A presença do ex-presidente Lula no evento de confraternização do grupo Prerrogativas serviu como uma espécie de pré-estreia da provável chapa entre Lula e o ex-governador paulista, Geraldo Alckmin, que foi seguido de alguns recados do ex-presidente que falou durante o seu discurso:
“Não importa se, no passado, fomos adversários. […] Se, no calor da hora, dissemos o que não deveríamos ter dito. O tamanho do desafio que temos pela frente faz de cada um de nós um aliado de primeira hora.”
E é claro que isso trouxe o debate que acompanha a provável chapa, para o centro das discussões políticas. E um dos principais problemas no entorno disso é a vaidade e o moralismo de alguns grupos. Infelizmente a política é assim, é diálogo.
Vaidade essa que fez com que um policial branco se sentir no direito de ensinar para Dona Tereza, presidenta do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade de MG, o que foi o encarceramento em massa da população negra.
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Do outro lado, Ciro Gomes e o seu PDT estiveram com Kátia Abreu, flertaram com Datena e com Alckmin. O grande e falecido Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) já declarou apoio ao Geraldo Alckmin e José Serra, já tivemos gente dentro da esquerda aplaudindo e apoiando a lava jato ao mesmo tempo que celebravam o levante neonazista na Ucrânia.
Lula, Dilma e o PT também tiveram os seus momentos, José Alencar, Temer, alianças com o PMDB e assim por diante…
Se pararmos para pensar, daria para contar nos dedos o que alguns consideram ser a tal “esquerda pura”, mas que nunca foram eleitos para o poder executivo ou tiveram uma bancada relevante nas casas legislativas.
O debate não é simples! Passa pelos ganhos eleitorais, governabilidade, benefícios e riscos no curto, médio e longo prazo.
E para que possamos seguir de maneira honesta, também precisamos nos desarmar de alguns alarmismos desnecessários.
Há quem fale sobre a articulação de Michel Temer pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff como exemplo de perigo que uma aliança entre Lula e Alckmin, não faz o menor sentido.
Infelizmente Dilma não fez uma boa articulação política, queimou pontes, brigou com políticos estratégicos e se isolou. Foi isso que permitiu o vice derrubar uma presidente que não cometeu crime. Para que tenhamos um novo temer, precisamos de uma nova Dilma.
Já Lula sabe fazer política, sabe articular. É um conciliador nato. Temer nunca cresceria diante de um Lula que gosta de políticos, que os recebe, atende e sabe negociar com eles.
Lula sempre foi de centro-esquerda, quase um socialdemocrata, chegou ao poder e fez história na política brasileira pautado pela conciliação e moderação.
Para viabilizar Haddad na prefeitura de São Paulo, apertou a mão do deprimente Paulo Maluf, em outros momentos trocou gentilezas com Delfin Neto.
Por fim, saiu do governo sem tocar a reforma agrária e, ao lado da Dilma, ficou estigmatizado pelo encarceramento em massa promovido pela inócua política nacional antidrogas.
Só isso já deveria derrubar por terra o argumento falacioso de que Lula representa um extremo e Bolsonaro outro. Argumento que também foi um dos culpados pela tragédia de 2018.
Diagnóstico
O Partido dos Trabalhadores é o principal partido progressista da América Latina e isso se construiu com muito diálogo e política.
As últimas pesquisas mostram que Lula não precisa de Alckmin para vencer as eleições, mas talvez para o dia seguinte e para a governabilidade do país.
É para isso que serve o cargo de vice em uma campanha, ampliar o diálogo o diálogo da campanha e governo com setores da sociedade mais afastados do núcleo da campanha ou até mesmo reforçar essa confiança em outros seguimentos.
O próprio Bolsonaro fez isso ao convidar Mourão e tentar reduzir a pecha de militar baderneiro. Alckmin seria a nova carta ao povo brasileiro e Zé Alencar ao mesmo tempo.
Por outro lado, quando falamos de desenvolvimento do Brasil, já está claro que o atual teto de gastos é inexequível, que a falta de Estado é o maior empecilho para o desenvolvimento do Brasil e redução da pobreza e criminalidade.
Algo completamente diferente do que já foi defendido por Alckmin em outras eleições, onde falou-se em privatizações desvairadas e toda aquela cartilha liberal que não deu certo em Chicago, nem no Chile do Pinochet e tampouco no Brasil do Paulo Guedes.
Teríamos – mais uma vez – um governo progressista refém de um mercado e que proverá avanços efêmeros que são apagados quando um delinquente assume o Palácio do Planalto? Também não me parece um bom negócio.
Difícil esquecer
Também é difícil esquecer as marcas da dinastia Alckmin no estado de São Paulo, importantes obras para o transporte público à passos vagarosos, a violência nas periferias como política de governo e a perseguição política como prática.
Na ocasião das ocupações escolares não faltaram casos de violência e abusos policiais em escolas, muitas vezes contra menores de idade.
Aos professores da rede estadual, todo reajuste salarial era acompanhado de muito sangue e sofrimento, obtidos às custas de greves ferozmente combatidas.
Eu mesmo pude assistir a violência de uma PM que se comportava feito uma Gestapo em eventos políticos e que foram várias vezes registradas por câmeras (veja o vídeo).
Além disso ainda temos o legado horroroso de Alckmin na saúde e na educação pública, além da segurança alimentar de milhares de jovens afetada pela frequente falta de uma alimentação adequada nas merendas escolares.
Por isso mesmo, não acho que só a “esquerda cirandeira” está incomodada com esse cenário, as vítimas da Pinheirinho e das chacinas de 2006 certamente não concordam com isso.
Queremos superar o bolsonarismo em todos os seus aspectos (principalmente a violência) de forma abrupta ou queremos fazer uma transição gradual?
A frente ampla
Por mais controversa que seja a provável chapa entre o ex-presidente e o ex-governador ela não deixa construir algo aclamado por muitas figuras do mundo político: a tão falada frente ampla.
Uma aliança entre direita e esquerda para superar a extrema direita de Jair Bolsonaro e que foi alvo de muitas cobranças ao PT para realizasse viabilizasse algo do tipo.
E por mais que me cause dor dizer isso, infelizmente em 2022 não teremos uma eleição para debater sobre o Brasil “ideal” que queremos, essa é uma eleição do Brasil “possível”.
Se tudo der certo, em 2026 poderemos ter uma eleição para discutir o que é ideal. Não fiquem bravos comigo por fazer essa afirmação!
Infelizmente eu não tenho uma resposta definitiva para esse debate, mas posso apontar os culpados.
Chegamos nessa situação por culpa da lava jato, do Ministério Público, Deltan Dallagnol e Sergio Moro que criaram o ambiente ideal para o surgimento da detestável da nova política e Jair Bolsonaro.
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