesse período.
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A ressaltar, também, o recorde histórico de visitação aos nossos parques nacionais, com impressionantes 6,9 milhões de pessoas em 2021, um aumento de 56% em um ano. Dados da Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) também mostram um bom panorama no turismo internacional, com a chegada de mais de 530 mil visitantes estrangeiros só no primeiro bimestre de 2022.
São excelentes notícias, já que, como todos sabemos, o desenvolvimento turístico é de extrema importância para nós. Afinal, temos uma vocação natural para o turismo e temos tudo a ganhar com uma pujante indústria turística, dada sua interrelação com numerosas cadeias produtivas e sua capacidade de criar empregos em segmentos jovens e menos escolarizados da força de trabalho.
Esses números são alentadores, sem dúvida. Por mais positivos que sejam, porém, não podemos ceder à tentação de deitar no berço esplêndido (ou na rede aconchegante) da fantasia de que tudo vai voltar a ser como era. A deflagração da pandemia causou profundas transformações na demanda da indústria turística, que terão de ser atendidas por não menos profundas modificações na oferta de serviços turísticos. Mais importante que tudo, entretanto, é que essas alterações serão permanentes.
É razoável supor que, doravante, os turistas do século XXI levarão consigo o temor a doenças e os hábitos de prevenção higiênica adquiridos nos últimos dois anos. Aspectos de saúde pública e pessoal assumirão, portanto, papel central nas preocupações dos viajantes. A demanda turística se tornará mais individualizada, mais personalizada, com proeminência de nichos específicos até então secundários. Com toda a certeza, o turismo de experiência – com especial destaque para o contato com a natureza e a fruição de atrativos culturais e humanos – ganhará espaço quando comparado ao tradicional turismo estandardizado e massificado.
Estes elementos serão novos ingredientes para a escolha de destinos no exigente e competitivo mercado turístico global. Em consequência, a oferta turística terá de se adaptar às novas circunstâncias, tanto na esfera macro das políticas públicas e na estruturação de destinos turísticos como na esfera micro da reorganização e reconstrução dos provedores de serviços turísticos.
Em síntese, temos de entender que o turismo ressurge, sim, mas bastante diferente daquele a que estávamos acostumados antes da pandemia. Será fundamental, portanto, que governos e empresários contemplem a prioridade absoluta para o conhecimento dos novos alicerces da indústria turística e o desenvolvimento de políticas públicas consentâneas com os novos tempos que agora se iniciam.
Esse turbilhão de novidades não deve nos assustar, porém. O Brasil está singularmente preparado para se posicionar como uma das grandes potências turísticas mundiais. Nossa diversidade e riqueza ambiental, nosso patrimônio histórico e cultural, o dinamismo e a criatividade de nossa indústria turística, a hospitalidade e a tolerância de nosso povo e a estabilidade política do País são trunfos preciosos para a adaptação do Brasil aos novos rumos do turismo mundial.
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*Rodrigo Coelho é deputado federal pelo Podemos de Santa Catarina e presidente da Comissão de Turismo da Câmara dos Deputados.