*Paulo Dalla Nora Macedo
Na segunda-feira, 15 de maio, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, fez debates históricos com Reinaldo Azevedo e no Roda Vida da TV Cultura. Reinaldo valeu por uma bancada.
As manchetes fáceis indicam que o nosso grande problema de crescimento seria a baixa capacidade de investimento privado devido a uma taxa de poupança insuficiente, gerada por um Estado inchado. A receita superficial passa sempre por aumentar a capacidade desse investimento, criando mais espaço para o mercado por meio de menos gastos públicos.
O raciocínio é que liberaríamos a poupança, e, assim, aumentaríamos o investimento privado, o que bastaria para impulsionar o crescimento do país no longo prazo. Nesse contexto, o papel do Estado – e de seus mecanismos, como o BNDES – de fomentador do investimento em setores estratégicos é desconsiderado, ou, no mínimo, tratado como de marginal importância.
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Mercadante bem lembrou os casos da China, dos países europeus e até dos Estados Unidos, que fizeram forte direcionamento de investimentos públicos para setores estratégicos, com alta complexidade e conectividade. Registrou que todos essas nações utilizam esse mecanismo como parte da sua política industrial.
Nos dois encontros, Mercadante fez consideráveis – e necessários – questionamentos a essa análise superficial à qual me referi no início. Elenco, aqui, os cinco principais pontos, na minha opinião:
1) O crescimento limitado no Brasil pode não ser devido, apenas, a uma taxa de investimento baixa. Embora a taxa de investimento do Brasil não seja a ideal, talvez essa não seja a principal restrição, ao menos não tanto quanto o “como” se investe;
2) Concentrar investimentos em algumas áreas e fomentar a criação de um novo ”cluster” que possa se desmembrar e gerar mais crescimento é uma estratégia fundamental. O Brasil tem um histórico de fazer isso com várias indústrias, como o setor aeronáutico;
3) Essa abordagem de política industrial, que voltou a vigorar no mundo, pode melhorar substancialmente o índice de complexidade da economia brasileira;
4) Por isso, atuar para criar mais _clusters _ econômicos com alta complexidade e conectividade pode ser tão importante quanto aumentar a taxa de investimento;
5) O Estado deve usar os seus instrumentos, sendo o BNDES uma das principais ferramentas, para apoiar o setor privado a gerar novos empregos e promover inclusão social, em vez de apenas mirar na eficiência econômica de curto prazo.
É possível dizer que a tese de Mercadante foi observada no Brasil na primeira década deste século no Nordeste, região que cresceu mais do que o país, com melhora na distribuição de renda.
A narrativa convencional é que tal fato foi devido às transferências sociais do governo. Entretanto, não foi só por isso.
Assistimos a uma verdadeira mudança que veio dos novos clusters produtivos privados atraídos para a região, já que muitas empresas abriram instalações industriais no período.
A maioria desses clusters só veio por conta de investimentos estratégicos do Estado em portos e refinarias, por exemplo. O resultado foi que a complexidade da economia local aumentou substancialmente.
Mostrando porque é um dos grandes quadros de Estado do Brasil, o que Mercadante propõe é ampliar essa estratégia para todo o Brasil, o que não parece ser uma má ideia.
Paulo Dalla Nora Macedo é economista e vice-presidente do Instituto Política Viva.
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