Lúcio Lambranho, enviado especial
León (Nicarágua) – Tobias Barríos estava preso na cadeia pública de León quando os sandinistas tomaram Manágua e comemoravam o triunfo da revolução no dia 19 de julho de 1979. Barríos, apesar de impedido de ver a festa dos seus companheiros, mantinha sua pistola dentro da cela e tinha acesso à rua se tivesse vontade. Essa estranha prisão tinha um motivo. Como um dos sete guerrilheiros sandinistas responsável pela linha de defesa da cidade na ofensiva final, Tobias tinha acabado de justiçar três soldados da Guarda Nacional.
Mesmo armado com uma metralhadora M-16, Tobias executou a socos e pauladas três guardas de Somoza que tinham estuprado e matado sua vizinha e a mãe da sua amiga alguns dias antes da tomada de León pelos sandinistas. O guerrilheiro não conteve o impulso violento ao reconhecer os agressores das mulheres. “Eu chorei de raiva, mas não me arrependo. Por isso, naquele dia não pude ir para Manágua comemorar nosso triunfo”, relembra o ex-guerrilheiro que vive hoje em León tentando sustentar a família como guia turístico na cidade colonial nicaraguense.
Com 52 anos, apesar de ter chegado ao posto de tenente do Exército da Nicarágua e combatido novamente os contrarrevolucionários até 1981, Tobias demonstra ressentimento ao ser questionado sobre o que acha do atual governo sandinista e de seus antigos companheiros de 1979, agora novamente no poder com Daniel Ortega. Apesar de dizer que lutou pela Pátria e não por interesses, ele reclama da falta de ajuda para os ex-combantentes. “Tem gente que nem foi para a guerra e recebe pensão e indenização do governo. Eu nunca recebi nada de nenhum governo. Nós revolucionários somos muito duros com nós mesmos”, reclama o ex-guerrilheiro.
Sobre o atual governo, Tobias aceita as alianças feitas por Ortega e ressalta os avanços na educação e saúde do povo nicaraguense. “Não temos um caso de polimielite há mais de 30 anos. A educação agora é gratuita. Para um país onde mais de 70% do povo vive com menos de um dólar por dia isso é muito importante”, avalia.
Hoje, Tobias garante que não perderá a festa que foi obrigado a faltar há 30 anos. “Vamos numa caranava de ex-combatentes e passaremos o dia perto do obelisco da Praça da Revolução. Temos muito o que comemorar, apesar das coisas não tão boas desse governo”, afirma.
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