Com a renúncia do presidente dos EUA, Joe Biden, à campanha pela reeleição, o nome de sua vice, Kamala Harris, passa a ser o favorito no Partido Democrata para assumir seu lugar. Segundo o cientista político André Pereira César, que acompanha a disputa eleitoral estadunidense, a candidata entra no pleito em posição de desvantagem, e terá de investir em peso na unificação de seu partido se quiser derrotar Donald Trump, do Partido Republicano.
Kamala entra no jogo eleitoral em meio a uma ligeira desvantagem de seu antecessor nas pesquisas eleitorais, que em média atribuem a Biden 44% das intenções de voto, contra 47% atribuídos a Donald Trump, conforme levantamento realizado pelo The Economist. André Pereira César explica que o primeiro grande desafio para a candidata é atrair para si os votos que até então seriam destinados ao atual presidente.
Por um lado, o cientista político ressalta que a desistência de Biden era inevitável, visto que campanha dele enfrentava forte resistência não apenas do partido em si, mas de aliados próximos que o apoiaram em 2020. Por outro, nem Kamala e nem os demais nomes cogitados para assumir seu lugar contam com uma reputação à altura da sua. “Biden tem uma história dentro do Democratas, foi senador por múltiplos mandatos, assumiu por muito tempo a Comissão de Relações Exteriores, alcançou boa aprovação como vice-presidente de Barack Obama, foi leal às políticas do partido e fez uma boa gestão”, relembrou.
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Kamala Harris não é recém chegada na política americana, possui experiência no Judiciário local como procuradora de justiça, além de assumir mandato como senadora antes de alcançar a vice-presidência. Entretanto, ela concorre com outros possíveis candidatos dentro do partido com currículos equivalentes, e com a preferência de seus respectivos grupos políticos. A unificação desses grupos é um desafio inevitável para que ela possa construir uma candidatura forte em meio a um prazo apertado.
Estratégias de campanha
Caso consiga superar o desafio interno dentro do Democratas, André César antecipa que Kamala ou qualquer outro candidato terá duas vias de ação paralelas pela frente para conseguir arrancar votos de Donald Trump: uma é virar contra o seu adversário o etarismo adotado contra Biden, e outra é tentar se apropriar do discurso nacionalista tradicionalmente adotado pelo republicano.
“A primeira coisa para quem assumir a cabeça-de-chapa é se apresentar como juventude. Se até então o Biden era atacado por questões relacionadas à sua idade, então o primeiro passo é demonstrar a juventude, seja da Kamala, seja dos demais candidatos, pois todos eles são jovens. É mostrar que estão com energia, garra, juventude e unidade”, indicou.
Essa estratégia, porém, não é livre de riscos: ele relembra que, nas eleições presidenciais de 1980, o candidato democrata Jimmy Carter tentou utilizar o discurso etarista contra o republicano Ronald Reagan, que era quase dez anos mais velho. Reagan conseguiu reverter a situação, apresentando-se como um nome mais experiente do que o seu adversário.
A outra via da campanha, conforme aponta o cientista, é a apropriação por parte do Democratas do discurso de fortalecimento nacional, principal via da oratória trumpista. “Cabe aos democratas dizer que o programa deles é de fato capaz de ‘fazer a América grande’, e demonstrar que Trump não é capaz de fazer isso. Inclusive jogando para o exterior: explorando o contraponto à proposta isolacionista de Trump. O grande desafio, no entanto, é conseguir construir esse tipo de discurso no pouco tempo que resta até a fase mais intensa da campanha”.
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