O Exército israelense está impedindo a entrada de 30 caixas com filtros de água e freezers enviadas pelo Brasil como ajuda humanitária às vítimas dos bombardeios na Faixa de Gaza. A denúncia foi feita pelo deputado italiano Angelo Bonelli, que registrou, em vídeo (veja mais abaixo) e fotos publicados nesta reportagem, o material retido por Israel na barreira de acesso à cidade de Rafah, na Faixa de Gaza, com o Egito. “Há uma situação catastrófica. Dois mil caminhões estão bloqueados há mais de um mês e aguardam para poder entrar em Gaza para entregar ajuda humanitária”, disse o parlamentar do Partido Verde ao Congresso em Foco. “As autoridades israelenses rejeitam essa ajuda porque acreditam que é incompatível e perigosa para a segurança do Estado de Israel. Uma loucura”, acrescentou.
O integrante do Parlamento italiano conta que, ao todo, quase 400 caixas com ajuda enviadas por países como França, Alemanha, Kuwait, Singapura, Espanha, Itália e Arábia Saudita estão mantidas em um galpão da Cruz Vermelha na cidade egípcia de Al Arish, a cerca de 20 km de Rafah.
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Cilindros de oxigênio
Bonelli faz parte de uma comitiva de 14 deputados italianos que esteve, entre segunda e terça-feira, na região. Ele lamenta o silêncio das autoridades internacionais em relação ao episódio.
“No armazém estão retidos cilindros de oxigênio, camas para cuidados de longa permanência, incubadoras, geladeiras, barracas, muletas. Qualquer coisa que produza energia, incluindo painéis solares, não chegará a Gaza”, explicou Bonelli. Medicamentos também estão impedidos de chegar ao destino. “Eles também rejeitaram biscoitos de chocolate porque não eram produtos de necessidade básica”, acrescentou.
Produtos retidos, crianças mortas
Segundo ele, não há qualquer plausibilidade na justificativa usada pelo Exército israelense de que os produtos oferecem “risco” à segurança do país. “A Organização das Nações Unidas sabe o que está em curso, mas não pode fazer nada, porque vale o que o Exército de Israel decidir, e a decisão é definitiva”, lamentou o deputado, que já morou em Santarém (PA) e fala português fluentemente.
Ao menos 12 crianças morreram em um hospital pediátrico na Faixa de Gaza nos últimos dias. Uma em cada seis crianças com menos de 12 sofrem de subnutrição aguda grave no enclave palestino, conforme dados divulgados nessa segunda-feira pela Organização das Nações Unidas (ONU). A Organização Mundial da Saúde visitou os hospitais al-Awda e Kamal Adwan, no norte da Faixa de Gaza, no último fim de semana. Foi a primeira vez que a agência da ONU conseguiu fazer na localidade desde outubro de 2023, quando começou a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
Procurados pelo Congresso em Foco, o Itamaraty e a Embaixada de Israel no Brasil não se pronunciaram sobre o assunto até o momento. O texto será atualizado caso seja enviada resposta.
Sangue e crise diplomática
Desde que o Hamas atacou Israel, deixando mais de 1.400 pessoas mortas e sequestrando outras 240, já se passaram 150 dias de guerra. Nesse período, mais de 30 mil pessoas foram mortas e cerca de 72 mil ficaram feridas na Faixa de Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde da Palestina.
O governo de Benjamin Netanyahu tem ficado mais isolado internacionalmente. As críticas se intensificaram na semana passada, vindo inclusive de aliados, como os Estados Unidos, após o chamado “massacre da farinha”, quando cerca de 120 pessoas morreram e outras 750 ficaram feridas em meio a um bombardeio sobre população civil de palestinos que faziam fila para receber ajuda humanitária. Comunidades judaicas no Brasil também repudiaram o ataque.
Brasil e Israel vivem uma crise diplomática desde que o presidente Lula acusou Israel de promover um genocídio, e o governo de Benjamin Netanyahu, em resposta, chamou o embaixador brasileiro em Tel-Aviv e declarou o petista “persona non grata“. O embaixador de Israel em Brasília também foi chamado para dar explicações ao ministro das Relações Internacionais, Mauro Vieira.
* Colaboraram Willi Felipe, Carlos Lins e Pedro Sales
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