“O general Jim Mattis estará se aposentando, com distinção, no final de fevereiro, depois de ter servido meu governo como Secretário de Defesa nos últimos dois anos”, Trump escreveu em seu Twitter.
O tweet do Presidente Donald Trump que anuncia a saída do Secretário de Defesa americana, Jim Mattis, é mais um indicativo de que haverá realmente uma saída das tropas americanas da Síria. Em uma carta escrita um dia depois que é anunciada a retirada das tropas, o secretário renuncia ao seu cargo lançando um protesto sobre a administração Trump.
“Porque você tem o direito de um Secretário de Defesa cujas visões estão melhor alinhadas com as suas sobre estes e outros assuntos, eu acredito que é certo para eu deixar minha posição”, disse Mattis em sua carta de demissão, divulgada pelo Pentágono.
A saída do general gera, a priori, dois sinais. O primeiro é que Donald Trump está desistindo de qualquer estratégia para o Oriente Médio, abandonando a Síria e se retirando do acordo com Irã. O segundo sinal é de que o atual presidente vai se isolar cada vez mais nas tomadas de suas decisões, visto que desconsiderou a opinião de seus conselheiros de segurança nacional, os senadores republicanos, os aliados americanos no combate, como exemplo, as forças curdas.
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A saída da Síria se constrói sobre o pretexto de derrota do ISIS – ou Estado Islâmico a quem preferir. Não é mentira que o grupo está mais fragilizado do que nunca, mas declarar vitória é que nem terminar um jogo na sua rodada enquanto está vencendo. E mais, a declaração deve ter surpreendido os principais articuladores do assunto, como o representante especial para engajamento com a Síria, James Jeffrey, que anunciava planos e objetivos diferentes para a região.
Se prosseguir com a decisão, os EUA abrem espaço para o crescimento do regime do Bashar al-Assad, um conflito iminente entre os Peshmergas (exército curdo) e o governo turco e por fim o maior estabelecimento da Rússia na região. Ademais, ele segue os passos erráticos de Obama no Iraque, que posteriormente contribui para o surgimento do ISIS. Se o presidente ouvisse seus conselheiros, talvez não perseguiria essa vitória de Pirro.
E agora, o general resignado lança em Washington uma nuvem chuvosa de incerteza sob um campo de guerra. Trump tem seus próprios pesadelos com o conselheiro especial Robert Mueller (o novo herói da CNN e do partido democrata), o aumento de juros do Fed – e a projeção para 2019 – assusta o mercado e faz as bolsas americanas despencarem sob o fantasma de uma nova recessão.
Por fim, o famoso e tedioso problema dos presidentes americanos, o “shutdown”, que significa a paralisação do governo por não conseguir a aprovação do orçamento em todas as esferas de poder.
O presidente, na semana passada, fez um “barraco” no salão oval ao afirmar que se orgulharia de fechar o governo em nome do dito Muro. Enquanto os líderes democratas balbuciavam assustados pela discussão estar exposta à mídia, Trump usou disso uma arma política para mostrar sua força frente ao público.
As cenas rodaram nos EUA por dias. Mas o que está causando todo alvoroço é que o presidente americano pede cinco bilhões para o muro (a demanda já chegou a 25 bilhões), enquanto os democratas dizem dar um bilhão e trezentos mil para segurança da fronteira.
Desde então, no meio do caos que os EUA estão imersos, o mercado ainda tem se preocupar com uma discussão sem qualquer relevância prática, visto que o orçamento proposto dos dois lados nem constrói um muro nem garante a segurança da fronteira. A quebra de braço entre Nancy Pelosi (líder democrata) e o presidente é danosa para o momento. Portanto, chego a minha pergunta inicial: o problema maior é o México ou a Síria? Na verdade, as lideranças políticas americanas.
A Casa Branca de Trump já parece fim de festa, talvez não sobre ninguém para apagar a luz. Ele desagrada os senadores republicanos ao declarar a saída da Síria, seu gabinete começa a esvaziar, o Mike Pence aguarda silenciosamente, os aliados antigos de Trump estão presos ou investigados.
E do outro lado, o mínguo partido democrata que ainda não se encontrou para além do “Fora Trump” e do discurso identitário que o distanciou de uma parte do eleitorado. Por ora, Trump sobrevive mais dois anos, sem qualquer estratégia para o vácuo que deixou no Oriente Médio e um muro utópico a ser levantado.
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