Tudo indica que a definição sobre a tal candidatura de terceira via na quarta-feira (18) será a crônica de uma morte anunciada.
O ex-governador de São Paulo João Doria, do PSDB, já deixou claro que não aceitaria uma escolha que não fosse ele mesmo. No fim de semana, insistiu que tem esse direito por ter sido o vencedor das prévias do partido, e ameaçou judicializar qualquer decisão em contrário. O primeiro problema é que Doria venceu uma prévia do PSDB, não do MDB ou do Cidadania. Não pode, assim, impor uma situação a parceiros de outras legendas.
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Mas, ainda que o nome definido dos três partidos venha a ser Doria, mesmo isso a essa altura não é garantia alguma. Primeiro, com esse seu estilo, Doria atropelou companheiros dentro do ninho tucano. Nas últimas semanas, até conseguiu unificar apoios importantes, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E até o deputado Aécio Neves (MG), seu desafeto, declarou que ele tem o direito de ser o candidato. Mas outros, como Aloizio Nunes Ferreira, já declararam seu apoio ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, no primeiro turno.
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No MDB, a senadora Simone Tebet (MS) disse que aceitaria a escolha que vier a acontecer na quarta-feira. Mas, de novo, o que isso significaria na prática? Em vários estados, os caciques regionais já se movimentam para abandoná-la. Alagoas é o exemplo mais notório em favor de Lula. Mas há quem descambe para o apoio ao presidente Jair Bolsonaro, ainda que não declarado.
Aquele que poderia ser o maior partido em torno da unificação, o União Brasil, já pulou fora. Vai com uma candidatura própria, de Luciano Bivar que, na prática, é um salvo-conduto para que também seus caciques regionais escolham os seus caminhos. No caso do União Brasil, o caminho mais provável é Bolsonaro.
Resta cada vez mais, como nome alternativo a Lula ou Bolsonaro, Ciro Gomes, do PDT. Mas, até agora, Ciro pouco se movimentou no sentido de tentar atrair esses partidos de centro. Por enquanto, é uma candidatura isolada, com um perfil mais de alternativa a Lula, que trafega abaixo dos 10%. Ciro teria essa capacidade de agregar esses apoios de centro? Pouco provável.
E o que torna pouco provável o avanço de Ciro é o mesmo que se mostra pouco provável quanto a essas alternativas do chamado centro democrático. Com ou sem sentido, o fato é que a disputa entre Lula e Bolsonaro foi ganhando um caráter plebiscitário. Que os dois candidatos à frente, nas suas estratégias, fazem questão de acentuar. Como já disse mais de uma vez Bolsonaro, é “a disputa do bem contra o mal”. É assim que ele quer ver a eleição. E é assim também, invertidos os sinais, que a quer ver Lula.
Os dois nomes à frente da disputa passaram a incorporar em torno de suas candidaturas determinados valores, sejam ou não de fato as melhores encarnações deles.
Mais do que um voto a favor de um, parece se cristalizar a ideia de que a escolha é contra o outro. Lula, no caso, é pintado como uma ameaça especialmente a determinados fatores da pauta de comportamento. Contra os ideais da tal família tradicional cristã. E por isso acabou pesando muito contra ele as recentes declarações que fez a respeito do aborto. Em março, na média, Lula perdeu quatro pontos percentuais entre os eleitores evangélicos.
Já Bolsonaro representa, na forma como a campanha de Lula o aponta, a opção pelo ódio e pela intolerância. Pela falta de respeito aos valores democráticos. E, nesse sentido, os movimentos que fez recentemente, concedendo perdão ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e voltando a forçar o discurso de desconfiança do sistema eleitoral, têm sido apontados pelos analistas como o fator que paralisou sua tendência de crescimento.
A verdade é que outros candidatos poderiam incorporar em torno de si tanto os valores conservadores da pauta de costumes quanto a defesa dos ideais democráticos. Mas vai-se reforçando a ideia de que é preciso definir isso logo. Cresce o discurso no sentido de que isso precisa ser definido no primeiro turno. Ou, se não der, que se trata de uma disputa entre Lula e Bolsonaro.
O espaço para alternativas fica assim estreitado. O problema é que há um quê de discussão infantil em torno disso. Complexos a ambíguos como qualquer ser humano, Lula e Bolsonaro não são a encarnação total desses valores. Há em torno da disputa uma carga alta de emocionalidade que não seria recomendável na escolha de alguém que vai governar o país pelos próximos quatro anos. Não somos assim tão maniqueístas.
O risco é de produção de uma enorme frustração. Ou de uma grande inconformidade para o lado que vier a ser derrotado. Ou ambos os sentimentos. Nas últimas eleições nos Estados Unidos, que já têm sempre um caráter plebiscitário, já que são basicamente só entre dois partidos, os dois sentimentos já se apresentaram de forma clara. A inconformidade resultou na invasão do Capitólio. E a frustração faz com que Joe Biden tenha uma avaliação hoje pior do que gostaria. E Donald Trump paire com chance de retorno.
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