O Palácio do Planalto teria oferecido cargos comissionados em troca da morte do ex-capitão da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ), Adriano Magalhães da Nóbrega. Morto após um suposto confronto com a Polícia Militar da Bahia, Adriano era acusado de comandar a maior milícia do Rio de Janeiro e de estar envolvido no assassinato da vereadora Marielle Franco.
Segundo áudios captados pela Polícia Civil do RJ e que a Folha de São Paulo teve acesso, Adriano sabia que o Planalto havia oferecido cargos comissionados em troca de sua execução. A informação foi compartilha pela irmã do ex-policial, Daniela Magalhães da Nóbrega, com uma tia.
“Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto para todo mundo. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto”, afirmou Daniela.
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A ligação gravada foi realizada no dia 11 de fevereiro de 2020, dois dias após a morte de Adriano. As escutas foram autorizadas pela justiça e fazem parte da “Operação Gárgula”, que investigava o esquema de lavagem de dinheiro e a estrutura da fuga de Adriano.
O ex-capitão também era suspeito de envolvimento no esquema das “rachadinhas” no gabinete do então deputado estadual, hoje senador, Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Em 2007, a ex-esposa de Adriano, Daniella Mendonça, assumiu um cargo no gabinete de Flávio; enquanto em 2016, a mãe do ex-PM também ganhou um cargo no gabinete. As duas são suspeitas de envolvimento nas “rachadinhas”.
Adriano morreu em Esplanada, município no interior da Bahia, após mais de um ano como foragido. Perícias realizadas no corpo levantavam a suspeita de tortura e que a morte foi uma execução. Em diversas ocasiões, antes e depois da morte, o ex-policial foi homenageado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e pelo senador Flávio Bolsonaro.
Oposição se pronuncia
Parlamentares da oposição receberam com preocupação a notícia da possibilidade de envolvimento do Planalto na queima de arquivo, pronunciando-se nas redes sociais sobre o episódio. Ivan Valente (Psol-SP), do mesmo partido de Marielle, considerou “estarrecedor” que “um bando de milicianos usando de qualquer meio para eliminar quem não interessa mais pra eles. Não é um governo, é uma quadrilha”.
Do PT, a deputada Natália Bonavides (PR-RN) questiona as causas do interesse do governo no assassinato de Adriano Nóbrega. “A que interessaria calar o miliciano, que tinha a mãe lotada no gabinete do filho do presidente?”. Alessandro Molon (PSB-RJ), ex-líder da oposição na Câmara, se pronunciou exigindo investigação imediata sobre a denúncia.
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