No artigo da última semana alinhamos números e evidências que revelam uma realidade inequívoca: o Brasil teve um dos melhores desempenhos econômicos, entre todos os países, de 1930 a 1980, transitando de uma economia agroexportadora para uma estrutura industrial sofisticada e diversificada, e, após a crise de 1979/80, perdeu o dinamismo e desenhou uma trajetória parecida com uma montanha russa: espasmos de crescimento acelerado entremeados por recessões profundas, resultando num desempenho em média perto da mediocridade e congelando o crescimento da renda por habitante dos brasileiros. Recentemente, inclusive recuamos: em 2013, antes da recessão do Governo Dilma e da pandemia, o PIB per capita brasileiro era, em valores corrigidos, segundo a FGV, de 48,4 mil reais, e o projetado para 2023, é de 46,4 mil reais. Ou seja, dez anos marcando o passo.
Salta aos olhos que algo deu errado. Vitórias foram obtidas. O fim da inflação aguda com o Plano Real, a universalização do ensino fundamental, a consolidação do SUS e a construção de uma rede de proteção social para apoiar os mais pobres. Mas enquanto países como Espanha, Portugal, Israel, Coréia do Sul, Cingapura, Austrália, entre outros, deixavam o grupo de países emergentes de renda média para jogar no time dos países desenvolvidos, perdemos o fio da meada e o nosso horizonte utópico de ser o “país do futuro”.
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Se algo deu errado, mudanças profundas se impõem. Mas para mudar é preciso que a ideia de mudança ganhe força social e política. E para isso, o primeiro passo é consolidar a consciência de que a transformação é necessária a partir de um diagnóstico o mais preciso possível dos erros cometidos e dos gargalos existentes. Quais foram os motivos que nos levaram a perder a trajetória do crescimento econômico sustentado e do desenvolvimento social mais intenso? Vou arriscar telegraficamente algumas linhas de explicação.
Em primeiro lugar, o baixo desempenho nos planos estratégicos da educação e da ciência e tecnologia. A economia contemporânea abandonou o padrão predominante de industrialização do século XX e afirmou o império do conhecimento e da inovação. Apesar da universalização do ensino ter ocorrido, o desempenho de nossas crianças e nossos jovens é sofrível nas avaliações de aprendizado. E nossa capacidade de inovação tecnológica é baixa, apesar de expressivas exceções como os exemplos exitosos da Embrapa associada ao sucesso de nosso agronegócio e da Embraer associada ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
O segundo motivo foi a convivência, de 1980 até 1994 e seu Plano Real, com uma inflação cronicamente aguda. Inflação alta, como dizia um grande economista da Unicamp, transforma o orçamento público em peça de ficção e o orçamento familiar em obra de humor negro, desorganizando a economia e a capacidade de planejamento além de comprometer a visão de futuro. O fantasma da inflação, volta e meia, nos ameaça, dependendo de aventuras governamentais equivocadas.
Logo a seguir vem a crise fiscal estrutural que se instalou. Vargas, JK e Geisel usaram todo o instrumental de política econômica – cambial, tributário, creditício, tarifário, monetário – e a capacidade de investimento público do Tesouro Nacional e das estatais para promoverem a marcha forçada rumo à industrialização e a modernização da economia. Em 2022, atingimos o menor nível de investimentos do governo federal de toda a história. Se gastarmos tudo em salários, previdência, benefícios sociais, custeio da máquina estatal, não sobra muito para estradas, saneamento, portos, ferrovias, moradia popular, projetos de pesquisa, qualificação da educação e da saúde etc.
Acabou meu espaço. Volto ao assunto no próximo artigo.
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